Domingo, 27 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Silvio Persivo

Governos e prefeituras, os novos protagonistas forçados


Governos e prefeituras, os novos protagonistas forçados - Gente de Opinião

O enfrentamento do novo coronavírus exige mudanças estruturais nas políticas públicas e coloca prefeituras e governos na linha de frente do atendimento das demandas mais urgentes da população

 

Nenhuma das últimas crises econômicas ou políticas pelo qual o Brasil passou pode ser comparada com a atual. É, de longe, a pior tanto que provocou mudanças substanciais. Uma delas é o aumento da responsabilidade das prefeituras e dos governos estaduais para prover os seus cidadãos as necessidades mais urgentes diminuindo a dependência da federação. O momento atual evidencia muitos problemas estruturais que o País sempre teve, mas, coloca em xeque, principalmente,  o pacto federativo, levando a que se dê mais autonomia e mais dinheiro federal para os estados e municípios, favorecendo que os gestores públicos tenham um pensamento mais empresarial. Com a disseminação do vírus processa-se também uma necessidade cada vez maior de atuação local.  

Um sintoma disto foi que, no último dia 23 de março, o presidente Jair Bolsonaro disse, durante videoconferência com governadores da região Norte, que a proposta de um novo pacto federativo incluirá uma cláusula de calamidade pública. “O Governo Federal propõe a estados e municípios, a inclusão de uma cláusula de calamidade pública, onde recursos extras poderão ser utilizados para atender as necessidades locais por ocasião do enfrentamento de uma situação adversa”, comentou depois o presidente nas redes sociais.Ainda segundo o presidente seria feito o envio das PEC nºs 186, 187 e 188 e PLP 149 relativas ao pacto federativo e à autonomia dos estados e municípios para gestão e aplicação de maior quantidade de recursos nas áreas sensíveis de cada região, tais como; saúde, segurança e educação.

 

CRISE E ENDIVIDAMENTO

É fato que os estados e municípios possuem um histórico de endividamento muito grande e agora foram pegos de surpresa com a nova crise. Com isto se cobra, cada vez mais,  a presença do governo federal na ajuda aos governos estaduais e municipais. No último dia 14 de abril, a equipe econômica do governo federal propôs medidas de ajuda aos estados e municípios, de R$ 77,4 bilhões. Deste valor, R$40 bilhões seriam transferidos aos estados e municípios (serão R$ 21 bilhões para os municípios e R$ 19 bilhões para os estados) distribuídos em investimentos na saúde, assistência social, alimentação nas escolas, além de investimentos livres nas áreas de maior necessidade para o combate da pandemia. Além disto, a equipe econômica propôs a suspensão de R$ 22,6 bilhões em dívidas com a União, sendo a maior parte dos estados (R$ 20,6 bilhões), e a suspensão de dívidas dos estados e municípios com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 14,8 bilhões (R$ 10,6 bilhões dos estados e R$ 4,2 bilhões dos municípios).É um dinheiro que ajudará a transpor a crise e combater ao coronavírus evitando a burocracia da Lei nº8.666/93 (lei que regulamenta as licitações e contratações públicas) e que, sem dúvida, acelerou o processo de maior protagonismo dos estados e municípios. Mesmo que à força estão se criando novos modelos, novos formatos de ação que mudam as condições políticas no médio e longo prazo.  Os governadores e prefeitos foram obrigados a tomar, inclusive, com os ônus de medidas amargas e impopulares como o fechamento do comércio por exemplo. Isto demonstra uma maturidade gerencial que não havia antes.

 

MUDANÇAS, ATRITOS E NOVOS PROCESSOS

Também as mudanças não se processam sem atritos, pois, Bolsonaro critica, abertamente, alguns estados e prefeitos por, no entender dele, precipitadamente terem paralisado as atividades econômicas. E, com razão, reclama que criam grandes problemas em relação à arrecadação e desejam que o governo federal abra suas burras para sanar os problemas deles. Mas, mesmo entre os governos e os municípios existem atritos sobre a gestão da crise na medida em que ninguém quer arcar com os ônus acarretados pela necessidade de atender os elevados custos do combate à pandemia. E é muito difícil, para qualquer dos níveis governamentais, dar respostas rápidas ou ser capaz de conter os seus efeitos. Contudo, se o problema obriga a uma maior proximidade dos governos estaduais e dos governos estaduais com a federação, isto não resolve os problemas políticos na medida em que as pressões do setor privado são completamente diferentes nos três escalões e os prefeitos ficam muito mais sujeitos às pressões locais. De qualquer modo será preciso lidar com  a iniciativa privada e ter mais flexibilidade às suas demandas, o que tem sido dificultado pela justiça e os ministérios públicos. Na prática essas instâncias tem tido também um protagonismo além do normal intervindo nas decisões dos dirigentes e dificultando o enfrentamento da crise, a partir de seus critérios e sem levar em conta que a responsabilidade pública é dos que foram eleitos pelo voto popular. E isto dificulta porque, para sair da crise, serão indispensáveis parcerias público-privadas, concessões e a criação de modelos de participação da iniciativa privada no pós crise.  Também será indispensável a  solução dos problemas de infraestrutura, o que requer melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos estrangeiros, o que não se faz sem   uma regulamentação jurídica que dê credibilidade aos investidores internacionais. Também será preciso que os estados e municípios tenham um planejamento pautado em outros nos negócios e na economia. E o mais difícil é que também os negócios deverão ser repensados. As formas antigas, o modelo de negócios, mudou com a crise do coronavírus e, muito provavelmente, as empresas irão mudar sua forma de atuação, o que implica numa retomada dos negócios onde haverá mais preocupação com a modernização, o que deve implicar em menor uso da mão de obra, ou seja, os níveis de emprego dificilmente retornaram às bases antigas.

 

Fonte: Usina de Ideias. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 27 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A espetacularização nos gramados

A espetacularização nos gramados

O ex-técnico do Grêmio, Gustavo Quinteros, se queixando, com toda razão, que "Se equivocaram no Grêmio em me tirar tão cedo. No Chile e na Argentina

O que o consumidor quer

O que o consumidor quer

Hoje em dia, com a sensação existente de que a inflação está corroendo o poder aquisitivo do brasileiro, há pesquisas que demonstram 48% dos consumi

Uma iniciativa louvável em prol da aviação na Amazônia

Uma iniciativa louvável em prol da aviação na Amazônia

Um dos grandes problemas da Amazônia, sem dúvida, provém das dificuldades de transporte interno, de vez que, por exemplo, entre Porto Velho e Arique

O transporte aéreo precisa mudar de modelo

O transporte aéreo precisa mudar de modelo

A GOL Linhas Aéreas divulgou que teve um prejuízo de R$ 6,07 bilhões em 2024, quase 5 vezes maior que em 2023, fruto da desvalorização cambial, do a

Gente de Opinião Domingo, 27 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)