Quinta-feira, 7 de maio de 2009 - 11h24
Embora não tenha tido, por parte da imprensa e da opinião pública, o espaço e a discussão merecida um dos mais importantes assuntos que se encontra prestes a ser votado no Senado é, sem dúvida, o projeto que aprova o texto do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul. Há até mesmo uma certa pressa, um açodamento para que seja votado e que se aproveite a vinda do presidente Hugo Chávez, que tem encontro marcado com o presidente Lula no próximo dia 26, na Bahia, para que o país vizinho seja incluso no bloco como defende o Executivo.
Como argumento para que isto seja feito o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve recentemente em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Congresso justificando a posição do governo de apoio à entrada da Venezuela não sob o ponto de vista ideológico, que é o verdadeiro ponto de união entre Lula e Chavez, e sim pelo fato de que a Venezuela é o país com que o Brasil possui maior superávit nas relações comerciais individuais US$ 4,5 bilhões no ano passado. Por isto, segundo Amorim, a entrada do país vizinho no bloco pode ser muito vantajosa.
Bem não se discute o fato de que, num mundo globalizado, ainda mais diante de uma crise econômica, não seja melhor uma maior integração, em especial com as nações vizinhas. Todo o esforço que é feito para salvar o Mercosul advém desta base, logo o raciocínio parece adequado também para a Venezuela. Se isto é correto em tese, na verdade, não é bem assim. Isto em razão de que o governo da Venezuela é, sabidamente, marcado por um exacerbado personalismo de seu chefe que cria um ambiente político incerto, principalmente diante das sucessivas manobras de Chávez para se perpetuar no poder. É verdade que os governos passam e os países ficam, ou seja, poderia ser de bom alvitre ignorar as posições do dirigente em nome das boas relações que sempre mantivemos com o país vizinho. O problema principal disto é o de estimar se vale o preço a ser pago.
É indispensável lembrar que com a Venezuela no Mercosul, por conta do estilo imperial e passional de Chávez, com o poder de veto é dado a todos os países integrantes do bloco, este pode certamente impedir o avanço de acordos de livre comércio e das flexibilizações da Tarifa Externa Comum (TEC), negociadas, em virtude das infindáveis incompatibilidades de interesses, especialmente entre argentinos e brasileiros. Não se pode esquecer também os princípios que regem a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), a versão chavista da Alça, na qual a Venezuela tem defendido o pleito de Fernando Lugo, presidente do Paraguai, de renegociar com o Brasil o Tratado de Itaipu, bem como condenado uma das políticas mais caras a Lula que é a expansão do uso do etanol, com o aumento da cultura da cana-de-açúcar , na opinião dos chavistas, responsável por "efeitos devastadores" sobre a produção de alimentos. È claro que o interesse é outro: com o petróleo sendo sua principal fonte de receita Chávez não tem o menor interesse na produção em larga escala de combustíveis que concorram com a riqueza natural da Venezuela. Será que é um bom negócio atrair um país para a integração quando este é dirigido por quem está mais atento as bandeiras que atendam mais ao seu desejo de liderança regional do que uma efetiva integração? O balanço fica mais negativo ainda se verificamos que, por suas posições, será um grande complicador para as discussões de possíveis novos acordos com a União Européia e os Estados Unidos aos quais, seguidamente, critica. O grande perigo é que o Mercosul acabe atrelado à agenda chavista o que, na prática, significará sua efetiva estagnação.
Fonte: Sílvio Persivo (Drº em Desenvolvimento Sustentável)
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