Terça-feira, 28 de setembro de 2021 - 16h10
O capitalismo, integrando países
e fluxos mundiais de comércio, tecnologia e investimentos, melhorou, de forma
sustentada, os padrões de vida de diferentes regiões, nos últimos quinhentos
anos. A boa observação demonstra que a maior pobreza e as maiores misérias se
encontram em regiões não tocadas pelas políticas que os adversários
classificam, hoje, de neoliberais. Nem vou discutir que neoliberalismo é uma
falácia, mas, de nada adianta a razão contra os que vociferam contra o
capitalismo até porque, na prática, costumam acusar de neoliberal quem defende
as ideias econômicas ortodoxas e que se comprovaram como socialmente válidas
para melhorar a vida das pessoas. Risível é que acusam o capitalismo também, de
gerador de crises, como se as crises não fosse inerente a todos os tempos e
épocas, como também se proclama a incapacidade dos mercados se auto-regularem, e,
portanto, da necessidade do Estado para corrigir os desvios do mercado mediante
medidas de controle. Ora, bons estudiosos não desconhecem que os ciclos
ascendentes, ou descendentes, constituem algumas das características mais
interessantes e desejáveis de uma economia de mercado. É fruto da tensão constante entre os desejos humanos
infinitos e as possibilidades limitadas do imediato aumento da oferta. Também,
se analisam, descobrem que, na origem, de muitas das crises, como a do Sub
Prime de 2008 ou mesmo na do Brasil recente, estão políticas públicas
heterodoxas, que estimularam, entre outras coisas, a conivência espúria entre o
estado e o setor privado. Deveria ser um consenso-não fosse a ideologia- que os
mercados são mais facilmente capazes de se auto-corrigirem do que via os governos:
afinal distribuem com rapidez ganhos e perdas, realizando num breve espaço de
tempo os lucros (ou prejuízos) dos investimentos (bons ou maus) efetuados. Tudo
que se faz, via governo, porém precisa enfrentar o calvário do debate legislativo
(nos regimes democráticos). O processo, é verdade, pode ser feito por decreto
executivo, porém, em geral, autoritário, sem transparência, mais arbitrário e
sujeito ao jogo da corrupção. A grande vantagem relativa dos mercados é a capacidade
de mudar rapidamente, o que governos levam anos para fazer. Não sem dor, é
claro, mas de forma menos arbitrária. A grande ironia do momento é que a China,
em geral, citada como exemplo de que a direção estatal impede as crises se encontra
imersa na crise da falência da
Evergrande, sua maior empresa de construção civil, que gerou pânico nos mercado por excesso de
dívidas. O governo da China, que se comporta como qualquer governo do mundo, somente se preocupa em evitar protestos e
tomar medidas que evitem ou minimizem um efeito cascata em compradores de
imóveis e na economia. A crise, num país que, supostamente, controla tudo é
mais grave porque, dada a falta de transparência, nem mesmo se sabe o seu
tamanho. E, ironicamente, nas economias coletivas, onde sempre acontecem pela
falta de mercadorias e serviços, no caso atual provém do excesso- de dívidas e
de construções. E, pasmem, estimuladas pelo governo chinês. Nada será como
antes, depois desta crise, na medida em que a China parece, por fim, enterrar o mito de que as crises não acontecem
em economias estatais.
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