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Silvio Persivo

A Cobra Grande de seu Euro Tourinho


A Cobra Grande de seu Euro Tourinho  - Gente de Opinião

Nós somos sempre frutos de nossa época, de nossos amigos, de nossas companhias. Nem sei mais a quantas pessoas devo muito pelo que me deram, como por exemplo, minha primeira professora Dona Marinete Gurgel, que na Rocha Lima alfabetizou muitas pessoas, Terezinha Dantas, a querida Têtê, que foi uma madrinha para nós, o juiz Eliseu, nosso vizinho, que me proporcionou, bem novo ainda, o mundo maravilhoso de sua biblioteca e ainda me orientava sobre o que devia ler e, por aí vai, Tirzah Persivo, que no Rio de Janeiro, me deu apoio e guarida, alguns grandes amigos de escola, como Marcelino Pontes Moreira, que me trouxe a Porto Velho e, aqui, são inúmeros os que tive o prazer de compartilhar da amizade. Entre estas não posso deixar de citar Sued Pinheiro, um amigo irmão, que me levou a ser amigo de Euro Tourinho, a alma do jornal centenário Alto Madeira, ele mesmo uma testemunha da história de Porto Velho e Rondônia. E tive o prazer de escrever um livro sobre ele, o que nos aproximou ainda mais e, posso dizer com orgulho, que me tratava como um filho. Não só a mim, mas também ao Marcus Vinicíus do Buraco do Candiru, com o qual tinha uma evidente cumplicidade. Tudo isto para servir de introdução a uma história de tive o prazer de ouvir de seu Euro, que, depois, me daria o texto abaixo, de sua autoria, que não posso deixar de publicar como uma homenagem a uma pessoa que faz falta no nosso meio por sua simplicidade e saber, saber inclusive de levar a vida, de tornar a vida mais suave. Talvez at´, por isto, tenha decidido ir embora, sabia o tempo certo das coisas. Eis a história:


"A COBRA GRANDE

Euro Tourinho 

Logo que o meu pai, Homero Castro Tourinho, morreu no seringal Minas Novas, banhado pelo rio Branco, afluente do Jacy-Paraná, em 4 de dezembro de 1944, eu, como irmão mais velho dos 4 irmãos, tive que assumir o comando dos negócios do pai, inclusive um enorme seringal que ia das margens do Branco ao Candeias onde laboravam quase 400 homens, a maioria homens rústicos, analfabetos, vindos do Nordeste, convocados como 'soldados da borracha' para produzir o latex como esforço de guerra do Brasil aliado contra o Eixo, isso sem conhecerem uma árvore, uma 'hevea brasiliense'.

Assim que assumi a direção do 'Minas Novas' , por morte de meu pai, um verdadeiro império em terras dadivosas, rio e igarapés piscosos, homens, mulheres, embarcações, muares para transportarem as pelas de borracha, pranchas de caucho do centro da mata para o barracão às margens do rio, tive necessidade urgente de conhecer a estrutura do negócio do seringal no seu todo, 'da sala à cozinha', então jovem de 21 anos, uma mulher amada, dois filhos queridos, mãe, irmãos mais novos, sogra, enfrentei a luta da selva bruta, trabalhando na produção de latex para o bem do Brasil em guerra. Um colt, cano longo na cintura, um rifle 'papo amarelo' 44, doze tiros a tiracolo, às vezes trocado por uma espingarda12, americana, percorria as colocações de seringueiros, varadouros, vistoriava pontes e pontilhões de madeira, abertura de novas colocações, etc.

Aí é que vem o causo. Em uma dessas inspeções de rotina, ainda sem experiência de vida na selva, sem o faro de índio, sem o conhecimento dos velhos mateiros, função imprescindível em um seringal, homens conhecedores dos meandros, das armadilhas que as matas amazônicas aprontam para os leigos, tive necessidade de passar de uma margem para a outra do igarapé das Onças para ver uma afloração promissora de malacacheta (mica) e olhando para cima ao ver um belo mutum (ave de carne saborosa) passar, sem desviar a vista do grande pássaro, fui andando em cima do que pensei ser o caule de uma árvore que atravessava de uma margem para a outra que só vim notar ser uma grande cobra sucuri quando o enorme ofídio começou a se movimentar e me desequilibrou forçando-me a saltar para a terra já que estava perto da outra margem do igarapé.

O susto foi pra lá de grande tanto que não usei o rifle 12 tiros de repetição nem o revolver, deixando que a 'bicha', de mais ou menos 12 metros de comprimento fosse em paz. Para terminar o meu causo passado no seringal Minas Nova, nos idos de 1945, eu calculo que se a sucuri ainda estiver viva deve estar desdentada e com uns quinze metros de comprimento e quem quiser ir caçá-la é só ir lá no Igarapé das Onças, no Seringal Minas Novas, hoje abandonado, pois tem um instituto de pesquisas, tipo o nosso Instituto Butantã, em Londres, Inglaterra, que paga vinte mi (20) libras a pessoa que provar por qualquer forma que existe uma cobra sucuri com mais de 12 metros de comprimento". 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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