Quinta-feira, 24 de agosto de 2006 - 17h30
Espantosamente o presidente Lulla da Silva afirma que "Os números são os melhores possíveis. Não há nenhum momento na história republicana em que a economia tenha dado um conjunto de solidez como agora". Diz isto quando o desemprego é o maior dos últimos quinze meses, atingiu a taxa de 10,17, quando os bancos têm lucros recordes, o comércio cai e os juros pagos batem o recorde desde 1991. A realidade do país é outra. Visto aqui de baixo o Brasil nunca foi tão jovem, tão violento, tão sem emprego, tão sem educação e tão mal gerido. O Brasil nunca teve tantos habitantes com idade entre 15 e 24 anos. E uma das conseqüências trágicas disto é que nunca tantos jovens ficaram fora da escola, sem orientação, sem lazer e sem empregos dignos. Com isto se cria uma atmosfera propícia ao aumento da violência, uma estufa de problemas dos quais os jovens não são apenas as flores mal cuidadas, mas também as primeiras vítimas.
É bem verdade que a causa do presente repousa no passado. Foi o alto índice de fecundidade do início dos anos 80 que gerou os agora cerca de 32 milhões de jovens brasileiros, que representam 19,8% de toda a população. Apesar da proporção já ter sido maior na década 80, quando representavam 21% (cerca de 25 milhões) de 119 milhões de habitantes, em termos absolutos a quantidade é numericamente muito superior. Como não existem políticas públicas para atender toda essa gente que ingressa num mundo onde predominam as novas tecnologias de produção e da globalização que, por ironia, exigem muito mais preparo para o ingresso no mercado de trabalho acaba existindo poucos empregos, ou mesmo nenhum, para quem tem nível médio de escolaridade e até superior. E o que sobra para quem não tem escolaridade? Infelizmente a resposta é uma só: a inutilidade, o abandono, a ociosidade. Hoje estamos numa sociedade na qual quem não tem conhecimentos, não estuda, não pensa também não tem utilidade. Os jovens possuem, cada vez menos, canais para ter sucesso se não tiver conhecimento, escolaridade. A pressão social para participar de determinados movimentos, para usar determinado tênis, roupa ou freqüentar tais e tais lugares é inevitável, porém sem o trabalho, como atividade socialmente aceita e a via legítima para a obtenção de dinheiro e bens os jovens são, encaminhados para as vias ilegítimas, do roubo, da prostituição, do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Dados do MEC estimam que apenas 30% dos jovens entre 15 e 20 anos têm acesso a escola de nível médio (2º grau), cerca de 9,6 milhões. Os 70% restantes, que totalizam 22,4 milhões de adolescentes, não tem escolaridade para enfrentar um mercado de trabalho competitivo. E a escolaridade de nível médio não garante nada no mercado de trabalho. Daí a grande tragédia brasileira: nossos jovens buscam as possibilidades sociais ilegítimas como alternativas. Não é de espantar o PCC. É a alternativa institucionalizada de sobrevivência para certas camadas sociais, como o narcotráfico e outras atividades ilegais. Lulla da Silva poderia ter cuidado o mínimo disto. Não cuidou, não cuida. E a marginalidade só aumenta. E com a corrupção aberta os jovens se tornam mais críticos e mais descrentes de todas as instituições: igreja, família, escola e poderes públicos. Esta a herança maldita de Lulla, o seu legado de desesperança.
Fonte: Sílvio Persivo
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