Domingo, 3 de abril de 2016 - 19h13
Samuel Castiel Jr.
Leutério estava impecavelmente vestido. Antes de sair, completou seu traje habitual colocando aquele chapéu-coco branco que sempre estava pendurado no cabide atras da porta. Era uma sexta-feira, 13, e seu destino era uma roda de samba e pagode, que estava na moda na zona leste de Porto Velho. Precisava pegar um taxi. Mas ali, nas proximidades do cais do porto, aquela hora da noite, seria difícil passar qualquer taxi. Teria que andar a pé alguns quarteirões. Apesar da lua cheia que clareava o chão, não queria nem poderia suar, estragando seu perfume e molhando sua camisa de seda de marca Dudalina, impecavelmente passada. Seu sapato bicolor preto-e-branco também não poderia ser sujo de poeira ou lama. Enfim, chegando na roda-de-samba, Leutério foi logo se destacando pelo samba habilidoso e ligeiro que trazia nos pés. Ninguém por ali o conhecia. Alguns chegaram a comentar que seria um sambista famoso de uma escola de samba do Rio de Janeiro. Dançava como ninguém! Logo se formou uma roda em sua volta, e Leutério escolhia e tirava pra sambar a garota que quisesse. Quase todas se apaixonavam a primeira vista pelo malandro. Fumando um charuto cubano, soltando grandes baforadas, o sambista aproveitava o intervalo das musicas para bebericar fartos goles de tequila. Mas, o que todos ficavam ainda mais intrigados é que ele não não ficava embriagado nem tonto sequer, e dançava cada vez melhor. As vezes fazia passos e reverências que lembravam um verdadeiro mestre-sala, de uma grande escola do Rio.
Gertrudes era uma negra, de 17 anos, com pernas torneadas e bumbum arrebitado. A noite toda foi uma das principais parceiras do malandro Leutério. Passos e firulas incríveis saiam dos seus pés , arrancando aplausos da galera sambista.
Alguém chegou até a comentar que o sambista Leutério teria sido aluno do Carlinho de Jesus no Rio, pois o seu chepéu-coco branco jamais caia de sua cabeça, sempre enfiado até a altura do nariz, não deixava boa visão de seu rosto. Mesmo quando fazia os passsos e firulas mais mirabolantes, seu chapéu permanecia imóvel.
As horas foram se passando e o sambista enigmático sambando com maestria, cada vez melhor. Indiscutivelmente, Gertrudes estava caidinha pelo sambista. A lua já estava bem alta mas seu clarão ainda iluminava o terreiro do samba, quando Leutério convidou sua parceira Gertrudes para dar uma volta, pegar um ar num cantinho mais reservado que ele conhecia muito bem, próximo ao rio… Sem titubear, Gertrudes aceitou o convite do sambista. Despediu-se de suas amigas dando uma desculpa esfarrapada qualquer e foi-se na noite, andando graciosa como se estivesse a sambar, pendurada nos braços do passista. Ao chegar próximo ao rio, os dois enveredaram por uma viela tortuosa, muito deserta aquela hora. Chegaram enfim ao barraco tosco do sambista. No seu quarto, uma vela iluminava um ambiente singelo, que os olhos não conseguiam distinguir quase nada mais que uma cama, forrada com lençol branco. Era o suficiente para os sambistas se amarem, agora num compasso mais lento e cadenciado, porém que foi ficando frenético. Quando Leutério passou sua mão nas coxas da sambista, ela quis beijá-lo, porém foi suavemente desestimulada, com o Leutério virando seu rosto. Gertrudes ficou ainda mais intrigada quando o sambista levantou-se e soprou a única vela que iluminava o ambiente:
- Não sei fazer amor no claro! – disse o sambista.
Até então ela não tinha se dado conta que o sambista ainda continuava com o chapéu-coco enfiado em sua cabeça.
Quando os primeiros raios de sol prenunciaram o novo dia, Gertrudes abriu seus olhos e, incrédula, viu o sambista ainda dormindo profundamente. Levemente levantou seu chapéu-coco branco e ficou estarrecida com o que viu: havia um buraco na calota craniana do sambista. Pensou em acordá-lo mas preferiu sair rapidamente dali. Quando contou para uma amiga e confidente, as duas resolveram voltar aquele lugar para conversar com o sambista. Afinal, aquele buraco em sua cabeça poderia ser a sequela de alguma cirurgia, algum acidente e que ele trazia escondido. Ao chegarem ao local, ali não havia nenhum barraco, nenhuma casa, nenhum sambista.
- Gertrudes, amiga, é doloroso mas agora tenho duas coisas a lhe dizer: primeiro - faça o teste de gravidez; segundo – tenho a certeza absoluta que você foi mais uma vítima do boto negro do Amazonas.
Depois de uma quarentena cruel e monótona, o idoso já se encontra no seu limite físico e mental
A pescaria "Nunca se deve cutucar onça ( ou cobra ) com vara curta."
As águas frias e límpidas, como um espelho, refletiam as nuvens do céu e as frondosas arvores da mata verde. O barco rasgava essa supe
Ele era médico da imagem, mas também misófobo. Aliás, fez especialização em radiologia, depois fez ultra-sonografia e ressonância magnética, pois assi
O ESTRANGULAMENTO DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO
Quando o poeta brasileiro Olavo Bilac ( 1865-1918 ) escreveu seu soneto “Lingua Portuguesa”, no primeiro verso , ele diz “ Ultima flor do Lácio