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Montezuma Cruz

Tráfico invade assentamento rural no Purus


 
 

MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

 

SENA MADUREIRA, Acre –Três ex-detentos da Penitenciária de Rio Branco estão atemorizando o Assentamento Rural Ivo Neves, onde moram 150 famílias de pequenos produtores rurais, no Km 38 da Rodovia BR-364, no município de Sena Madureira. O possível aliciamento de jovens desafia a polícia.
 

Segundo o presidente da Associação Deus Proverá, do Ramal do Ouro, José Valdenízio, o Duda, as famílias temem, principalmente pela situação de insegurança dos filhos em idade escolar. Ele e os vizinhos localizaram três baldes cheios de maconha no interior da floresta.
 

Duda não tem dúvida de que o tráfico estendeu seus tentáculos ao Vale do Purus, usando os próprios agricultores. Queixou-se na delegacia de polícia de Sena Madureira (a 144 km de Rio Branco), sem êxito. Ele reiterou a denúncia durante reunião dos dirigentes de associações rurais com o deputado Fernando Melo (PT-AC), na sede da prefeitura, sexta-feira à tarde.
 

— Fica difícil pra gente enfrentar o problema sem o apoio das autoridades. Sabemos que eles são marginais que saíram da colônia, mas entraram por esse caminho errado das drogas. Depois da maconha vão chegar outras drogas e o vício será uma dura realidade para nós todos — ele disse.
 

Reclamações sobre falta de energia elétrica, pontes, conservação de ramais (estradas vicinais) e saúde ficaram em plano secundário, quando o presidente da associação levantou-se para falar ao deputado, a quem classificou de “anjo protetor”, caso consiga solucionar o grave problema. Por óbvios motivos, Duda não nominou os suspeitos pelo tráfico.
 

— Desse jeito eu volto a ser delegado — comentou o deputado, que já foi secretário de segurança pública do Estado do Acre. É que a reunião, inicialmente prevista para os agricultores receberem os serviços de microtratores adquiridos pela Embrapa-AC, via emenda individual do parlamentar, desviou o foco para a questão da insegurança das famílias.  
 

Tráfico invade assentamento rural no Purus - Gente de Opinião
BR-364 não tem um só agente federal rodoviário entre Rio Branco e a região do Purus. Está vulnerável à criminalidade de toda ordem



Assaltos à mão armada
 

Nesta segunda-feira, Fernando Melo pedirá providências da Polícia Federal, para investigar e conter o tráfico na área.
 

Cerca de 80 crianças estudam na escola rural do assentamento. Ninguém mais tem tranqüilidade, relatou Duda. Ainda, conforme ele conta, já ocorreram assaltos à mão armada na vizinhança, praticados supostamente por jovens drogados.
 

— Houve roubo de máquinas, objetos, e até dinheiro, que eles usaram para comprar drogas e bebidas alcoólica — acusa.
 

Os moradores não sabem como reagir, porque percebem o envolvimento de vizinhos no tráfico. As queixas dos moradores no Ramal do Ouro foram respaldadas pelo vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Jesus César Feitoza, que também participou da reunião.

 
 

Acre e Rondônia, sob o flagelo da droga
 

Tráfico invade assentamento rural no Purus - Gente de Opinião
 Deputado Fernando Melo reage, ao ouvir as denúncias : "Desse jeito eu volto a ser delegado"

SENA MADUREIRA e ACRELÂNDIA — O tráfico de drogas, especialmente a cocaína, aumenta a cada dia na rota entre o Acre e Rondônia. A situação preocupa autoridades e moradores de cidades tomadas pelos “aviões” dos cartéis.
 

Sábado à tarde, o prefeito de Acrelândia, Carlos César Nunes Araújo (PSB), o Carlinhos, disse-me que estradas de chão próximas ao posto fiscal fazendário na BR-364 são usadas por traficantes e contrabandistas. O posto situa-se na divisa entre os estados do Acre e de Rondônia.
 

— O movimento de madrugada é muito maior que de dia. É caminhão e carro passando para lá e para cá — comentou. Sábado à tarde percorri a zona rural com o prefeito. Próximo à Vila Redenção, ele apontou para um automóvel totalmente amassado, que há dois anos foi abandonado ali.
 

— Nesse aí estavam dois rapazes de Plácido de Castro. Eles fugiam da polícia e capotaram. Morreram na hora. A droga foi apreendida — contou-me.
 

Situação semelhante ocorre em Assis Brasil, na fronteira com o Peru, a 300 km de Rio Branco. Ali, a prefeita Eliane Carius Gadelha (PT) reivindica maior contingente da PF, antes mesmo da abertura da Rodovia Transoceânica (saída para os portos do Oceano Pacífico), em 2011. (M.C.)
 

 

Corredor fronteiriço usa pessoas pobres
 

ACRELÂNDIA E RIO BRANCO — A PF recebe constantemente denúncias de tráfico na zona rural. Há pelo menos seis anos, sem-terra e camponeses acampados em Nova Mamoré, na BR-425, a 280 km de Porto Velho (RO) queixam-se da ação de traficantes em fazendas da região. No entanto, ao proceder as investigações e inquéritos, a polícia põe alguns deles como suspeitos.
 

O clima de insegurança em Nova Mamoré foi denunciado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, mas as providências demoram a chegar.
 

Parte dos redutos usados pelo tráfico na região norte do País, os estados do Acre, Amazonas e Rondônia possuem fronteira com a Bolívia, Peru e Colômbia. Segundo a PF, por Rondônia, no trecho entre Guajará-Mirim (fronteira com Guayaramerín, Beni) e Porto Velho, passa a maior quantidade de drogas. O que foi denunciado ao repórter pelo prefeito de Acrelândia.
 

Sobra serviço para as polícias civil e militar. Até o momento, a ação dos traficantes na burla às autoridades alcança parte da classe pobre, que se arrisca por pouco dinheiro a transportar cocaína e maconha entre as capitais do Acre, Rondônia e do Amazonas.
 

A atividade é atraente: três taxistas de Acrelândia, flagrados numa só operação, passaram dois anos na prisão e novamente estão envolvidos com traficantes. Para a polícia, não resta dúvida de que o tráfico paga muito mais do que o simples passageiro. A fronteira, como sempre, exige mais efetivo, veículos, armas e operações na hora certa. Ou seja, no escuro. (M.C.)

 
 

Tráfico invade assentamento rural no Purus - Gente de Opinião
16h, sábado: prefeito Carlos Araújo (d) mostra a zona rural ao repórter e aponta os caminhos usados por traficantes


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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