Terça-feira, 25 de julho de 2023 - 09h50
Evidentemente
que ninguém é contra um programa que buscar retirar as famílias do
endividamento. Afinal o mérito de ser destinado, na maior parte, as pessoas de
menor renda, o programa Desenrola,
criado pelo governo federal, tem, mas, apesar da boa intenção, quem entende de
economia sabe que só vai funcionar por pouco tempo na medida em que se atacam
os efeitos e não as causas. Não há dúvida de que, teoricamente, se trata de uma
forma de fazer a economia girar aumentando o consumo via os que, hoje, estão
com o nome sujo. Este é, na verdade, o objetivo maior do programa, pois apesar
de revestido de caráter social, é uma tentativa do governo de estimular a
economia e aumentar o produto interno. O erro está na forma. Um país, para
crescer, se faz necessário aumentar a renda, melhorar o nível de emprego. A
tentativa via consumo não tem sustentação, não resolve o problema. Quem está
endividado, na maioria das vezes, perdeu um emprego, teve um negócio mal
sucedido, o que ocorreu muito durante a pandemia, ou uma doença grave e avançou
sobre o crédito usando dinheiro que não possuía. E aqui o cerne do problema: a
grande massa dos endividados não possui noções de educação financeira, não
controla seus gastos e isto em todas as faixas de renda. É claro que, para quem
está numa situação de inadimplência, o programa Desenrola, é excelente,
inclusive para os bancos, que irão receber parte de um dinheiro dado como
perdido. O grande problema é que, agora, com parte da divida o inadimplente
pode voltar a ter crédito. Com certeza vai gastar de novo e, com mais certeza
ainda, voltará a ficar inadimplente. Isto porque o problema não é financeiro e
sim derivado da falta de educação financeira. O que vejo de errado no programa
Desenrola é que, embora todo mundo seja, em tese, a favor da educação, a
prática dela não existe na ação governamental. Se existisse, a primeira
exigência do programa -assim como se faz com motoristas flagrados em casos de
bebida-deveria ser submeter a quem quisesse participar do programa da obrigação
de fazer um curso de educação financeira, com matemática básica, estudo
comportamental e estratégias para ter uma vida financeira sob controle.
Inclusive orientando sobre a necessidade da poupança e de criar um fundo para a
aposentadoria, de vez que, com os problemas da previdência, será cada difícil
se aposentar pelo INSS e se ter sustentação na velhice. Da forma como está
sendo feito o programa Desenrola irá dar um alívio temporário e um alento à
economia, porém no médio e longo prazo tende a aumentar ainda mais os problemas
do endividamento. Inclusive também possui o aspecto pouco claro sobre quais
incentivos estão sendo oferecidos aos bancos para, por exemplo, suspender,
incialmente, quem tem dividas abaixo de R$ 100,00, de vez que apenas se retira
o nome dos órgãos de cadastros negativados.
E também trata de forma desigual os inadimplentes ao fixar a negociação
somente para quem ganha até R$ 20 mil. Os que ganham mais não tem direito a
resolver seus problemas? Bom, de qualquer forma, o programa começou com a Febraban
(Federação Brasileira de Bancos) divulgando que, nos 5 primeiros dias do
Desenrola Brasil, programa teve uma adesão de 2 milhões de brasileiros com
dívidas de até R$ 100,00 e foram repactuados mais de 150 mil contratos de
dívidas, no valor de cerca de R$ 500 milhões, exclusivamente pela faixa 2,
categoria para brasileiros com renda mensal de até R$ 20.000,00. Não se pode
negar o sucesso da iniciativa.
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