Domingo, 7 de outubro de 2007 - 18h16
(MONTEZUMA CRUZ - Agenciaamazonia) - Aneel e Furnas criam dúvida sobre o modelo recomendado pelo Ibama. Mais barata, Kaplan pode ser alternativa. Às vésperas do leilão que definirá quem vai construir a primeira das duas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não garantiu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a instalação obrigatória de turbinas bulbo. Segundo especialistas em barragens, esse modelo diminui até oito vezes o tamanho do lago.
O bulbo vinha sendo anunciado em debates técnicos e nas audiências públicas em Brasília e Porto Velho. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, confia na eficácia desse modelo.
Um vídeo mostrado na página da Aneel, na internet, fundamentado nas explanações técnicas do consórcio Furnas-Odebrecht questiona se a vantagem ambiental desse tipo de turbina teria respaldo em algum estudo. A dúvida foi lançada pelo representante da Construtora Suez, José Renato Cotrin. O consórcio é responsável pelo estudo de viabilidade da construção das hidrelétricas.
A técnica de Furnas, Helena São Tiago, atribui a "vantagem ambiental no uso de turbinas bulbo", descrita no relatório de impactos ambientais, a um estudo norte-americano que comprovou a eficácia do barulho desse tipo de turbina para espantar os peixes da tomada de água. Ela afirmou também que, no caso da turbina Kaplan, esse efeito não havia sido observado.
“Não é uma exigência”
Para a técnica, o modelo bulbo “não é uma exigência da licença". No vídeo, a Construtora Camargo Corrêa pergunta sobre a possibilidade de se usar turbinas Kaplan. A Aneel diz que vai estudar a sugestão. A decisão também depende de um acordo com o Ibama e só será tomada depois do leilão, conforme a Aneel.
O ganhador do leilão poderá apresentar uma variante que não seja de eixo horizontal, mas vertical. A turbina bulbo funciona com eixo na horizontal; a Kaplan, na vertical. Até o fim de semana, Furnas e Ibama não se manifestaram sobre o assunto.
Licenciamento
Para o ambientalista Glenn Switkes, da International Rivers Network – mencionado pelo site amazônia.org.br –, o licenciamento ambiental se baseou no estudo dos empreendedores: "As decisões do Ministério do Meio Ambiente se basearam mais em conveniência política do que em qualquer outro motivo técnico", diz.
Segundo Switkes, nunca se usou tantas turbinas em uma só usina. O projeto de Jirau prevê 44 delas, um recorde nacional. Ele acredita que as turbinas bulbo custarão mais que as Kaplan, usadas em grandes hidrelétricas brasileiras, entre elas, Tucuruí (no Estado do Pará), e sobre as quais as construtoras brasileiras têm maior conhecimento técnico.
A proficiência técnica, segundo o ambientalista, será decisiva no leilão. "Os empreendedores, a essa altura, já se sentem donos do projeto. Aqueles que ganharem o leilão, entrarão com licenças prévias. Assim, eles pensam que todas as questões ambientais estarão resolvidas. A tecnologia que dominarem melhor será determinante para entrar no leilão oferecendo energia mais barata", explica.
Kaplan ou hélice
Segundo estudos da Aneel consultados pela Agência Amazônia, em instalações de baixa queda, a casa de força é integrada às obras de tomada de água ou localizada a uma pequena distância. As turbinas são do tipo Kaplan ou hélice, com baixa velocidade, entre 70 e 350 rotações por minuto (rpm). As obras civis podem ser reduzidas pelo uso de grupos axiais do tipo bulbo e o custo dos geradores também pode ser reduzido, com o uso de multiplicadores de velocidade.
No Brasil, conforme esses estudos, um exemplo típico de aproveitamento hidrelétrico de baixa queda é o da Usina Hidrelétrica de Jupiá, no Rio Paraná, município de Três Lagoas (MS). Com reservatório de 330 Km2, a usina possui 14 turbinas Kaplan, totalizando uma potência instalada de 1.551 megawatts (MW).
O modelo mais utilizado é o Francis. Ele se adapta tanto em locais com baixa queda quanto em locais de alta queda. Como trabalha totalmente submerso, seu eixo pode ser horizontal ou vertical. Entre outros modelos de turbinas hidráulicas, destacam-se o Kaplan, adequado a locais de baixa queda (10m a 70m), e o Pelton, mais apropriado a locais de elevada queda (200 m a 1.500 m).
Kaplan e Pelton
No Brasil, um exemplo típico desse tipo de aproveitamento hidráulico é a Usina Hidrelétrica de Henry Borden, no Rio Pedras, município de Cubatão (SP). O primeiro grupo gerador foi construído em pouco mais de um ano e entrou em operação em 1926, com potência nominal de 35 MW. Em 1952, iniciaram-se as obras da seção subterrânea, que entrou em operação em 1956. Atualmente, a capacidade instalada nas duas seções é de 889 MW, o suficiente para atender à demanda de uma cidade com cerca de dois milhões de habitantes. Seu sistema adutor capta água do Reservatório do Rio das Pedras, e a conduz até o pé da Serra do Mar, em Cubatão, aproveitando um desnível de cerca de 720m.
Em instalações de média queda (maioria dos projetos hidrelétricos brasileiros), os principais componentes da construção civil são a tomada de água, as obras de proteção contra enchentes e o conduto hidráulico. As turbinas mais utilizadas são do tipo Francis, com velocidades de rotação entre 500rpm e 750rpm. No caso de velocidades mais baixas, pode-se usar um multiplicador de velocidade, a fim de se reduzirem os custos dos geradores.
Um exemplo desse tipo de barragem é o da Usina Hidrelétrica de Itaipu, a maior hidrelétrica em operação no mundo. A potência instalada final da usina é de 14 mil MW, com 20 unidades geradoras de 700 MW cada. As obras civis tiveram início em janeiro de 1975, e a usina entrou em operação comercial em maio de 1984.
(*) Com informações de Eduardo Paschoal, do Amazônia.org
Saiba mais
▪ As turbinas hidráulicas dividem-se entre quatro tipos principais: Pelton, Francis, Kaplan, Bulbo. Cada um destes tipos é adaptado para funcionar em usinas, como uma determinada faixa de altura de queda. As vazões volumétricas podem ser igualmente grandes em qualquer uma delas, mas a potência será proporcional ao produto da queda (H) e da vazão volumétrica (Q).
▪ Em todos os tipos há alguns princípios de funcionamento comuns. A água entra pela tomada de água, a montante da usina que está num nível mais elevado, e é levada através de um conduto forçado até a entrada da turbina. Em seguida, passa por um sistema de palhetas guias móveis, que controlam a vazão volumétrica fornecida à turbina. Para se aumentar a potência, as palhetas se abrem; para diminuir a potência elas se fecham.
▪ Após passar por este mecanismo a água chega ao rotor da turbina. Nas turbinas Pelton, não há um sistema de palhetas móveis, e sim um bocal com uma agulha móvel, semelhante a uma válvula. O controle da vazão é feito por este dispositivo.
▪ Por transferência de quantidade de movimento parte da energia potencial dela, é transferida para o rotor na forma de torque e velocidade de rotação. Devido a isso, a água na saída da turbina está a uma pressão pouco menor que a atmosférica, e bem menor do que a inicial.
▪ Após passar pelo rotor, um duto chamado tubo de sucção, conduz a água até a parte jusante do rio, no nível mais baixo. As turbinas Pelton, têm um princípio um pouco diferente (impulsão). A pressão primeiro é transformada em energia cinética, em um bocal, onde o fluxo de água é acelerado até uma alta velocidade, e em seguida choca-se com as pás da turbina imprimindo-lhe rotação e torque.
▪ As turbinas hidráulicas podem ser montadas com o eixo no sentido vertical. Um mancal de escora suporta todo o peso das partes girantes da turbina e do gerador que é montado logo acima dela. Em PCH (Pequena Central Hidrelétrica) turbinas são fabricadas com eixo na horizontal.
Fonte:montezuma@agenciaamazonia.com.br - Agenciaamazonia é parceira do Gentedeopinião
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