Terça-feira, 6 de março de 2018 - 19h06
RESENHA POLÍTICA
ROBSON OLIVEIRA
REPERCUSSÃO – Nas mídias sociais tem repercutido com mais intensidade a suposta tramoia urdida pelos deputados estaduais Jesuíno Boabaid e Maurão de Carvalho para enquadrar o governador Confúcio Moura e forçá-lo a permanecer no cargo até o fim do mandato para o qual foi eleito. De acordo o grampo que captou a conversa, a trama consistia em chantagear o governador com a abertura de CPI’s – Ponte do anel viário de Ji-Paraná, um terreno adquirido de forma supostamente acima do valor de mercado e um empréstimo do BNDES conhecido como Programa Integrado de Desenvolvimento e Inclusão Socioeconômica (PIDISE). O objetivo da trama seria evitar a assunção do vice-governador à titularidade do cargo. A repercussão tem sido estrondosa.
AOS FATOS – Não é de hoje que a Assembleia Legislativa de Rondônia frequenta as páginas dos noticiários envolvida em escândalos. Prova disso é que os três últimos presidentes cumprem penas severas. Mas na atual gestão não havia surgido concretamente um fato que envolvesse o atual presidente em malfeitos até aparecer essa gravação entre ele e um deputado numa suposta combinação de chantagear o chefe do executivo, o que é algo extremamente reprovável e exige uma apuração interna e externa para que tudo seja esclarecido.
ASSEPSIA - Posto isso, os diálogos capturados, embora de forma ilícita, são gravíssimos. Há neles evidências de que o parlamento teria deixado de cumprir suas funções de fiscalização do executivo mesmo sabendo de fatos supostamente ilegais cometidos pelo governador. Em geral, os deputados não gozando de boa reputação – registre-se que não todos -, o escândalo anunciado corrobora ainda mais para este desgaste e, para minimizar os estragos, exigirá que tudo seja devidamente apurado: tanto a tramoia dos envolvidos na chantagem quanto as denúncias envolvendo o chantageado. É preciso passar tudo a limpo. Afinal, quem não deve não teme.
RECUO – Algumas manifestações feitas por aí criticam de forma ácida os dois deputados estaduais – Jesuíno e Maurão – pelo recuo do governador Confúcio Moura da pré-candidatura ao Senado Federal.
SUCUMBINDO - Não sabemos se por cretinice ou desfaçatez, as manifestações colocam o governador Confúcio Moura como vítima de uma armação com objetivos de chantageá-lo a permanecer no cargo até o final de mandato. Ora, caso seja verdadeira a hipótese de que o governador recuou da pré-candidatura senatorial por chantagem, a única dedução possível é de que “alguma coisa está errada no reino da Dinamarca”. Ninguém sucumbe a chantagem quando ela não contém em seu conteúdo alguma veracidade. Ao sucumbir aceitou a safadeza. Daí não adianta explicações cretinas nem insolentes.
INOCENTE – Embora o deputado estadual Hermínio Coelho (PDT) seja um daqueles parlamentares dado a embustes e impropérios, o que já lhe rendeu uma condenação judicial, o envolvimento do seu nome nesta trama foi feito por terceiros e, pelo diálogo grampeado, sem o seu consentimento. Seria usado como uma peça chave na trama por ser publicamente o único opositor ao governador na Assembleia Legislativa e por utilizar um vernáculo nada convencional para um parlamentar contra seus desafetos. Não há nada que o incrimine a chantagem. Aliás, é bom que se diga, esses fatos presumidamente criminosos foram temas de duros discursos do deputado. Não se furtou inclusive de requerer uma CPI para passar tudo a limpo, mas os pares optaram em segurar a investigação para proteger Confúcio Moura de eventuais desgastes políticos.
ROMPIMENTO – Ao desfazer os atos de nomeações na PM e DER feitos pelo vice, o governador agiu sem aviso prévio. O motivo do rompimento entre os dois foi um conjunto de fatores e não apenas as chantagens de dois deputados estaduais. Nas coxias do Palácio Madeira a coluna apurou que a forma açodada pela qual Daniel Pereira assumiu a postura governamental depois que Confúcio Moura anunciou que renunciaria no dia 12, foi o principal motivo das relações azedarem. O titular do cargo teria ficado irritado com as movimentações políticas do vice e com a postura autoritária com que Daniel passou a se comportar. Acrescente-se aí as intrigas que em política são elementos devastadores. Quem conhece os meandros da contenda sabia antecipadamente que cedo ou tarde os dois se bicariam, visto que Daniel possui em sua gênese a vocação para o embate, típica dos sindicalistas. Esta coluna cantou a bola.
INGÊNUO – Faltou a Daniel Pereira experiência para lidar com as idiossincrasias do poder e maturidade para evitar choque com Confúcio Moura. Vaidoso por natureza, Daniel deixou o poder subir ao cabeção e passou a se comportar como governador de fato e candidato à reeleição imbatível. Nas urnas nunca conseguiu votações expressivas e virou vice-governador por indicação do senador Acir Gurgacz (PDT), razão pela qual na primeira entrevista concedida após a confusão descartou a candidatura a governador. De acordo com ele, agora está livre para disputar o Senado, Câmara Federal ou Assembleia Legislativa. Pura ingenuidade!
ESCUTA – Nessa “estória” não há santo. Restou claro que a gravação – tudo indica ser uma escuta ambiental sem autorização judicial – somente veio a público depois que as relações entre governador e vice azedaram. Ao que parece vazada propositalmente para provocar esta situação beligerante entre os dois poderes e criar um clima de conspiração. Esqueceram um pequeno detalhe: dois deputados envolvidos na trama não eram suficientes para afastar um governador e nas escutas não há indícios de que a maioria regimental para um afastamento estivesse em conluio com aqueles. A escuta é criminosa e tem que ser também apurada porque quem a fez pode ter grampeado outras autoridades.
ALOPRADOS - Alguns aloprados que aguardavam ser convocados para compor o governo de Daniel Pereira estão revoltados com Confúcio Moura nas redes sociais. Exigem que o governador renuncie e fazem cada prognóstico torto que revelam o desespero. Esquecem que o governador foi reeleito para cumpri um mandato de quatro anos, a renúncia é um ato individual. Amigos do governador garantiram a coluna que ele realmente fica no posto, mas Confúcio permanece em silêncio em meio ao turbilhão. Ademais, em política tudo é possível. Aguardemos!
CURIOSIDADE – Restou uma curiosidade para quem não frequenta os gabinetes palacianos: quem é Michele? Quais contas teria pago? Pela degravação dos áudios é uma personagem importante na corte. E não é a boba.
NOMEAÇÃO – O retorno do coronel Enedy ao comando da PM têm vários significados. Quem decifrar entenderá o gesto do governador renomeá-lo ao posto do Comando Geral.
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