Quinta-feira, 26 de março de 2009 - 20h23
Silvio Persivo (*)
Entre os especialistas em desenvolvimento há o consenso de que o estado é um mau gestor e seu aumento gera burocracia, corrupção e impede o estimulo a um ambiente adequado ao empreendedorismo, ou seja, quanto mais o estado intervém na sociedade maiores os obstáculos para criar uma iniciativa privada saudável e mais corrupção. No entanto, como agora vemos na avalanche de casos que provém do Mensalão passa por espionagens que envolvem o empresário Daniel Dantas e desemboca na prisão de dirigentes da Camargo Corrêa quando se trata de corrupção não é muito fácil isolar o público do privado. E nas obras, no lixo, no transporte coletivo e nos contratos de prestação de serviços há toda uma história a ser revelada e escrita.
É impossível não constatar que no meio dos escândalos públicos há sempre as impressões digitais de empresários e/ou de empresas privadas. E, por mais que se criem mecanismos para reforçar o comportamento social e ético das empresas, não se pode esconder que, nos escândalos do cotidiano, na maioria das vezes, estão envolvidas empresas de todos os tipos. Na busca do lucro fácil se abandonam às atividades de desenvolver melhorias em inovação e aumento da produtividade em troca de propinas e de crescimento rápido sempre com os riscos muito elevados que tais práticas acarretam, principalmente, com a atuação cada vez mais forte do Ministério Público e o fortalecimento das agências de investigação.
No Brasil, onde os mecanismos de acompanhamento e punição de tais práticas ainda são frouxos, há empresas, como ficou patente com as de Marcos Valério, que crescem com uma rapidez impressionante por ligações políticas. O problema parece ser que, quando se alcança um determinado tamanho, é impossível não ganhar visibilidade e não chamar a atenção para a forma como isto acontece, mas, o fato real é que, na guerra por espaços comerciais, na qual, em geral, o estado possui uma participação relevante seja como comprador, seja como concessionário ou meramente como facilitador de certas questões, o favor de agentes políticos, ou funcionários públicos, pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, daí a facilidade para que se estabeleça algum tipo de relação que acaba sendo espúria. Segundo a Transparência Brasil um dado típico de tal simbiose é o fato de que, de todas as empresas que participam de licitações no país, 62% receberam pedidos de propinas ou outros tipos de pagamentos para conquistar contratos. Ou seja, embora a corrupção pública seja execrada não é possível dissociar a pública da privada.
O que acontece, na grande maioria das vezes, é que a punição se restringe aos gestores de recursos públicos que são, imediatamente, execrados sem que se dê maior atenção aos corruptores. No entanto, como comprovam episódios em que agentes públicos foram flagrados pedindo propinas que geraram CPIs, não há corrupto sem corruptor. Por isto mesmo na democracia é indispensável criar mecanismos e controles éticos na gestão do próprio negócio até para evitar as tentações. Afinal se, no mundo dos negócios, santos não prosperam, é muito melhor prosperar devagar e solidamente do que ultrapassar limites que põem em risco o próprio nome, o patrimônio e até a família que, muitas vezes, paga inocentemente os pecados empresariais.
(*) Professor da UNIR
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