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Sandra Castiel

O guardião do tesouro - Um conto de fadas para adultos


O guardião do tesouro - Um conto de fadas para adultos - Gente de Opinião

Era uma vez um paraíso escondido num continente distante. Ali, a flora e a fauna eram as mais belas, exóticas e exuberantes do planeta; as águas dos rios, de tão puras e translúcidas assemelhavam-se a espelhos onde bailavam os raios dourados do sol.  Quanta beleza!  

Os mares... Estes traziam o vigor selvagem das ondas que se erguiam em direção ao firmamento: céu e mar, a imensidão infinita! No ar, voo de aves de todos os tamanhos e cores, festival de sons divinos traduzido no canto mavioso dos pássaros; em meio à floresta, profusão e diversidade de bilhões de animais... Grandes e ferozes, pequenos e delicados... Enfim, era a vida em toda sua plenitude!

Naquele cenário magnífico e incomparável, viviam os humanos nativos do lugar.

Como a história de Adão e Eva ainda não havia sido contada por lá, os nativos não cobriam suas partes íntimas, viviam a vida, despreocupadamente, voltados apenas àquele paraíso, pois, apesar de sua humanidade, carregavam consigo a inocência dos ignorantes: alimentavam-se de caça e pesca, curavam suas dores com as ervas que a natureza lhes provia, praticavam seus vários ritos e danças, adornavam o corpo com penas de animais e pinturas próprias às suas diferentes tribos, coisas assim. Enfim, eram humanos que não conheciam as maldades do mundo.   

No ano de 1499, o fidalgo e navegador português, Pedro Álvares Cabral, foi nomeado Capitão-Mor de uma expedição portuguesa de treze navios (ou seriam quinze?) e mil e duzentos tripulantes, para empreender a segunda viagem em direção à Índia, continuando o trabalho do grande navegador, Vasco da Gama.


O rei de Portugal, Sua Alteza Dom Manuel I, O Venturoso, assim como seus antecessores, dedicava-se a explorar os mares com o objetivo de expandir as riquezas do império português. Assim, o Rei estava determinado a adquirir as cobiçadas especiarias provenientes da Índia, tais como pimenta-do-reino, noz-moscada, perfumes e incensos, coisas que eram raríssimas no mercado europeu, por isso muito valiosas do ponto de vista comercial.  




A esquadra de Pedro Álvares Cabral, descobriu a terra paradisíaca e desconhecida oficialmente, em 22 de abril de 1500. Até hoje há controvérsias quanto a essa versão europeia, já que a rica terra não estava na rota daquela esquadra.  Se foi descobrimento ou não, isso não fez diferença: Portugal tomou posse de todo aquele paraíso abundante em ouro e pedras preciosas, e a chamou de Brasil (isso depois de uma sequência de nomes estranhos).

Daí em diante, aportaram na Ilha de Vera Cruz, na Terra de Santa Cruz e depois Brasil, náufragos (inocentes?) e degredados de Portugal.

Uma vez aqui chegados, os degredados portugueses, súditos que eram exilados por motivos políticos (alguns) e por má conduta (a grande maioria) aqui fincavam uma bandeira terrível, bandeira esta que vigora até hoje e tem como lema: PODER E CORRUPÇÃO, CUSTE O QUE CUSTAR.

O Brasil, na sequência, foi Colônia, Reino Unido, Império e República.

Ao longo desse tempo, os degredados adquiriram fortuna, ocuparam cargos importantes e sua descendência continuou cumprindo rigorosamente os preceitos contidos na primeira bandeira fincada na pré-colônia:  poder e corrupção.

Explorada pelos portugueses, a terra tornou-se fonte de abastança, tanto à família real, quanto à família imperial, seus agregados e asseclas.

Os saraus da Corte no palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, eram memoráveis: imperador e imperatriz, príncipes e princesas, condes e condessas, duques e duquesas, barões e baronesas, marqueses e marquesas, enfim, os nobres divertiam-se a dançar a quadrilha nos luxuosos salões palacianos.

Em determinado período, o palácio foi habitado por uma princesa triste...Maria Leopoldina; na ocasião de sua morte, os escravos choraram.  Mas este é assunto para outro conto de fadas.

Assim transcorreu o tempo em Pindorama (era como os nativos chamavam o Brasil: Pindorama, a terra das palmeiras). Pindorama-Brasil, que já teve filhos e parlamentares ilustres, como Rui Barbosa, um dos principais organizadores do governo republicano, hoje tem vergonha dos homens que ocupam os parlamentos.   

Aliás, contam que existe em um cofre, guardado a sete chaves, na Biblioteca Nacional, um pergaminho com as impressões de um escriba de 147 anos de idade (consta que morreu no ano passado, aos 148 anos, sem jamais ter feito a barba). Passara a vida oculto em uma casa muito velha, escondidíssima em meio à Mata Atlântica, na serra carioca.

Esse ancião de extensas barbas alvas, antes de partir para a eternidade, escrevera sobre o Brasil de hoje, mirando a Baía da Guanabara e refletindo sobre a poluição dos mares e dos rios brasileiros, ora depositários de toneladas de detritos fecais, industriais e montanhas de lixo.

Nesse longo pergaminho, o ancião se refere às florestas devastadas e queimadas, há anos, à mortandade de animais aquáticos e silvestres, à penúria dos brasileiros que moram nas ruas, à falta de atendimento nos hospitais e até às crianças que terminam a escola e não sabem responder quem descobriu o Brasil. Com a palavra, o ancião:

 Assim como sua população, a terra, outrora paradisíaca, vem sendo, há décadas, judiada, escarnecida, vilipendiada, desassistida, desvalida, abandonada, denegada, rechaçada, desprotegida, negligenciada; tudo porque a nação foi entregue aos maiores saqueadores do mundo, e boa parte deles ainda integra o parlamento brasileiro; outros tantos foram nomeados a cargos altíssimos e vitalícios, a fim de protegerem os ladrões, já que passam a vida a se locupletar do produto do roubo.

Durante quase duas décadas, o erário público tornou-se objeto de partilha entre os tais criminosos, aliás, o maior roubo de que se tem notícia no planeta; as instituições foram literalmente saqueadas e falidas, já que seus lucros eram repartidos entre os que faziam parte das transações escusas, além de financiarem obras mastodônticas para ditadores de outros países. No comando do país e de tudo, um terrível lobo em pela de cordeiro: Alibebão e os quatrocentos ladrões. Seu mentor? Zecomeu, um senhor de palavras bonitas, porém, gatuno, velhaco, tratante, ladino, biltre, ratoneiro, pechelingue, larápio, furtador e pandilheiro.

 Ufa! Mas, e o povo? O povo, enganado, não podia imaginar que isso tudo estivesse acontecendo.... Confiara tanto em Alibebão! ...

A ação desses bandidos (continua o Ancião) veio a público pelos esforços de uma operação policial denominada Jato D´Água. Um juiz corajoso vasculhou toda a montanha de sujeira e roubalheira e mandou Alibebão e seus quatrocentos ladrões direto pra cadeia.  Porém, os amigos de Alibebão, aqueles que ocupavam os maiores cargos do país e se locupletavam do produto do roubo, organizaram reuniões ocultas e decidiram que Alibebão deveria voltar ao poder, fazendo de conta que não houvera nada errado; assim, as sentenças do juiz foram anuladas.   

Porém, o povo pindoramense-brasileiro, cansado de tanta fome, escassez e dureza, rebelou-se contra a roubalheira e contra o modo de vida esquisito que o partido de Alibebão vinha tentando impor a todos: as mulheres podem matar seus filhos ainda na barriga, as crianças, apesar de pequenas, decidem se são meninas ou meninos, os pais não têm mais autoridade sobre os filhos menores, intrusos podem invadir os sítios das pessoas e deles tomarem posse (tudo isso com o apoio do governo) etc. Enfim, os pindoramenses-brasileiros saíram às ruas e continuam lutando contra isso.

E prossegue o Ancião:  existe uma minoria que deseja transformar a democracia de Pindorama-Brasil em uma ditadura comunista, comandada por Alibebão, Zécomeu e seus asseclas: alguns, pelo desconhecimento das mudanças que isso traria à vida dos pindoramenses-brasileiros (para pior, claro); outros, por um ideal romântico de distribuição da renda do país igualmente para todos. Certamente, aprenderam esta balela nos bancos das universidades e acharam bonito, ou seguem aqueles comunistas modernos que vivem em seus palácios ou apartamentos com vista para o mar, a tomar espumante e Château Ausone, a comer lagosta, camarão e caviar, além de deliciarem-se com doces franceses, tais como, éclair, crème brûlée, baba au rhum, clafoutis, crepe suzette etc.

 

 Ufa! Até a fada-luz, aquela que ilumina a mente humana, falou na reunião mundial das fadas que estava difícil fazer o seu trabalho: será que essas pessoas não sabem o que acontece com os países onde há ditadura comunista? No caso dos pindoramenses–brasileiros, basta olhar para a vizinhança, ora!

Sentado em uma nuvem alva, em meio ao céu azul de Pindorama-Brasil, o ancião de longas barbas brancas contempla amorosamente o seu país e conclui: cada brasileiro que vai às ruas, para livrar a nação de Alibebão e tudo o que ele representa, é um Guardião do Tesouro, que é a sua Pátria. Esta pátria precisa ser muito bem cuidada. Apenas desse modo, o povo poderá viver feliz para sempre!  



* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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