Sábado, 31 de julho de 2021 - 10h12
Era uma vez um paraíso
escondido num continente distante. Ali, a flora e a fauna eram as mais belas,
exóticas e exuberantes do planeta; as águas dos rios, de tão puras e
translúcidas assemelhavam-se a espelhos onde bailavam os raios dourados do sol.
Quanta beleza!
Os mares... Estes traziam o
vigor selvagem das ondas que se erguiam em direção ao firmamento: céu e mar, a
imensidão infinita! No ar, voo de aves de todos os tamanhos e cores, festival
de sons divinos traduzido no canto mavioso dos pássaros; em meio à floresta,
profusão e diversidade de bilhões de animais... Grandes e ferozes, pequenos e
delicados... Enfim, era a vida em toda sua plenitude!
Naquele cenário magnífico e
incomparável, viviam os humanos nativos do lugar.
Como a história de Adão e Eva ainda
não havia sido contada por lá, os nativos não cobriam suas partes íntimas, viviam
a vida, despreocupadamente, voltados apenas àquele paraíso, pois, apesar de sua
humanidade, carregavam consigo a inocência dos ignorantes: alimentavam-se de caça
e pesca, curavam suas dores com as ervas que a natureza lhes provia, praticavam
seus vários ritos e danças, adornavam o corpo com penas de animais e pinturas
próprias às suas diferentes tribos, coisas assim. Enfim, eram humanos que não
conheciam as maldades do mundo.
No ano de 1499, o fidalgo e
navegador português, Pedro Álvares Cabral, foi nomeado Capitão-Mor de uma expedição
portuguesa de treze navios (ou seriam quinze?) e mil e duzentos tripulantes,
para empreender a segunda viagem em direção à Índia, continuando o trabalho do
grande navegador, Vasco da Gama.
O rei de Portugal, Sua Alteza Dom Manuel I, O Venturoso, assim como seus antecessores, dedicava-se a explorar os mares com o objetivo de expandir as riquezas do império português. Assim, o Rei estava determinado a adquirir as cobiçadas especiarias provenientes da Índia, tais como pimenta-do-reino, noz-moscada, perfumes e incensos, coisas que eram raríssimas no mercado europeu, por isso muito valiosas do ponto de vista comercial.
A esquadra de Pedro Álvares
Cabral, descobriu a terra paradisíaca e desconhecida oficialmente, em 22 de
abril de 1500. Até hoje há controvérsias quanto a essa versão europeia, já que
a rica terra não estava na rota daquela esquadra. Se foi descobrimento ou não, isso não fez
diferença: Portugal tomou posse de todo aquele paraíso abundante em ouro e
pedras preciosas, e a chamou de Brasil (isso depois de uma sequência de nomes
estranhos).
Daí em diante, aportaram na
Ilha de Vera Cruz, na Terra de Santa Cruz e depois Brasil, náufragos
(inocentes?) e degredados de Portugal.
Uma vez aqui chegados, os
degredados portugueses, súditos que eram exilados por motivos políticos
(alguns) e por má conduta (a grande maioria) aqui fincavam uma bandeira
terrível, bandeira esta que vigora até hoje e tem como lema: PODER E CORRUPÇÃO, CUSTE O QUE CUSTAR.
O Brasil, na sequência, foi Colônia,
Reino Unido, Império e República.
Ao longo desse tempo, os
degredados adquiriram fortuna, ocuparam cargos importantes e sua descendência
continuou cumprindo rigorosamente os preceitos contidos na primeira bandeira
fincada na pré-colônia: poder e corrupção.
Explorada pelos portugueses, a
terra tornou-se fonte de abastança, tanto à família real, quanto à família imperial,
seus agregados e asseclas.
Os saraus da Corte no palácio
de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, eram memoráveis: imperador e imperatriz, príncipes
e princesas, condes e condessas, duques e duquesas, barões e baronesas, marqueses
e marquesas, enfim, os nobres divertiam-se a dançar a quadrilha nos luxuosos
salões palacianos.
Em determinado período, o
palácio foi habitado por uma princesa triste...Maria Leopoldina; na ocasião de
sua morte, os escravos choraram. Mas
este é assunto para outro conto de fadas.
Assim transcorreu o tempo em
Pindorama (era como os nativos chamavam o Brasil: Pindorama, a terra das
palmeiras). Pindorama-Brasil, que já teve filhos e parlamentares ilustres, como
Rui Barbosa, um dos principais organizadores do governo republicano, hoje tem
vergonha dos homens que ocupam os parlamentos.
Aliás, contam que existe em um
cofre, guardado a sete chaves, na Biblioteca Nacional, um pergaminho com as
impressões de um escriba de 147 anos de idade (consta que morreu no ano
passado, aos 148 anos, sem jamais ter feito a barba). Passara a vida oculto em
uma casa muito velha, escondidíssima em meio à Mata Atlântica, na serra
carioca.
Esse ancião de extensas barbas
alvas, antes de partir para a eternidade, escrevera sobre o Brasil de hoje, mirando
a Baía da Guanabara e refletindo sobre a poluição dos mares e dos rios
brasileiros, ora depositários de toneladas de detritos fecais, industriais e
montanhas de lixo.
Nesse longo pergaminho, o
ancião se refere às florestas devastadas e queimadas, há anos, à mortandade de
animais aquáticos e silvestres, à penúria dos brasileiros que moram nas ruas, à
falta de atendimento nos hospitais e até às crianças que terminam a escola e
não sabem responder quem descobriu o Brasil. Com a palavra, o ancião:
Assim como sua população, a terra, outrora
paradisíaca, vem sendo, há décadas, judiada, escarnecida, vilipendiada, desassistida,
desvalida, abandonada, denegada, rechaçada, desprotegida, negligenciada; tudo
porque a nação foi entregue aos maiores saqueadores do mundo, e boa parte deles
ainda integra o parlamento brasileiro; outros tantos foram nomeados a cargos
altíssimos e vitalícios, a fim de protegerem os ladrões, já que passam a vida a
se locupletar do produto do roubo.
Durante
quase duas décadas, o erário público tornou-se objeto de partilha entre os tais
criminosos, aliás, o maior roubo de que se tem notícia no planeta; as
instituições foram literalmente saqueadas e falidas, já que seus lucros eram
repartidos entre os que faziam parte das transações escusas, além de financiarem
obras mastodônticas para ditadores de outros países. No comando do país e de tudo,
um terrível lobo em pela de cordeiro: Alibebão e os quatrocentos ladrões. Seu
mentor? Zecomeu, um senhor de palavras bonitas, porém, gatuno, velhaco,
tratante, ladino, biltre, ratoneiro, pechelingue, larápio, furtador e
pandilheiro.
Ufa! Mas, e o povo? O povo, enganado, não
podia imaginar que isso tudo estivesse acontecendo.... Confiara tanto em
Alibebão! ...
A
ação desses bandidos (continua o Ancião) veio a público pelos esforços de uma operação policial denominada Jato
D´Água. Um juiz corajoso vasculhou toda a montanha de sujeira e roubalheira e
mandou Alibebão e seus quatrocentos ladrões direto pra cadeia. Porém, os amigos de Alibebão, aqueles que ocupavam
os maiores cargos do país e se locupletavam do produto do roubo, organizaram
reuniões ocultas e decidiram que Alibebão deveria voltar ao poder, fazendo de
conta que não houvera nada errado; assim, as sentenças do juiz foram anuladas.
Porém,
o povo pindoramense-brasileiro, cansado de tanta fome, escassez e dureza,
rebelou-se contra a roubalheira e contra o modo de vida esquisito que o partido
de Alibebão vinha tentando impor a todos: as mulheres podem matar seus filhos
ainda na barriga, as crianças, apesar de pequenas, decidem se são meninas ou
meninos, os pais não têm mais autoridade sobre os filhos menores, intrusos
podem invadir os sítios das pessoas e deles tomarem posse (tudo isso com o
apoio do governo) etc. Enfim, os pindoramenses-brasileiros saíram às ruas e
continuam lutando contra isso.
E prossegue o Ancião: existe
uma minoria que deseja transformar a
democracia de Pindorama-Brasil em uma ditadura comunista, comandada por Alibebão,
Zécomeu e seus asseclas: alguns, pelo desconhecimento das mudanças que isso
traria à vida dos pindoramenses-brasileiros (para pior, claro); outros, por um
ideal romântico de distribuição da renda do país igualmente para todos. Certamente,
aprenderam esta balela nos bancos das universidades e acharam bonito, ou seguem
aqueles comunistas modernos que vivem em seus palácios ou apartamentos com
vista para o mar, a tomar espumante e Château Ausone, a comer lagosta, camarão
e caviar, além de deliciarem-se com doces franceses, tais como, éclair, crème brûlée, baba au rhum, clafoutis, crepe
suzette etc.
Ufa! Até a fada-luz, aquela
que ilumina a mente humana, falou na reunião mundial das fadas que estava difícil
fazer o seu trabalho: será que essas pessoas não sabem o que acontece com os
países onde há ditadura comunista? No caso dos pindoramenses–brasileiros, basta
olhar para a vizinhança, ora!
Sentado em uma nuvem alva, em meio ao céu azul de Pindorama-Brasil, o ancião de longas barbas brancas contempla amorosamente o seu país e conclui: cada brasileiro que vai às ruas, para livrar a nação de Alibebão e tudo o que ele representa, é um Guardião do Tesouro, que é a sua Pátria. Esta pátria precisa ser muito bem cuidada. Apenas desse modo, o povo poderá viver feliz para sempre!
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