Quinta-feira, 7 de março de 2024 - 17h56
O Brasil é um país muito rico
e, mais que rico, generoso, muito generoso com os outros países. Não falo
apenas pelos investimentos do BNDES na Venezuela ou em Cuba, mas também com sua
generosa relação com a China, em especial, e também com a Coréia do Sul, onde a
Petrobras desenvolve projetos que beneficiam aqueles países. Um exemplo recente
vem de Yantai, na China, onde foi construído o FPSO (Floating Production,
Storage and Offloading, plataformas de processamento e produção de petróleo e
gás) Marechal Duque de Caxias. O nome é de um herói nacional e a plataforma foi
encomendada pela Petrobras para ser usada no pré-sal na Bacia de Santos. É
preciso ver que de cada FPSO construída no exterior significa a perda de cerca
de 6 mil empregos diretos e indiretos internos. E para um governo que diz
apoiar a indústria naval brasileira pode-se ver a contradição, quando neste
tipo de indústria especializada, um salário médio é de R$ 5 mil/mês, ou R$ 65
mil/ano. Isto significa a perda de R$ 390 milhões por ano apenas em salários.
Encargos e benefícios representam uma perda adicional de R$ 425 milhões anuais.
No total R$ 815 milhões por ano, fora gastos com seguro-desemprego,
auxílio-doença etc. Em 3 anos, o prazo da construção, pode-se estimar que foram
perdidos quase R$ 3 bilhões. E isto, de uma FPSO somente. Sem contar que não
são apenas as perdas de postos de trabalho. Há outros, tão grandes quanto, como
materiais e serviços não comprados no Brasil. E ainda os que são difíceis
mensurar, como perda tecnológica. E, pasmem, que a plataforma Duque de Caxias
utilizará uma tecnologia de separação em alta pressão (HISEP) desenvolvida e
patenteada pela Petrobras. Na divulgação do FPSO, o grupo malaio MISC fala da
tecnologia sem mencionar que esta foi desenvolvida pela estatal brasileira.
Para um governo tão estatista, que defende tanto a nacionalização de empresas,
o fato se reveste ainda de uma questão mais grave que é a de não se puder
alegar a questão da competitividade ou rapidez na construção local. Inclusive,
hoje em dia, países da Europa e da Ásia também não conseguem competir com a
China, porém criaram mecanismos que garantem que a construção de determinados
tipos de embarcações seja feita localmente, mesmo a um custo mais alto,
garantindo para sua indústria encomendas, emprego e renda para a população. Até
mesmo os EUA pode ser apontado como um
exemplo, pois qualquer navio, para operar nos portos e na costa norte-americana,
deve ser construído nos EUA e ter bandeira americana, devido ao Jones Act, um
mecanismo de proteção centenário. Isto tem uma razão lógica: a indústria naval
e offshore é considerada de importância estratégica e é apoiada e incentivada pelos
governos, inclusive por sua importância econômica. E o Brasil, na contramão da
história, prossegue sem ter uma indústria naval e uma marinha mercante
desenvolvida. É preciso estimular, por meio de políticas de Estado, a construção
naval e a marinha mercante, de vez que as políticas nacionais precisam estimular
tanto a indústria naval quanto a
navegação de longo curso e incentivo ao crescimento da bandeira própria, na
cabotagem e na navegação interior, para não dependermos apenas das
megatransportadoras globais que dominam o transporte marítimo internacional.
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