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Paulo Saldanha

Crônicas Guajaramirenses - O MIRIM já era


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Ora, pois! - diriam os lusitanos. Por que MIRIM, no caso de Guajará, se a cidade ora lembra Nova Iorque, ora Paris e, de vez em quando, Londres?... 

Afinal, são cidades com semelhanças, aparelhadas com equipamentos iguais, modernos, tecnologia ultra avançadas e com qualidade de vida superior. 

Que Deus me perdoe pelo esforço despendido!... 

Se Nova Iorque tem a maçã como referência, nós temos a macaxeira tão decantada agora (até que enfim!) pela Dilma. Se ali tem o Central Park, nós temos vários, como os do Pacaás Novos, Ouro Preto, Barreiro das Antas, etc. Se na cidade americana derrubaram as Torres Gêmeas – o World Trade Center - nós, integrantes desta geração, fizemos cair o Clube Helênico Libanês, o Cine Guarany, o Cruzeiro Clube e desativamos como equipamentos sociais o Guajará Clube e o Bancrévea. Fizemos muito mais: acabamos com o campeonato de futebol, antes tão intenso e disputado. 

Destruir será sempre conosco mesmo! 

Se Nova Iorque representa a metrópole mais populosa do EUA, Guajará tem uma das menores densidades populacionais da Amazônia. 

Se Paris é conhecida como a Cidade Luz, em Guajará, de vez em quando, falta luz... Se Paris tem prédios com cobertura de ouro, em Guajará temos uma rua calçada com ouro incrustado nas pedras que fizeram a base para a sua pavimentação. Se em Paris separa-se a cidade através do rio Sena, nós aqui não separamos, mas unimos dois países via o rio Mamoré. 

Nos arredores de Paris existe o Palácio de Versalhes. Ora, Guajará não fica atrás: embora sem ser nos arredores da cidade, temos acima de Surpresa um povoado chamado de Versalhes (talvez porque tenha a mesma opulência). Se em Londres temos o Observatório de Greenwich, onde a humanidade marca o meridiano primário, 0° longitude e GMT - e há ainda o Big Bem, que badalou em 1859-, aqui reina a torre da Igrejinha que abriga um relógio implantado por Dom Rey, hoje caladinho e quietinho, em vias de recuperação. 

Lá eles cumprem os horários com a fleuma que os inspira há mais de 2000 anos, enquanto que aqui “nos orgulhamos de tanta beleza” e nunca chegamos pontualmente numa solenidade. 

Lá o Tâmisa desfila límpido, totalmente recuperado; aqui vemos o Igarapé Palheta candidamente poluído a separar a área urbana da área rural. Até os poucos peixes que por ali transitam calçam luvas e vestem macacões feitos de látex para sobreviver, e não dispensam óculos e máscaras para não se contaminar. 

Em comum com Londres, com seus mais de 10 milhões de habitantes, Guajará, com quase 40 mil habitantes, resulta da diversidade boliviana, grega, libanesa, hindu, reforçada com a presença de intrépidos nordestinos. 

Se lá tem metrô, o nosso (de superfície) nós o sepultamos em 10 de julho de 1972 e era bem mais extenso, pois nos ligava a Porto Velho. A nos tornar iguais à capital inglesa temos um aeroporto, posto que o de lá é o mais movimentado do mundo e este nosso, apesar de uma pista para receber jatos, com seus 1850 metros, é o mais abandonado do planeta, praticamente utilizado só pelos políticos de plantão quando se dignam visitar o município. 

Mas ai daquele que invadir o nosso espaço aéreo... 

Lá tem a Igreja de São Paulo e a de Santa Margarida, dois templos que produzem aquele orgulho maior, que é igualado pela grandiosidade da nossa emoção ao mostrar aos turistas a famosa Catedral de Nossa Senhora do Seringueiro. 

Então, senhores, que não venham americanos, franceses ou ingleses desejando nos humilhar com a história de suas conquistas, posto que, como contraponto, iremos mostrar as nossas mazelas que são seqüelas da falta de ação, da omissão e da nossa negligência, das quais eu não sinto nenhum orgulho, mas, ao contrário, vergonha... muita vergonha!... 

É preciso que extirpemos o MIRIM dos nossos cérebros. Mirim de pequeno, acanhado, quem sabe até tosco, que nos diminui, anula, deprime e fossiliza.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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