Sexta-feira, 21 de novembro de 2014 - 19h17
Silvio Persivo(*)
O Partido dos Trabalhadores (PT) sempre teve o problema genético de ter um viés estatista, de desejar controlar a economia e a sociedade a partir do governo. Se, com Lula da Silva, este, pelo menos, conservava canais de comunicação com a sociedade para diminuir os impactos das intervenções, o mesmo não ocorreu na gestão Russef. Esta se caracterizou por impor à sociedade, cada vez mais, uma filosofia e uma política que contraria os princípios básicos de uma sociedade democrática e pluralista, e o que deve ser a bússola mais importante para orientar a vida econômica, que é a lei da oferta e da procura, que, foi, sistematicamente, desrespeitada no seu governo.
Entre os graves equívocos que se observa fica patente que a intromissão demagógica sobre os preços de bens e serviços, em especial, na formação de preços dos combustíveis, da energia e dos transportes urbanos foi o mais extremamente danoso. Porém, não se pode esquecer de outros também nocivos, como a utilização indevida da taxa de câmbio para controlar a inflação e atrair e proteger capitais estrangeiros especulativos, o descompasso entre a política salarial e o aumento do salário mínimo efetuando transferências de rendas sem qualquer atrelamento à produtividade do trabalho, a utilização da Selic, taxa de juros básico, fixada com preocupação única de regular a demanda agregada e, por fim, o crescimento dos tributos e, em alguns casos, da burocracia aumentando o preço que a sociedade paga para manter um estado obeso, perdulário e ineficiente.
Por todos estes equívocos estamos chegando num cruzamento perigoso na medida em que, como não existe almoço grátis, será preciso mais recursos para manter o equílibrio fiscal e monetário. A tentativa, ora em curso, de aprova proposta que modifica a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) para ampliar o abatimento da meta de superávit primário para 2014 (PLN 36/14), enviada pelo governo ao Congresso, já demonstra que estamos chegando ao limite das possibilidades da política atual que não tem mais como gerar crescimento e sim ser motivo de instabilidade. O problema é que a presidente Dilma, reeleita, terá enormes dificuldades de corrigir os equívocos da política econômica derivados da administração ruim do sistema de preços com a eclosão do escândalo do Petrolão. Tendo que reorganizar o governo, e sua política econômica, a presidente tem contra si, além do fato de que quase tudo aconteceu no seu governo ou quando era presidente do conselho da estatal, a taxa de juros, que é o principal instrumento para combater a inflação, tem sido usada mais como instrumento para atrair recursos estrangeiros e coibir o déficit previsto de US$ 80 bilhões das contas externas ao mesmo tempo que são gastos R$ 250 bilhões anuais de juros sobre a dívida externa no momento em que o país, praticamente, estagnou. A impressão que fica, enquanto não se tiver uma resposta, mais consistente é que o governo não sabe aonde quer chegar e, por isto mesmo, age ao sabor do momento, reativo apenas às circunstâncias.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sócio-Ambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da UFPª e professor de Economia da UNIR.
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