Quarta-feira, 19 de setembro de 2007 - 15h50
A situação da Bolívia é preocupante sob o ponto de vista econômico. Os dados empíricos que se divulgam sobre sua economia informam que a inflação, a alta continuada dos preços, já se situa em torno de 12% e pode chegar, até o final do ano, a 15%. As razões para isto são várias. No passado recente, graças ao crescimento mundial, o país quadruplicou suas exportações como também, com a nacionalização conseguiu obter um acréscimo nas rendas públicas, em especial na área do gás, bem como os bolivianos no exterior mandam das Américas, do Brasil inclusive, e da Europa montantes de recursos similares aos do superávit da balança comercial. Muitos dizem também que o tráfico tem aumentado seus negócios com impactos na circulação de recursos. O certo é que as entradas de divisas, com a política muito prudente de restrições de gastos que o governo tem feito, geram saldos grandes que trocados por pesos geram pressões inflacionárias.
Todo economista, e mesmos os leigos, sabem que são as expectativas que funcionam como motor dos investimentos. E a Bolívia tem um passado não muito distante de hiperinflação que tem alguns fatores se repetindo no momento. Um deles é o fato de que como grande parte dos produtos que consome são oriundos do exterior a questão cambial pesa muito sobre os preços e também a inflação corrói mais os salários menores o que pode redundar em movimentos de reposição salarial que pressionem ainda mais a inflação. Ocorre que sem um conjunto de políticas que considere esses elementos e tendo em vista que, hoje, os bolivianos com dinheiro estão preferindo investir em construções ou comprar imóveis e terrenos não há sinais visíveis nem de crescimento econômico nem de aumento da oferta, ou seja, a economia tende a ficar mais ou menos estável com um quadro de elevação inflacionária.
Evidentemente esta é uma reflexão meramente econômica. E como a economia é influenciada pela política é preciso dizer que esta não tende a ajudar este quadro pouco auspicioso. Não é somente em razão de que há impasses políticos e claros sinais de possibilidades de ruptura do quadro institucional por conta das posições heterodoxas do presidente Evo Morales que tem contra si a maioria dos governos locais. É também porque, em matéria de economia, as autoridades bolivianas não são tidas pelos empresários como confiáveis mercê de declarações contraditórias e/ou medidas que não atacam as causas reais da inflação. Neste sentido a política e a economia se reforçam mutuamente, pois, quando não existe confiabilidade as expectativas tendem sempre a ser negativas e se refletir em aumento dos preços. È hora da Bolívia fazer o dever de casa e cuidar da inflação.
Fonte: silvio.persivo@gmail
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