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Silvio Persivo

As perspectivas depois da crise do coronavírus


As perspectivas depois da crise do coronavírus  - Gente de Opinião

Os setores mais ricos, aliados com a esquerda supostamente progressista, até por oposição à Bolsonaro, mas, sem nenhuma consideração pelas consequências econômicas, nos dois últimos meses, criaram tanto ruído nos meios de comunicação e nas redes sociais, que, embora seja o desejo majoritário da população mais pobre, esta não teve força, nem  pressão política suficiente, para conseguir o avanço na liberação das atividades. O fato é que, como há um equilíbrio de forças, entre as tendências pró e contra o isolamento, isto acabou privilegiando o combate à covid-19, em detrimento da economia, em que pese o peso crescente da insatisfação da população pelo sofrimento causado. O mal está feito. Não tem mais como serem recuperadas as empresas falidas, os empregos perdidos, a produção não realizada. Os custos disto são sentidos pelas finanças das empresas que sobreviveram e que, por pior que estejam, se preparam para o passo seguinte de aceleração e investimento que terão que tomar em relação ao seu futuro. Neste contexto, existe a angústia de se ter que agir diante de um quadro de grande incerteza que deve se seguir à crise. Considerando o histórico de crises recentes e de epidemias passadas, algumas premissas são possíveis de se perceber como bases para uma orientação nas tomadas de decisões:

·       Uma expectativa lógica, embora um pouco distanciada da realidade, é a de que as pessoas tentarão reconstruir o estado anterior, pré-crise. Muitos dos esforços terão a direção do resgate da vida anterior.

·       Como pano de fundo será inevitável a busca de medicamentos, tratamentos e vacinas eficazes para o covid-19.

·       Embora existam muitos arautos da tese de que “o mundo não será mais o mesmo” as mudanças são lentas, o que não quer dizer que não existirão, mas, em linhas gerais, as coisas seguirão o mesmo curso.

·       A crise não atingiu a todos da mesma forma. Assim as diferenças de setores, geográficas, de tamanho e de capacidade de inovação gerarão dificuldades e oportunidades particulares para pessoas e empresas.

·       Em que pese as polêmicas sobre a retomada das atividades, mesmo que não vá ocorrer, como muitos preveem um retorno em ‘V’, depois de seis meses, ou um ano, deve haver um crescimento econômico forte resultante das oportunidades represadas pela crise. Este tem sido um comportamento histórico no capitalismo.

·       Ninguém substitui sua ação nem sua iniciativa. Isto também acontece com as empresas. A recuperação, mais rápida ou mais lenta, é sempre resultado da ação, das iniciativas que são tomadas para ocupar o seu espaço no mercado. E vai crescer mais quem estiver atento as necessidades que surgirão.

·       É esperado que os governos, preocupados com sua economia, atuem no sentido de propiciar mais recursos e mais crédito, com taxas de juros mais baratas. No caso brasileiro, isto deve ser essencial em especial para as micro e pequenas empresas. Nem todas, porém, irão conseguir acesso (e outras, talvez, nem resistam), mas, as finanças serão um fator essencial para o futuro próximo.

Um componente decisivo para o sucesso no futuro próximo será a velocidade com que as empresas irão ganhar espaço no mercado, inclusive substituindo as que foram engolidas pela crise. Em outras palavras, as empresas terão que ter não apenas a necessidade de sobreviver, mas, devem se preparar para crescer e inovar. Esta inovação não será, como muitos pregam, nem um retorno ao mundo antigo, nem um “novo mundo” e sim uma mistura do antigo com adaptações possíveis para o ambiente que mudou com o vírus, criou algumas novas preocupações e expectativas que devem ser captadas e atendidas. Em particular terá que se ter atenção a fatores novos como a tecnologia 5G, o uso da Inteligência Artificial, a tendência de se procurar trabalhar em casa ou próximo do trabalho, uma tendência de minimalismo, que irá passar também pela busca de maior acesso aos bens, ao invés de posse e uma maior busca de lazer, de leveza, mas, com algum componente de isolacionismo. Muitas empresas irão depender muito mais de suas próprias iniciativas do que dos programas de ajuda, porém, vão precisar de parcerias em setores que não dominam, bem como terão que reavaliar seus fornecedores, a logística e seus produtos sempre buscando oferecer mais com menor custo. Certamente isto significará uma ampliação do uso de aplicativos, ou, usando o termo correto, uma “uberização”, que será essencial para a sobrevivência. Ainda que a crise tenha sepultado muitas empresas somente acirrou a necessidade de maior competitividade, ainda que criando problemas para os insumos e produtos importados. Será um traço novo, neste cenário, a tentativa de diminuir a dependência de produtos externos, que já se percebe nas campanhas do tipo compre no seu estado, ou no seu bairro, mas, como se sabe, a eficácia desta tendência depende sempre dos preços. Ninguém compra mais caro por patriotismo ou regionalismo. Assim, embora as empresas possam, de fato, ter um diferencial por pertencerem a uma região ou estado, se não tiverem um preço competitivo ou um diferencial que justifique a aquisição de seu produto é melhor não contar com a fidelidade de seus consumidores locais. Uma coisa que não se altera, com certeza, no pós-crise são os fundamentos econômicos. Oferta e procura, custos, competitividade continuarão a ser elementos essenciais para as empresas até onde se pode avistar no ambiente econômico do presente século. Portanto, entre as perspectivas para se ter sucesso, não se poderá abrir mão de ter um produto de qualidade por um preço menor ou ter um produto diferenciado por suas qualidades. Ou seja, as perspectivas pós crise não mudaram tanto assim. Ser competitivo ou diferenciado ainda será essencial.

Ilustração: https://worthwhile.com/

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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