Segunda-feira, 30 de novembro de 2020 - 16h32
FÊNIX
Poucos (ou quase ninguém) acreditavam há oito meses que o atual
prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), conseguiria a proeza de dar a
volta por cima e vencer as eleições com uma vitória retumbante, sem
contestação. Até o início de julho, em várias conversas com este cabeça chata,
o prefeito avaliava não sair à reeleição – esta coluna chegou a revelar esta
decisão do prefeito. Alegava ser contra o instituto do segundo mandato e emitia
sinais de exaustão pessoal, mas, ao que parece, estava apenas ganhando tempo
para que as obras em andamento revigorassem seu ânimo para a reeleição. O que
terminou acontecendo e o prefeito ressurgiu das cinzas feito um
fênix.
ESTRATÉGIA
Embora alguns analistas avexados e chegados a desenhar cenários
que depois não se confirmam tenham sustentado que o anúncio do prefeito em não
disputar a reeleição e divulgado por esta coluna tenha sido um estratagema para
que cessassem as críticas à administração de Hildon Chaves, a verdade é que ele
(Hildon) estava sim decidido a não concorrer. Chegou a marcar a data de final
de julho para anunciar, adiada exatamente por aconselhamento dos amigos mais
próximos. A mudança do calendário eleitoral pelo Tribunal Superior Eleitoral
culminou, ao nosso sentir, ajudando indiretamente o prefeito a mudar de opinião
e a colocar o nome para um segundo mandato, visto que coincidiu com a melhora
da avaliação da administração municipal em razão das obras estruturantes em
andamento, além das pressões partidárias que foram intensas. Nada a ver com as previsões
mirabolantes criadas pelos “feiticeiros” de plantão para justificar suas
previsões avexadas.
REUNIÃO
No início de agosto, ainda com a possibilidade de Chaves desistir
da reeleição, ocorreu um almoço entre a mais nova e proeminente liderança política
da capital, Vinicius Miguel (Cidadania), com o alto coturno do tucanato. Na
reunião, que este cabeça chata esteve presente, esboçou-se uma provável união
de forças políticas em torno da candidatura do jovem Vinicius. Um esboço
apenas. Nada além disso já que nenhum compromisso restou firmado. Dali em
diante as conversas não evoluíram e cada partido seguiu seu caminho com
candidaturas próprias. Mas nasceu naquele momento um respeito entre as duas
forças políticas que desembocou numa união de forças no segundo turno,
principalmente depois de uma campanha suja e com conteúdos falsos promovida por
adversários fundamentalistas contra a candidatura de Vini. O que influenciou no
resultado da votação do candidato do Cidadania, impedindo-o de seguir para o segundo
turno.
EDITORIAL
Um belíssimo editorial publicado pelo site RONDONIADINAMICA
descreve com exatidão as perdas políticas dos principais caciques rondonienses
com a reeleição de Hildon Chaves. No texto, o deputado federal Léo Moraes
(PODEMOS), principal liderança da capital que rivaliza com o prefeito reeleito,
é retratado como um dos derrotados nas eleições municipais. “Não foi um apoio
simplesmente vocalizado. O parlamentar trabalhou na campanha de Cristiane como
‘formiguinha’, agitador, balançando bandeiras, fazendo discursos em carro de
som (ressuscitou o famigerado Davi contra Golias de 2016), enfim, empenhou-se
de corpo e alma a fim de eleger a parceira e defenestrar de vez o desafeto de
quatro anos atrás”. Concluiu o raciocínio: “Não deu. De novo”... Um editorial
perfeito tanto na boa análise política quanto na estilística. Botou pra lascar,
diria o saudoso Paulo Queiroz.
TERCEIRIZAÇÃO
Na coluna anterior já avaliávamos que uma derrota da vereadora
Cris (abreviação de campanha criada pelo “magos" do deputado) resvalaria
no deputado federal Léo Moraes. Lembramos que, desde a derrota para o atual
prefeito em 2016 que as relações com o deputado azedaram. Sequer trocam alguma
palavra, exceto os rituais oficiais que exigem a cordialidade. Os dois têm
gênios parecidos e alimentam um contra o outro antipatia. É certo que esses
ingredientes belicosos de relações conflituosas entre os dois tenham levado Léo
Moraes a apoiar ostensivamente (ainda no primeiro turno) a Cris na tentativa de
defenestrar o desafeto,mesmo que de forma terceirizada. O resultado foi que
Hildon Chaves terminou derrotando os dois de uma só vez. Além do
governador.
STRIKES
Hildon Chaves numa só tacada derrotou na capital todo o grupo que
hoje dá sustentação ao governador Marcos Rocha, incluído aí Léo Moraes. Apesar
de não declarar abertamente voto em Cris, embora o fez de forma velada, o
candidato derrotado no primeiro turno e pupilo do coronel Breno Mendes passa a
ser daqui em diante, assim como Vinicius Miguel e Cris, concorrentes diretos de
Léo Moraes pelos votos de Porto Velho. Os três, aliás, já avaliam disputar uma
vaga no Congresso Nacional, o que tende a pulverizar os votos obtidos pelo
atual congressista quando voltar a disputa em 2022. Caso a hipótese se
concretize, é um strike na base eleitoral do deputado, um eufemismo do
principal lance do jogo inglês (boliche) que retrata bem a péssima jogada de
Léo em virar agitador de bandeira, orador exaltado e formiguinha de uma disputa
terceirizada. Já Marcos Rocha, independentemente da pandemia, permanece isolado
e em quarentena desde que assumiu rezando para que o homem lá de cima dê a ele
mais uma chance de vitória eleitoral aqui na terra. Já que a primeira foi um
milagre.
2022
Acaba uma eleição, no dia seguinte, começa a outra. Não sejamos
ingênuos em achar que a disputa das eleições estaduais de 2022 não tenha dado o
ponta pé inicial com as eleições municipais que acabam de se encerrar. Esta vai
refletir naquela. O atual prefeito de Porto Velho Hildon Chaves e o ex-prefeito
de Ariquemes Thiago Flores vão ser peças fundamentais e decisivas. Dificilmente
os dois deixem de ser especulados para disputar o Governo de Rondônia pela
musculatura política que ostentaram nas eleições municipais e por serem
oriundos de dois colégios eleitorais densos. Pode ser que nenhum dos dois seja
candidato, mas as eleições estaduais passam indubitavelmente por ambos. Quem
viver, verá!
SOMBRA
Marcos Rogério, senador que se elegeu e sumiu, articula para vir a
ser o candidato do grupo do DEM, PSD e PSDB a governador. Costurou algumas
coligações exitosas entres os aliados. Mas a reeleição de Hildon Chaves passa a
ser uma sombra nos projetos ambiciosos do senador em substituir em 2022 seu
chará Marcos Rocha. Rogério voltou a aparecer em Rondônia na hora da foto dos
eleitos, muito pouco para quem ambiciona muito mais que a sombra quer. Tem se
notabilizado como um fiel escudeiro do negacionismo e do extremismo religioso,
mesmo sendo um pecador impervertido.
RECADO
Várias forças políticas derrotadas nas eleições municipais
deveriam humildemente analisar o cenário e fazer autocrítica em razão do recado
das ruas. Vários fatores contribuem para uma vitória, assim como a derrota. No
entanto, no segundo turno, por ser uma eleição basicamente plebiscitária, é
possível tirar algumas lições, entre elas, a insatisfação do eleitor com o
discurso ultrapassado, sem perspectiva nova. Tem muito político novo que
envelheceu em menos de quatro anos e, a persistir não avaliando a insatisfação
do eleitor, em breve fará parte do passado. Aos vitoriosos as urnas também
mandam o recado contundente, mesmo reciclando velhos conhecidos, que um erro
nos mandatos será fatal na eleição seguinte. É melhor avaliar com humildade os
atos antes que seja tarde.
CASERNA
As urnas também revelaram que o eleitor não está mais apaixonado
em votar nos candidatos oriundos das policias, a exemplo do que ocorreu em
2018. A maioria expressiva de militares e civis que colocou o nome ao crivo do
eleitor não logrou o mesmo êxito de dois anos atrás. Não era pouco o número de
policiais na ruas pedindo voto; passado a campanha, seria muito bom para
sociedade que permaneçam nas ruas cumprindo a missão de manutenção da paz
social. Esta onda iniciada no vaco negacionista do presidente dá sinais reais
que está passando na mesma velocidade com que chegou. É preciso tirar as provas
dos noves em 2022 para verificar se realmente passou, antes que um sargento, um
cabo e um soldado leve a sério a proposta indecorosa feita por um parlamentar
maluco de invadir cortes superiores para depor seus membros constitucionalmente
investidos em funções de estado.
RECONHECIMENTO
A campanha de TV e Rádio de Hildon Chaves foi toda executada por
profissionais rondonienses sem que marqueteiros de fora fossem chamados para
palpitar. Pelo trabalho executado com profissionalismo e sucesso a coluna
parabeniza nossos colegas “minhocas”. No primeiro turno, igualmente primoroso
do ponto de vista estético, foi o programa de Ramon Cujuí. Embora tivesse
errado em insistir com a presença de Lula que, em Rondônia, ainda é muito
rejeitado.
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