Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Silvio Persivo

O atropelamento legalizado


 Ao sair, atabalhoadamente, em defesa da manutenção de Chávez na Venezuela, que vê como uma “democracia”, embora meio esquisita para os parâmetros que definem uma, Lula da Silva, na verdade, saiu em defesa própria e, na prática, quis estabelecer que não importa o tempo que um dirigente passe no poder, mas que a questão é o seu sucesso “popular”. Em suma para quê constituições estipularem prazos para líderes tão bons quanto eles que tratam dos interesses maiores da nação e o do povo cuidando da sua felicidade? Por que subordinar a excelência a uma mera formalidade eleitoral se, por tanto tempo o princípio da alternância no poder só deu errado? Melhor ficar com Chàvez e com ele que, como se sabe, deram certo, certíssimo depois de 500 anos de incompetência governamental. E, sem discutir a forma como foram feitas, disse que “a Venezuela já teve três referendos, já teve três eleições não sei para onde, já teve quatro plebiscitos. O que não falta é discussão.” 
Bom, também deve entender que há discussão demais no Brasil. Uma decorrência natural de seu discurso é a de que, apesar de ter dito que não quer, seu companheiro Devanir Ribeiro (PT-SP) tem toda a razão em defender a convocação, também, de plebiscitos para que o povo diga que quer Lula da Silva, ou seja, o queremismo é indispensável, de vez que antes neste nunca se teve tanto êxito, nunca se deu tão certo. Ou seja, é só fazer igual a Chávez e ficar mais 25 ou 30 anos no poder ou, quem sabe, se igualar a Fidel Castro, seu impecável modelo de democracia. Afinal, quem como Lula tanto lutou contra a ditadura, um grande líder sindical, um democrata inegável jamais irá contra as leis, principalmente aquelas que lhe assegurarem poder por tempo indeterminado. Inútil, portanto, buscar comparações no presente ou no passado com este governo incomparável e infalível. Só há dois tipos de brasileiros que reclamam do governo atual: os pessimistas, que jamais enxergarão que chegamos ao ápice da perfeição e as viúvas de Fernando Henrique, enciumadas com sua superação inacreditável pelas realizações dos últimos quatro anos. Aliás, diga-se de passagem, as viúvas empedernidas porquê, como todos reconhecem, até pelos Renans, Sarneys, Romeros e Jobins, nunca antes houve neste país dois governos tão parecidos no uso da máquina do Estado e na perseguição aos servidores públicos e assalariados. 
Lula da Silva, por mais que negue, como não teve e nunca terá nenhum pudor em fazer qualquer coisa para permanecer no poder, ao defender Chávez, de fato, está defendendo a necessidade de deixar uma porta entreaberta no caminho do 3º mandato. Em última instância, defende que a continuidade é legal quando o dirigente tem êxito mesmo contra a lei. Não chega a ser nenhum primor de tese de Direito nem de lógica, mas, para que servem se não se adaptam aos desejos do Grande Timoneiro? O atropelamento, desde que em proveito próprio, é razoável e legal.
Fonte: silvio.persivo@gmail.com

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Por um novo olhar para 2025

Por um novo olhar para 2025

Quando chega o fim do ano, por mais difícil que a vida esteja, as esperanças são renovadas. Até quando se pretende negar sempre colocamos uma boa ca

Acordo Mercosul-EU e seus efeitos

Acordo Mercosul-EU e seus efeitos

Nesta última sexta-feira (6) foi anunciado o acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia. O governo brasileiro comemorou o fato com

Os tempos difíceis

Os tempos difíceis

Que tempos não são difíceis? Há tempos que não o são? Sei lá. Sei que é difícil viver em qualquer época e, como não vivemos as outras, a nossa sempr

Os prováveis efeitos negativos de uma jornada menor de trabalho

Os prováveis efeitos negativos de uma jornada menor de trabalho

Na imprensa, e entre os adeptos de soluções fáceis para os problemas sociais complexos, ganhou imenso espaço, e a adesão espantosa e, possivelmente,

Gente de Opinião Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)