Quinta-feira, 27 de agosto de 2009 - 19h58
Esteve no Brasil, e participou na última segunda (24), no V Fórum de Internet Corporativa, o filósofo e pensador do ciberespaço Pierre Levy, que foi o grande destaque do evento promovido pela Agência Gaúcha de Agências de Internet (AGADi), é um dos principais teóricos da internet no mundo e, no início dos anos 90, publicou obras hoje obrigatórias para quem estuda de forma mais profunda e consistente o fenômeno do ciberespaço.No entanto a contribuição maior de Levy parece ser o conceito de inteligência coletiva (IC) que é, basicamente, a partilha de funções cognitivas, como a memória, a percepção e o aprendizado por todos via meios de comunicação que, segundo ele, “Podem ser melhor compartilhadas quando aumentadas e transformadas por sistemas técnicos e externos ao organismo humano”, referindo–se aos meios de comunicação e à internet. O escritor explica que a IC não é só isto: “ela só progride quando há cooperação e competição ao mesmo tempo”. Para exemplificar, Lévy citou a comunidade científica, capaz de trocar idéias (cooperar) por ter a liberdade de confrontar pensamentos opostos (competir) e, assim, gerar conhecimento. “É do equilíbrio entre a cooperação e a competição que nasce a IC”, concluiu e lembra que não são apenas os cientistas que utilizam este novo conceito “As empresas necessitam cada vez mais de empregados que lancem idéias e resolvam questões coletivamente. As tecnologias atuais permitem isto”. Para Lévy, inteligência coletiva não é um conceito novo, pois desenvolveu–se à medida que a linguagem evoluiu. A disseminação do conhecimento acompanhou a difusão das idéias por meio dos discursos, da escrita (”posso, hoje, ler Platão, mesmo que ele tenha escrito uma obra há mais de dois mil anos”) e da imprensa (”quanto mais os meios de comunicação se aperfeiçoam, mais ganha a inteligência coletiva”). Hoje, porém, as coisas ficaram diferentes e inéditas “O mundo das idéias é o ciberespaço, que permite a interconexão e, portanto, a ubiqüidade. Ainda não conhecíamos essa situação”. Assim diz que sua teoria não nasceu por acaso e que não é fruto exclusivo de seus estudos. Ele apenas tenta adaptar a IC à atualidade social e tecnológica. De fato, a pesquisa de Lévy baseia–se em tríades inspiradas na conexão tripla entre o “signo, a coisa representada e a cognição produzida na mente”, definida pelo semiólogo americano Charles Sanders Peirce. Para Lévy, a inteligência coletiva pode ser dividida em inteligência técnica, conceitual e emocional. A primeira corresponde à inteligência que lida com o mundo concreto e dos objetos, como a engenharia (coisa). A segunda com o conhecimento abstrato e que não incide sobre a materialidade física, como as artes e a matemática (signo). A última, por fim, representa a relação entre os seres humanos e o grau de paixão, confiança e sinceridade que a envolve, e tem a ver com o direito, a ética e a moral (cognição). E ilustra com o que denomina de economia da informação descrita a partir da constatação de que, no mundo atual as idéias são o capital mais importante, e só pode ser adquirido se as pessoas pensam em conjunto. Para isto existe a necessidade de produção de três capitais:
(1) o técnico, que vai dar suporte estrutural à construção das idéias, como estradas, prédios, meios de comunicação (coisa);
(2) o cultural, mais abstrato, o conhecimento em livros, enciclopédias e na World Wide Web (signo);
(3) o social, o vínculo entre as pessoas e grau de cooperação entre elas (cognição).
Lévy afirma que estamos apenas no início de uma nova etapa da evolução cultural. “A que tipo de civilização esse ambiente ecossistêmico de idéias vai nos levar?”, provocou.” Enfim, a teoria do pesquisador se resume na sua “ecologia das idéias”, isto é, a relação bidirecional entre a população e as idéias. Se as pessoas (não) ajudam a reprodução de conhecimento, este lhe será desfavorável. De por outro modo, as idéias desfavoráveis são mantidas e disseminadas, a população não se reproduz. O papel da internet é fundamental para o funcionamento deste sistema. “O ciberespaço é a principal fonte para a criação coletiva de idéias, de forma que possam ser usadas para o bem de todos, através da cooperação intelectual”.
O conceito de inteligência coletiva de Levy teve na rede mundial de computadores um espaço de aceleração da criação de conhecimento, um ambiente em que internautas livres, independentes das grandes corporações e das instituições tradicionais, podem produzir conhecimento e tecnologia,de forma que segundo o fiosófo "A internet aumenta as nossas capacidades cognitivas, tanto individuais quanto coletivas". De certa forma, todas as iniciativas de conteúdo colaborativo materializam o conceito de inteligência coletiva, a começar pelo Wikipedia. Na palestra desta segunda, Levy apresentou uma previsão do futuro do ciberespaço e perguntou "Qual a maior limitação hoje para a inteligência coletiva? São as línguas. Mesmo com os tradutores automáticos, muitas pessoas não conseguem se comunicar na web". Na sua concepção esta se gestando uma nova língua, mas, admite não saber exatamente como será essa nova língua. Para o filósofo o caminho é a codificação de ideias. Conceitos e ideias que se disseminam na cultura contemporânea futuramente vão virar códigos manipuláveis por computadores. "Não podemos entender muito bem hoje essas novas linguagens. Nunca tivemos experiência com nada parecido. Mas se você fosse explicar para alguém do século XIX o que seria a internet, essa pessoa também não conseguiria entender".
Levy apressa-se em avisar que as linguagens mencionadas vão muito além daquilo que, na informática, está se chamando de web semântica - novas tecnologias que permitirão às máquinas entender mais precisamente o sentido dos dados e conectá-los melhor. O que, na prática, representará um passo gigantesco na qualidade da navegação e dos serviços oferecidos na rede. Levy visualiza um ciberespaço em que será possível simular e representar a inteligência coletiva humana tal qual comose desenvolve na sociedade offline. Quando isto acontecer, a inteligência coletiva online será o grande motor do desenvolvimento humano. Mais do que isto: quando o mundo intelectual humano for transposto para dentro da web, será possível compreender, afinal de contas, como exatamente funciona a difusão de ideias e a construção de conhecimento nas sociedades.
Fonte: Sílvio Persivo
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