Quinta-feira, 11 de março de 2010 - 21h10
Bem, confesso que, apesar da idade, que tende a me levar a ser mais sensato, se isto é possível, ainda me aferro a uma rebeldia que me faz ser contra as coisas que não concordo. Hoje muito mais maduro também com muito mais serenidade e capacidade de compreensão, porém, não com menos ardor ou resistência. De certa forma, às vezes, principalmente, quando o consenso, mesmo que errôneo, é muito grande me pergunto se vale à pena ser contra algo que as pessoas em geral não vêem erro. E, podem crer, isto me custou caro, muitas vezes, quando a única coisa que deveria fazer seria não dizer nada. E até ser recompensado por isto.
Felizmente, para me consolar da minha incapacidade de dizer sim, de balançar a cabeça em aprovação com o que não concordo, leio, em meu socorro, Cass R. Sustein, um professor de Direito da Universidade de Chicago (EUA), que defende que uma única manifestação individual que se opõe ao comportamento dominante, mas que é sensata e correta, pode desmobilizar toda uma conduta equivocada ou conformista da maioria das pessoas. Ufa! Que alívio! Por causa disto tomo a liberdade, a partir do pensamento de Sustein, de me opor à ideia ruim, e dominante, do senso comum de que os políticos podem fazer o que bem entendem e que é melhor as pessoas não baterem de frente com as autoridades. Não concordo e lembro o famoso caso da costureira Rosa Parks que, ao se recusar a ceder o lugar a um branco no ônibus, criou uma verdadeira revolução que iria alimentar todo o movimento negro norte-americano, ou seja, um pequeno gesto, de fato, muda tudo. É tanto a acumulação quanto o efeito borboleta, mas, como tudo na vida, tem seu tempo.
Interessante também é que Sustein sustenta que o conformismo é natural ao ser humano. Rotineiramente, até para se viver melhor, adotamos comportamentos aprovados pela maioria. Ou seja, buscamos naturalmente a aprovação dos outros e, para isto, muitas vezes, fazemos as coisas como todos fazem. Tendemos, portanto, mais para a concordância que para o dissenso, bem, como, exceto os encrenqueiros por natureza, evitamos situações em que somos a voz dissonante. Ocorre que o professor alerta que este tipo de atitude pode levar a variados problemas sociais, ao calar as vozes de mais inteligentes e de maior bom senso. Aqui me parece se enquadra bem a situação política brasileira atual que parece desvirtuada, com a oposição amortecida pelo conformismo ou pelo oportunismo, colaborando para que a sociedade permaneça inerte, sem fazer algo contra os desmandos políticos que chega ao cúmulo de querer fazer do errado certo, do desrespeito as regras uma constante, e da tentativa de continuidade de qualquer forma, inclusive com o uso escancarado da mídia, para vender como grandes realizações um governo cujos avanços foram mínimos numa época em que deveríamos ter crescido a taxas muito maiores e que, como maior pecado, ostenta os pífios resultados obtidos na área da educação que é a base do verdadeiro desenvolvimento.
O Brasil precisa de oposição que mostre como o governo Lula tem sido ineficiente na criação da cidadania e do desenvolvimento. Por isto é interessante ler Sustein que argumenta que as sociedades, organizações e grupos que punem os que discordam do pensamento ou das ideias dominantes tendem a ter menos êxito. É da diversidade de ideias que nasce o sucesso e não do pensamento único do nosso “iluminado” presidente. Mas do que nunca é preciso cultivar a cultura do contraditório.
Estou convencido que é preciso incentivar o dissenso. O perigo real para o país é a continuidade, a concentração do poder político nas mãos de poucas autoridades e, como tem sido feito subrepticiamente, a tentativa de comprar ou intimidar políticos e cidadãos inclusive com a sistemática execração de que sejam de “direita”, “contra os pobres”, “elite” e por aí vai. È preciso sim divergir com argumentos e não hostilizar o próximo por ter opinião e contestar. São os autoritários que desejam o partido único, o pensamento único, o endeusamento da personalidade. Os democratas sempre serão a favor do dissenso.
Fonte: Sílvio Persivo (Drº em Desenvolvimento Sustentável)
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