A chegada de Bolsonaro em Porto Velho, com a manifestação apoteótica que lhe foi prestada, a partir do Aeroporto Jorge Teixeira de Oliveira, demonstra que é impossível não considerar a caminhada do, até então deputado, um fenômeno eleitoral. Não são os gritos de “Mito” ou o refrão gritado de “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil” que, parte dos seus fãs apaixonados, que o qualificam assim, mas, o fato irrefutável, que tem ocorrido em muitos outros lugares do País, que sua chegada reúne uma multidão, de uma hora para outra, sem que haja um partido ou organização planejando. Trata-se, isto sim, de um reconhecimento de que, para o bem ou para o mal, no meio de uma política pantanosa, Bolsonaro surge como alguém verdadeiro, de opiniões e que atende a uma necessidade que a população sente de rumo, de direção, de segurança.
Confesso que o fenômeno, no começo, me pareceu uma reação anti-petista, anti-esquerda. Afinal, sua candidatura é posta como uma candidatura que busca resgatar os valores da pátria, da família e até mesmo da religião, embora, sem um definição de qual delas. Parecia mesmo que fosse uma oposição à Lula da Silva. Pode até ter sido. Não é mais. Pelo que estou vendo houve um alargamento de sua base que somente se pode explicar pela necessidade de esperança. Na areia movediça da política, diante do bombardeio de notícias sobre corrupção, diante da própria falta de firmeza da justiça, quando surge alguém que não foge de seus princípios, que não tergiversa, que não esconde o que é, mesmo com todas as suas limitações, passa a encarnar o papel de um condutor, de uma pessoa que pode canalizar as energias para construir o novo.
Na minha opinião falta muito para se considerar Bolsonaro presidente eleito (mesmo sendo o fenômeno que já é), todavia, os seus opositores o estão ajudando muito. A tentativa de demonização que fazem, quase infantil, de querer atribuir a ele homofobia, ou de menosprezar as mulheres ou não ter sensibilidade social ou mesmo capacidade intelectual, não vão muito longe. Somente se pode suplantar a esperança com mais esperança. Se um dos outros candidatos não passa a simbolizar a esperança para os brasileiros, sua eleição será inevitável. E, por enquanto, nenhum dos outros consegue mobilizar, como Bolsonaro tem feito, os eleitores. Em Porto Velho, nesta sexta-feira, tive que ceder e dar minha mão à palmatória. Não se pode mais tratar Bolsonaro sem considerar que é o mais forte candidato à presidência, no momento. A maré Bolsonaro já existe. E com possibilidade de virar tsunami.
(*) É professor da Fundação Universidade Federal de Rondônia-UNIR e doutor em Desenvolvimento Sócio-Ambiental pelo NAEA-Núcleo de Altos Estudos da Amazônia.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)