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Gente de Opinião

Silvio Persivo

Bakunin conhecia a alma de Lula


  

Silvio Persivo (*)

O que não perdôo em Lula da Silva é a desfaçatez com que faz hoje o que, ontem, criticou. Lembro que, quando ainda sindicalista, sem a menor cerimônia chamou de “ladrão” os senadores Sarney e Collor com os quais, no momento, se abraça. Mas, o pior de tudo, é que quem, no passado, foi o maior crítico da corrupção pode se orgulhar do recorde de escândalos que “nunca antes houve neste país”. É um fato indiscutível que antes não se havia visto nada igual aos vídeos que mostraram integrantes do governo recebendo propina e gerando o famoso “Mensalão”que, depois, foi transformado, por obras de artes marqueteiras, em caixa 2 para a arrecadação de recursos ilícitos para o financiamento de campanha.

É até fastidioso enumerar a série de escândalos impunes que chega agora ao fundo do poço (é o que se espera, mas, nunca se sabe) com a série infindável de denúncias que enxovalham o Congresso e salpicam os demais poderes. É um contraste, que somente se explica pela necessidade de criar factóides, que o mesmo governo que “espetacularizou” as ações da Polícia Federal assine um acordo com os outros Poderes para fazer, o que seria feito, se apenas se respeitassem as regras e, para tornar o espetáculo ainda mais dantesco, com o presidente dizendo que “Ninguém aqui é freira ou santo, e não me consta que no convento também não haja briga”.

Ou seja, daqui a o pouco vai considerar natural os desvios das cotas das passagens aéreas das mordomias parlamentares, para financiar viagens ao exterior ou para a folia do carnaval dos convidados do deputado Fábio Faria (PMN-RN).  Para quem entende que é elastecer demais o raciocínio basta lembrar que o presidente disse que "Fazer a minha sucessão é uma tarefa gigantesca. Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que a companheira Dilma seja a candidata do PT e dos partidos”. E, para tal, não tem poupado esforços seja reunindo prefeitos, distribuindo recursos para Estados e Municípios, prometendo investimentos, aumentando salário mínimo, não contendo gastos, desonerando impostos e, por último, prometendo fazer um milhão de casas e aumentando o Bolsa Família.

É claro que a alegação em defesa de suas atitudes pode ser sempre a de que todo mundo faz do mesmo jeito, mas, o que se esperava de quem pregou que não tem brasileiro capaz de julgá-lo em termos de ética e de moral seria bem mais do que este triste espetáculo de tentar eleger alguém a qualquer preço. Infelizmente, como tantos outros, o Lula dos palanques dá toda razão a Bakunin que, numa discussão contra Marx, disse sabiamente que: “O governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana. "
 
(*) È Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UNIR

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