Quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009 - 17h10
Esta semana fiz duas leituras completamente diferentes. Uma do escritor recém-falecido John Updike, reproduzida pela revista Veja, do seguinte trecho: Minhas amizades com autores e críticos tentando seguir carreira nos países comunistas e do Terceiro Mundo tornaram-me um apreciador das liberdades e oportunidades que gozo como americano. Eu amo o governo do meu país por sua tentativa de, num mundo tão precário, preservar uma ordem pacífica na qual o trabalho é possível e a felicidade pode ser buscada não para o bem do estado, mas num estado que existe para o nosso bem. Eu amo o meu governo no mesmo grau e medida em que ele me deixa em paz. É um depoimento sólido de quem vê como é difícil ter, e valorizar, a liberdade política. Neste ponto, não posso deixar de ser um admirador da democracia norte-americana, sem igual em criar espaço para o cidadão. Como brasileiro sei como o governo pesa no bolso e na vida criando obstáculos para que se tenha uma vida melhor. Porém, aqui, Updike, toca num ponto fundamental: a construção de respeito às regras, de confiança social mútua, de respeito aos valores.
È o grande contraste em relação à outra notícia que li sobre as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Nela houve um jogo de enganos e de traições. Claro que o homem trai seu semelhante desde os tempos mais remotos. Pode-se dizer que é um traço inato da humanidade. Mas, a vida em sociedade somente progride, somente cria o que nós chamamos de desenvolvimento quando passa a haver o cimento da confiança entre as pessoas. Todas as culturas condenam a traição por ser um sintoma de atraso, de falta de desenvolvimento inclusive mental. É emblemático o beijo de Judas na face de Jesus que tornou-se símbolo máximo da traição dissimulada. O apóstolo matou-se sufocado pelo peso da consciência e, mesmo assim, o termo Judas é sinônimo de traidor. È triste ver que as eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado são exemplos de como trair virou uma fato normal na busca de objetivos. Claro que trair na política não é novidade. Em geral os políticos traem prometendo coisas que não vão fazer. Triste, porém, é ver a desfaçatez com que os parlamentares falavam na traição de colegas como estratégia para eleger seu candidato e não se vê indignação nem protestos da opinião pública com o jogo de traições na cúpula do poder nacional. È um péssimo sinal. Quando trair vira um valor, é sinal de que há algo de muito errado na nossa sociedade. É uma questão de princípios. Princípios? Isto parece uma coisa do passado quando se observa que um mesmo partido age, em dois lugares de forma completamente diferente, de acordo com os seus interesses locais. O que vale é o poder a qualquer preço. Pode-se mantê-lo, mas, condenando a sua própria sociedade ao atraso.
Fonte: Sílvio Persivo / www.gentedeopiniao.com.br
silvio.persivo@gmail.com
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