Quarta-feira, 14 de novembro de 2018 - 12h20
Silvio
Persivo (*)
A
História é sempre passível de interpretação. O problema é que, muitas vezes, a
reinterpretação se afasta tanto dos fatos reais para atender interesses
concretos que a ficção se impõe como versão aceita. Como os historiadores, em
geral, são de esquerda, as revisões estão ficando, cada vez mais, ficções da
ótica dos oprimidos.
Tudo bem. Que a história é mutável e depende dos tempos não se discute, mas, convenhamos, a reestruturação da história tem que ser vista com bom senso e sem a ótica, burra por sinal, do bom mocismo e do olhar do oprimido. Que se deseje um mundo mais justo, tudo bem. Que se lute por mais oportunidades para todos, nada mais justo. Porém, a ideia de rever toda a história, inclusive de episódios, supostamente, heroicos de uma perspectiva diferente, com o olhar do oprimido me parece, sinceramente, uma forma radical e pouco frutífera de rever a história. É, sem dúvida, o esquerdismo no seu modo mais puro, a famosa e infeliz doença infantil do comunismo levado ao seu grau extremo.
A ironia é que a revisão acontece por decisão do Conselho Municipal de Los Angeles, que resolveu remover a estátua de Cristóvão Colombo de um parque. É claro que teve uma participação ativa de grupinhos universitários de esquerda e do apoio de facções indígenas, inclusive com descendentes de povos indígenas aplaudindo a retirada e documentando-a em seus smartphones. A justificativa da retirada foi a de que o navegador de Gênova está associado demais à escravidão e à brutalidade para que seja homenageado com um monumento!!!! Claro que teve até apoio externo, inclusive do ínclito presidente boliviano, Evo Morales, que congratulou, pelo Twitter, a decisão do Conselho Municipal de Los Angeles: "Concordamos que o chamado descobrimento foi o maior genocídio e um roubo dos nossos recursos naturais."
Bem, é preciso ver que a história sempre foi escrita pelos vencedores e, por conseguinte, é possível sim pensar em se rever qualquer coisa ou também grupos não concordarem com a versão dominante. O grande problema é que Los Angeles, e seu nome, são de origem espanhola. A cidade foi fundada, em 4 de setembro de 1781, pelo governador Felipe de Neve, que inaugurou o primeiro assentamento com alguns espanhóis, índios e escravos, grupo ao qual chamou “O Povo de Nossa Senhora da Rainha dos Anjos de Porciúncula”, em homenagem à Ordem franciscana, 275 anos após a morte do descobridor. Ou seja, na prática, como afirmam, principalmente de professores espanhóis, a imagem do Colombo genocida e brutal não poderia ser associada a nenhum ato que o navegante tenha praticado, de vez que , inclusive nas festividades do dia da descoberta da América, em 12 de outubro, Luis Javier Argüello García, o bispo auxiliar de Valladolid, na Espanha, afirmou que este acontecimento não teve nada a ver com um presumido genocídio. Para ele, tratou-se antes de "conhecer-se mutuamente" e de "um encontro das culturas". Ele afirmou que a contratante dessa jornada, a rainha espanhola Isabel, tinha em mente motivos absolutamente íntegros e caritativos quando enviou Colombo em direção ao Leste. Daí também a retirada da estátua ter deixado muitas pessoas pasmas na Espanha. Lá, uma coisa deste tipo, é vista com desagrado, pois, o clero luta há mais de 60 anos junto ao Vaticano para canonizar Isabel, a "católica". A encomenda de um genocídio, que teria sido praticado por Cristovão Colombo, não deixa de ser um golpe na pretensão e seria uma mancha bem na biografia dela. Assim é o mundo moderno: fragmentado, difuso, sujeito às interpretações. E são sempre autoridades locais, governos transitórios que buscam reinterpretar a história. Não poucas vezes por motivos meramente políticos. Não sei se é o caso, mas, algum interesse, certamente, motivou a retirada do monumento.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª e Professor de Economia Internacional da UNIR.
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