Terça-feira, 28 de abril de 2020 - 18h44
ROLETA RUSSA
A decisão de prefeitos e governadores de flexibilizar o isolamento na
maioria das cidades do país pode custar ainda à população em geral muita
tristeza, em particular aos mais pobres. Os números de infectados aumentam
exponencialmente desde a retomada, mesmo paulatinamente. Os percentuais de
mortes também seguem a mesma curva ascendente.
PRESSÃO
Embora haja uma pressão para a reabertura das atividades comerciais,
nossas autoridades, com os dados científicos que dispõem deveriam aguardar mais
um pouco antes de flexibilizar. É inerente às atividades políticas a pressão e
mandatário incapaz de aguentar é incapaz igualmente de liderar. Nada for feito,
Rondônia, especialmente a capital, pode repetir a mesma tragédia manauara.
LERO LERO
A quantidade absurda de profissionais da saúde de Rondônia contaminados
pelo coronavírus revela que a nossa principal autoridade sanitária, Dr.
Fernando Máximo, não fez um planejamento adequado para que fosse evitado um
número tão alto de profissionais doentes. Há também muitas críticas em razão da
falta de EPIs, equipamentos obrigatórios destinados a proteger os profissionais
que estão no front atendendo à população. Nas entrevistas Máximo articula bem o
verbo, mas suas palavras não passam de um lero lero sem um resultado prático.
SHOPPING
A informação de que shoppings de Porto Velho poderão reabrir ao público
a partir da próxima semana é uma temeridade (para não dizer irresponsabilidade)
sem que as autoridades sanitárias exponham publicamente qual argumento
técnico-sanitário que fundamenta a decisão. A rede hospitalar estadual,
especialmente da capital, é uma tragédia. Nos últimos anos há constatação de
enfermos jogados pelo chão da unidade hospitalar do João Paulo, falta de
profissionais no CEMETRON e nas UPAs. Liberar atividades que propiciam
aglomerações no momento em que os números de infectados aumentam é invocar o
caos.
EXEMPLO
Em Blumenau, Santa Catarina, houve um aumento enorme de casos de Covid
19, após o governo editar um decreto autorizando a abertura de shoppings. Existe
uma cena que as televisões mostraram com centenas de pessoas entrando num
shopping, após a flexibilização do isolamento social. Era previsível, agora o
prefeito foi obrigado a tomar medidas mais duras para tentar minimizar os
estragos.
COINCIDÊNCIA
“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, a frase,
embalou, em 14 de julho de 1992, a estreia da minissérie “Anos Rebelde”, em
plena ebulição política com o governo do presidente Fernando Collor de Melo
mergulhado em uma crise política que culminou com o seu impeachment. A
minissérie fez um sucesso estrondoso ao retratar a luta de jovens contra a
Ditadura Militar e estimulou os jovens no dia 7 de setembro daquele ano a tomar
as ruas para pedir a deposição do presidente.
COINCIDÊNCIA
Hoje, na mesma emissora, estreia a minissérie “Aruanda”. Com o país
mergulhado em mais uma crise política, dividido entre esquerda e direita, e com
duas dezenas de pedido de impeachment, a trama é protagonizada por jovens e
belas atrizes e trata sobre ativistas que enfrentam destruidores da Floresta
Amazônica. É um tema que tem provocado irritação ao governo de Jair Bolsonaro
que, ao contrário das administrações anteriores, defende abertamente a
utilização do solo da Amazônia para pecuária e agronegócio e demoniza os
ambientalistas. Aruanda, em meio a uma pandemia, e à crise política, tem
combustão suficiente para turbinar protestos com o fez “Anos Rebelde”.
TRAGÉDIA
Os fatos atuais também coincidem com os passados: a denúncia que
culminou com o impeachment de Collor foi feita pelo irmão Pedro, portanto, fogo
amigo. A crise que assola o governo do capitão Bolsonaro foi aprofundada por
denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Fernando Moro, alguém que
dias atrás era a referência moral dos bolsonaristas. Os dois fatos revelam a
tragédia que tem transformado a atividade política do país em caso de polícia.
EPÍLOGO
Ainda é muito cedo para prever se o final do atual governo será igual
àquele que afundou o presidente eleito com fama de caçador de marajá, embora os
dois exemplos familiares estão no epicentro do tsunami. Uma coisa é certa: “a
vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, conforme profetizou
Oscar Wilde.
CURIOSO
É no mínimo curioso constatar os bolsonaristas utilizarem as redes
sociais para atacar o ex-juiz e ministro Sérgio Moro. Exatamente o algoz dos
petistas que decretou o isolamento carcerário das principais lideranças do PT,
em particular Lula. É cômico verificar que os ataques condenam visceralmente a
conduta do ex-ministro por delatar em horário nobre do JN o presidente
Bolsonaro, além de exigirem provas. Esquecem que os petistas atacavam o ex-juiz
com os mesmos argumentos de falta de provas para condenar Lula e por favorecer
a poderosa Globo com vazamentos de áudios tecnicamente sigilosos. Uma
curiosidade que desnuda a parvulez desses soldados das guerras virtuais.
OBRIGAÇÃO
Embora o governador Marcos Rocha tenha saído do isolamento em que se
meteu desde que assumiu a administração estadual para rechaçar qualquer
malfeito em sua administração relativo a compras sem licitação visando o
combate do covid 19, os órgãos de fiscalização estão no encalço averiguando as
denúncias feitas pelos deputados estaduais. Rocha culpou a imprensa que, na sua
opinião, inventa fake news para desgastar o governo. Não é o primeiro, nem será
o último, que ao invés de explicar as supostas denúncias ataca quem cobra
explicações. É uma obrigação prestar esclarecimentos quando instado a fazê-lo,
conforme a legislação que trata da transparência pública.
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