Domingo, 18 de novembro de 2007 - 07h36
Ao sair, atabalhoadamente, em defesa da manutenção de Chávez na Venezuela, que vê como uma “democracia”, embora meio esquisita para os parâmetros que definem uma, Lula da Silva, na verdade, saiu em defesa própria e, na prática, quis estabelecer que não importa o tempo que um dirigente passe no poder, mas que a questão é o seu sucesso “popular”. Em suma para quê constituições estipularem prazos para líderes tão bons quanto eles que tratam dos interesses maiores da nação e o do povo cuidando da sua felicidade? Por que subordinar a excelência a uma mera formalidade eleitoral se, por tanto tempo o princípio da alternância no poder só deu errado? Melhor ficar com Chàvez e com ele que, como se sabe, deram certo, certíssimo depois de 500 anos de incompetência governamental. E, sem discutir a forma como foram feitas, disse que “a Venezuela já teve três referendos, já teve três eleições não sei para onde, já teve quatro plebiscitos. O que não falta é discussão.”
Bom, também deve entender que há discussão demais no Brasil. Uma decorrência natural de seu discurso é a de que, apesar de ter dito que não quer, seu companheiro Devanir Ribeiro (PT-SP) tem toda a razão em defender a convocação, também, de plebiscitos para que o povo diga que quer Lula da Silva, ou seja, o queremismo é indispensável, de vez que antes neste nunca se teve tanto êxito, nunca se deu tão certo. Ou seja, é só fazer igual a Chávez e ficar mais 25 ou 30 anos no poder ou, quem sabe, se igualar a Fidel Castro, seu impecável modelo de democracia. Afinal, quem como Lula tanto lutou contra a ditadura, um grande líder sindical, um democrata inegável jamais irá contra as leis, principalmente aquelas que lhe assegurarem poder por tempo indeterminado. Inútil, portanto, buscar comparações no presente ou no passado com este governo incomparável e infalível. Só há dois tipos de brasileiros que reclamam do governo atual: os pessimistas, que jamais enxergarão que chegamos ao ápice da perfeição e as viúvas de Fernando Henrique, enciumadas com sua superação inacreditável pelas realizações dos últimos quatro anos. Aliás, diga-se de passagem, as viúvas empedernidas porquê, como todos reconhecem, até pelos Renans, Sarneys, Romeros e Jobins, nunca antes houve neste país dois governos tão parecidos no uso da máquina do Estado e na perseguição aos servidores públicos e assalariados.
Lula da Silva, por mais que negue, como não teve e nunca terá nenhum pudor em fazer qualquer coisa para permanecer no poder, ao defender Chávez, de fato, está defendendo a necessidade de deixar uma porta entreaberta no caminho do 3º mandato. Em última instância, defende que a continuidade é legal quando o dirigente tem êxito mesmo contra a lei. Não chega a ser nenhum primor de tese de Direito nem de lógica, mas, para que servem se não se adaptam aos desejos do Grande Timoneiro? O atropelamento, desde que em proveito próprio, é razoável e legal.
Fonte: silvio.persivo@gmail.com
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