Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Crônicas Guajaramirenses - Os gaúchos aqui na Amazônia Ocidental


Crônicas Guajaramirenses - Os gaúchos aqui na Amazônia Ocidental - Gente de Opinião

Os DNAs dos gaúchos estão espalhados por todo o território nacional e aqui na Amazônia Ocidental estão muito bem representados, senão vejamos:

No Acre, Plácido de Castro liderou um movimento que culminou com a compra pelo governo brasileiro daquela área geográfica, então pertencente à Bolívia, após ter-se transformado em líder paramilitar de seringalistas e de seringueiros. Tornou-se protagonista de uma conquista que a história reverenciou.

E me danei a fazer pesquisas sobre esse José Plácido de Castro, gaúcho, nascido em São Gabriel, no dia 09 de setembro de 1873. Morto numa emboscada, no Acre, no seringal Benfica em 11 de agosto de 1908, aos 35 anos.

Tido como líder idealista, antes de se tornar político foi militar; depois, vitorioso na chamada de Revolução Acreana, tendo, em seguida governado a região chamada de República do Acre.

Seu pai, Prudente da Fonseca Castro, um veterano das campanhas contra o Uruguai e Paraguai, comandava uma família cristã, ao lado de sua mãe Zeferina de Oliveira Castro. Plácido de Castro descendia de uma família de guerreiros, a partir de seu bisavô Joaquim José Domingues na bem sucedida cruzada das Missões.

Plácido de Castro antes de chegar à Amazônia passou pelo Rio de Janeiro, lutou na Revolução Federalista ao lado dos Maragatos e, retornando ao Rio de Janeiro fez os estudos que o prepararam para a agrimensura. E, na busca de outros desafios veio para o Acre na tentativa de se tornar vencedor nessa profissão.

Nesse período, o Acre, sob a liderança de Luis Galvez Rodrigues Àrias, um espanhol, que logrou êxito temporário e proclamou a República do Acre. Enfim, o Governo do Brasil depôs Galvez e restituiu aquela geografia aos bolivianos.

Plácido de Castro, já com 27 anos, enquanto demarcava o seringal Victória, tomou conhecimento de um acordo entre a Bolívia e os EEUU visando o arrendamento do Acre mediante o pagamento de 60% dos lucros para a nação castelhana e 40% para o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do Presidente americano de nome Willian McKinley. Sentindo que aquele acordo seria maléfico aos nossos interesses brasileiros, arregimentou combatentes e foi vencendo a guerrilha, apesar de comandar número inferior ao das tropas bolivianas, até que ao mobilizar mais de 30.000 homens venceu  as guarnições bolivianas, então sob o governo do general José Manuel Pando (hoje nome de um Departamento naquele País), sagrando-se vencedor e assumindo o comando do surreal País Independente do Acre, depois dissolvido pelas tratativas diplomáticas do Barão do Rio Branco.

Até que, em 1903, o Barão do Rio Branco negocia a compra de todo o território já conquistado por Plácido de Castro, por dois milhões de libras esterlinas e mediante ainda a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, como uma contra-partida em favor daquela Nação, com vistas a sua saída para o Oceano Atlântico, via os rios Madeira e Amazonas.

Em 1906 tomou posse como Governador do recém criado Território Federal do Acre. Seus restos mortais a seu pedido (enquanto agonizava), foram levados para Porto Alegre e, no jazigo em sua homenagem, se encontram no cemitério da Santa Casa de Misericórdia da capital gaúcha. O Governo do Brasil o homenageou entronizando-o no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. E o Exército o distinguiu tornando-o Patrono do 4º Batalhão de Infantaria de Selva, implantado na capital do Acre, sendo distinguido também pela Policia Militar daquele estado da federação, merecendo ainda ser nome de um dos mais promissores de seus municípios, além de outras homenagens que recebera post morten.  

                                                                                                                                  Outro gaúcho ilustríssimo será sempre o saudoso coronel Jorge Teixeira de Oliveira, nascido em General Câmara em 1º de junho de 1921, que, vindo para esta Amazônia de Deus, Pai e Criador numa das suas primeiras missões, como todas sacrossantas, implantou, como seu primeiro comandante, o CIGS– CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GUERRA DE SELVA–  e, depois o Colégio Militar de Manaus, demonstrando sempre invejável criatividade, arrojo, audácia, pertinácia, devotado e acrisolado amor ao seu País.

Nova missão o levou à Prefeitura da capital manauara, cujo exercício positivo sob todos os aspectos, abrindo avenidas, asfaltando outras, lutando contra a paralisia e conservadorismo de alguns, deu uma nova característica a Manaus, urbanizando-a e a transformando num paisagismo tal que chegou inclusive ao Cemitério Parque nas proximidades do antigo Hotel Tropical, quando abriu e asfaltou uma estrada que contornava parte da capital do Amazonas. Fez pontes, de concreto (e afetivas), mexeu com a saúde e com a cultura amazonense. Implantou o Projeto Iranduba, destinado a produzir o abastecimento de legumes e frutas, em Manaus tão escassos.

Sua vitoriosa trajetória como aguerrido Prefeito o levou a ser escolhido como o último Governador do Território Federal de Rondônia e o primeiro mandatário da “Nova Estrela Nos Céus da União”, quando continuou a implantar as suas bases políticas/administrativas, fixar a formação de sua infra-estrutura econômica, agrária e administrativa, em que pontificariam a mineração, pecuária e a agricultura. No campo da infra-estrutura mandou edificar pontes, trouxe a primeira hidrelétrica (Samuel), conseguiu, mercê de seu prestígio o asfaltamento da BR-364 e o Hospital de Base, além da COHAB, BERON, BERON-CRÉDITO IMOBILIÁRIO, CMR, as primeiras casas via BNH (conjunto Santo Antônio e Marechal Rondon). Criou diversos municípios no Estado, sempre focado no progresso e no desenvolvimento.

Faleceu aos 65 anos, no dia 28 de janeiro de 1987 e está sepultado no Cemitério São João Batista, na capital fluminense e se tornou referência de brasilidade e devoção de espírito as causas públicas, inclusive dentro da Maçonaria.

É nome de avenida, de município, escolas, aeroporto. Ficou eternizado nas lembranças de um povo, que passou a amá-lo e a idolatrá-lo.

Eu sei que aqui e nos demais entes brasileiros muitos outros gaúchos chegaram e tornaram-se vencedores. E os aplaudo pela garra, vontade de afirmar e transformar. Daria um livro escrever sobre a presença dos homens dos pampas em Goiás, nos dois Mato Grosso, Tocantins, Piauí, Pará, etc. etc., inclusive mantendo viva a chama da sua cultura através dos CTG.                              

Outro gaúcho a quem devo render as minhas homenagens é o Everton Leone, este vivo, jornalista talentoso, empreendedor e realizador, esse garoto com origem farroupilha, que chegou a Rondônia, devagar, devagarinho, trazendo sonhos, fé e muita esperança. Fez e aconteceu sem perder a ternura e a humildade e construiu um império que dá gosto decantá-lo, pois, –meninos, eu vi – que tudo aconteceu fruto de um trabalho intenso e voluntarioso, com raça, idoneidade e perseverança, acuidade e planejamento. Mas, deixarei para uma nova crônica, num outro dia.

Esse Everton Leone também merece um reconhecimento maior que a área geográfica desta amazônia!...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

O M que lembra a palavra Mãe é o mesmo M que, conforme o Cantador nos ensina: é onde na palma de nossa mão principia o nome Maria.M que se une a ou

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Azul, o nosso céu é sempre azul... Diz uma estrofe do Hino de Rondônia. Será?Bem antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos ensinar que:

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Por quê os prédios públicos são tratados pelos homens e mulheres do meu tempo com tamanha indolência? Preguiça, ou será má vontade?Por quê o edifíc

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Sempre me comovo ao observar o encontro das águas, que, no caso rondoniense, são os beijos gelados entre os rios Guaporé e Mamoré e deste com o rio

Gente de Opinião Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)