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Samuel Castiel Jr

A FESTA DO BALBINO


 

Samuel Castiel  Jr.

"Escolha  e selecione bem antes de convidar para sua festa!..."  

Gente de Opinião

Já era aposentado, mas como médico, continuava a trabalhar nesses postos municipais de saúde, pois tinha pavor do ostracismo e da solidão. Por isso mesmo Balbino estava sempre procurando fazer novas amizades. Nos finais de semana costumava frequentar os ambientes onde se encontrava com velhos amigos bebedores de cerveja. Ali ele se divertia ouvindo lorotas e também contando as suas. Nesse sábado, Balbino chegou mais cedo no Bar do Bigode, mas nem desceu do seu carro. Fez sinal chamando seu velho amigo e colega médico Luciano para ir até ele:

–-Amigão, você não sabe mas hoje é o dia do meu aniversário!

Passei aqui só pra convidar você. É um pequeno almoço que estou

fazendo na minha casa. Logo mais a partir das 13 horas. Você vai?

Chame também o Julinho e todos os outros amigos que estão com você.

O Luciano ainda tentou justificar que se encontrava ali com outros amigos e que talvez não pudesse se liberar tão cedo.

---Vou tentar Balbino, mas você sabe como é!…São muitas

estórias, cada um quer contar as suas e o tempo vai passando.

__Não tem problema algum: você convida a todos que estiverem

aí, em meu nome, e vão vocês todos lá pra casa. Vou comprar mais cerveja. Ah! Já ia esquecendo: leve o sax pois quero ouvir canções românticas ao sôpro do seu saxofone.

O Luciano, mesmo preocupado, voltou para seus amigos e, em voz alta, pediu a atenção de todos e fez o convite recomendado pelo aniversariante

Na mesa dos bebedores de cerveja, encontrava-se o Zé do Porco, um velho e fanfarrão amigo de todos. Depois de explicado onde era a casa do aniversariante, todos acertaram que iriam festejar com o Balbino. Além do mais, o almoço deveria ser farto!...

O Zé do Porco que se encontrava acompanhado de sua nova ”gata”, uma loura oxigenada, de baixa estatura, bem acima de seu pêso, perguntou ao Luciano se poderia levar com ele o seu novo amor.

---Claro Zé do Porco! O Balbino foi bem claro: convidou a todos, inclusive o dono do estabelecimento.
Ao chegar a casa do Balbino, por volta das 13:00h, já havia uma aglomeração de carros estacionados nos entornos da residência do Balbino. Bem na entrada da casa, postara-se a esposa de um amigo, dando o peito a seu filho, num gesto materno de amor. Mas o que tornava essa cena mais hilariante era o sol equatorial escaldante e um calor insuportável, fazendo a mãe e o bebê quase se derreterem.

Luciano ao entrar no recinto observou logo que havia vários amigos conhecidos da Loja Maçônica, a qual pertencia o Balbino. Num corredor da casa, estava postada a mesa decorada e fartamente servida, onde se podia escolher pratos de mariscos com grandes camarões, lagostas, lulas e mexilhões. Outros pratos de carnes bovina, suína, galetos e frangos. Frutas tropicais como mamão papaya, abacaxis, cajus e laranjas decoravam a mesa. Tudo impecavelmente preparado. O Balbino e sua mulher não mediram esforços nem economizaram para aquele almoço – pensou Luciano.

Apertado, la no final do corredor, um conjunto de pagode animado tocava e batucava os pagodes da época, que tinham como interpretes Zeca Pagodinho, Almir Guineto, entre outros tantos.

A casa do Balbino não era pequena, mas pela quantidade de convidados que não paravam de chegar, as pessoas começaram a se esbarrar, acomodando-se como era possível. O Balbino se desdobrava para receber e atender bem todas as pessoas que chegavam. Quando começou faltar assento, ele trouxe as cadeiras da sala de jantar, depois pegou até uma poltrona velha do seu quarto de dormir. A bebida oficial era a cerveja, a princípio bem gelada, mas depois nem tanto.

O Zé do Porco que tinha se aboletado num banco escorado na parede, junto com sua loura oxigenada, estava tranquilo tomando sua “gelada” quando sua “gata” lhe avisou que iria sair na sua Kombi para buscar uma amiga, pois estava se sentindo meio deslocada naquele ambiente. Apesar dos protestos do Zé, sua amada pegou a chave do carro e foi-se embora. A festa continuou e parecia que tinha atingido seu equilíbrio. Os convidados pararam de chegar. Os amigos da maçonaria começaram a deixar o recinto.

O conjunto de pagode parou de tocar. O Balbino, com uma cara de felicidade, chamou o Luciano e disse-lhe que queria ouvir o saxofone. Como o Luciano tinha prometido, pegou seu instrumento e chamou seu parceiro Genésio. Postaram-se na entrada da casa, pois a mulher que amamentava já tinha mudado de lugar e a criança suada dormia em seu colo.

Depois de algumas canções com o sax, aplaudidas por todos, o Luciano percebeu que uma Kombi parou em frente a casa do Balbino. Vinha com lotação absolutamente completa! Dela saltaram várias mulheres, desconhecidas e mal arrumadas. Foram entrando e sem cumprimentar a ninguém, apertaram-se entre os convidados. Uma delas, então, disse que não bebia cerveja e pediu uma dose de whisky. O Balbino que não bebia whisky nem tinha whisky em sua casa, lembrou-se que ganhara uma garrafa de presente de algum daqueles amigos, naquele dia. Pediu que a mulher fosse até a cozinha e pedisse o whisky ao seu mordomo, que também servia de garçon.

A festa continuava quase no seu ápice. Todos já falavam muito alto, o vozerio era intenso. O Luciano continuava tocando canções no seu sax e o Balbino se deleitando. Foi então que no meio do vozerio, ouviu-se gritos histéricos, impropérios e palavrões que vinham lá da cozinha do Balbino. Com certeza alguém se desentendeu lá por dentro – pensou Luciano. Mas continuou a tocar, até porque talvez encobrisse um pouco aquele barulho da confusão. Na realidade, a mulher que foi pedir a dose de whisky recebeu um NÃO do mordomo-garçon, que se negou a abrir a garrafa, pois era um dos presentes de aniversário do Dr. Balbino.

---Não vou abrir nada, não vou servir nada! Se quiser beba cerveja como todos!

---Você é um troglodita ignorante, infeliz e imbecil!...

E a coisa começou a desandar até as vias-de-fato. Ficou caótico! Uns a favor do mordomo-garçon e outros contra. Brigaram todos. Para a surpresa do Luciano, a briga veio da cozinha, passou pelo corredor, e atingiu a frente da casa onde o sax tocava.

O parceiro e guitarrista do Luciano ainda ponderou:

--- Olha Lu, não é melhor a gente parar? A coisa tá ficando “preta”
rapaz!
---Calma aí, Genésio! Não podemos parar agora. Pode ser pior.

Continuamos então até que, sem esperar, uma das mulheres que chegaram na Kombi veio se embolando com a mulher do Zé do Porco, a qual, mesmo com seu excesso de pêso, deu um “salto-mortal” numa cambalhota mirabolante e caiu de pé em cima da sua adversária. Parecia uma cena de circo. Nisso uma taça de vinho explodiu na frente do Luciano. Era uma vizinha que, injuriada com o barulho e os palavrões, jogara a taça por cima do muro. Foi aí que o Luciano resolveu parar de vez de tocar seu sax, seguindo o conselho de seu parceiro Genésio. Quando o Luciano olhou para o Balbino, este parecia em transe. Parecia que estava em outro mundo, vivendo um pesadelo. O Luciano fechou rapidamente seu sax, colocando-o no estôjo e saiu as pressas correndo , chamando o Genésio para correr também e sair dali.

---Mas Luciano, porque nós temos que correr? Afinal não temos
nada a ver com essa briga!…

--- Vai por mim cara! Não te falei nada mas eu tô na "condicional," se a "dura" me pega vou ver o “sol quadrado!...” E eu já tô ouvindo as sirenes da viatura se aproximando. Corre neguinho!…

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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