Silvio Persivo (*)
Como será o comércio em 2030? Mais sustentável e inclusivo? Estas foram perguntas que nortearam o debate na edição 2018 do Fórum Público da Organização Mundial do Comércio (OMC), que aconteceu entre os dias 2 e 4 de outubro, em Genebra, na Suíça. O que ficou patente no encontro foi que as mudanças tecnológicas e sociais provocarão uma grande transformação da sociedade e vão gerar novos hábitos de consumo, fazendo com que o ato de ir às compras no futuro seja muito distinto do de hoje. Uma das expectativas é a de que, em 2030, o varejo será lazer, com as fronteiras, entre ambos, desaparecendo, de vez que as experiências de compras únicas e personalizadas para consumidores serão cada vez mais digitais. A expectativa também é de que o acesso aos bens predomine sobre a sua posse. Outra previsão é a de que a cadeia de abastecimento irá adaptar-se a prazos de entrega cada vez mais curtos. As mudanças na procura e as possibilidades ofertadas pelas novas tecnologias vão fazer com que os processos de produção se tornem mais locais com a produção feita por impressão 3D e 4D, o que impulsionará o comércio. Os clientes forçarão os varejistas a caminhar mais no sentido da omnicanalidade, integração entre todos os canais, de tal modo que a norma será comprar o que se quiser, como e quando se quiser, o que irá requerer uma interação mais intensa entre as empresas e a logística. A loja física deve continuar a desempenhar um papel importante na comunicação da marca e na atração do cliente. E mesmo os negócios puramente on-line, chamados de "pure players", amparados na análise de dados, acrescentarão lojas físicas ao seu canal online.
Uma tendência que parece inevitável será das cidades reduzirem a prioridade dos veículos. Decorrente disto a necessidade de criação de jardins e praças e de ambientes mais acolhedores. Isto deve levar a uma revalorização dos centros das cidades, mais amigáveis para os pedestres, e com uma maior dinâmica e atividades como os festivais urbanos, pois, o lazer deverá ganhar maior expressão nessas áreas. Na verdade, os centros comerciais serão comunidades de uso misto e incluirão todos os elementos para a vida cotidiana, misturando escritórios, varejo e áreas residenciais. E passarão a incluir novos serviços, como ofertas educativas, espaços de co-working, zonas de armazenagem e serviços de saúde. Com o aumento das vendas online serão necessárias menos lojas para cobrir um mercado. Em contrapartida, os consumidores serão mais exigentes e cobrarão experiências mais personalizadas. A tecnologia digital reformulará as lojas físicas para melhorar a experiência de compra e reduzir custos. E não será nenhuma surpresa a introdução de com robôs no varejo para a automatização de processos. O Big Data e análise de dados aprofundará o poder de previsão e o entendimento das emoções dos clientes. É varejo concorrerá com o lazer focado na personalização de produtos para manter a fidelidade dos clientes. Surgirão novas soluções que não se tem como prever, mas, veículos autonômos recolherão os produtos devolvidos em casa dos clientes ou em pontos definidos. A logística recorrerá à analise de dados para serem mais eficazes, o que tornará os processos de entrega e devolução bem mais eficientes. O artesanato, em 2030, será um novo segmento do comércio. O consumidor está cada vez mais interessado em produtos artesanais e marcas locais devido ao aumento da procura por experiências únicas e autênticas, daí, o número de negócios independentes deve aumentar. Além disto, as próprias grandes cadeias de varejo vão desenvolver conceitos e marcas com aparência independente para ocupar uma parte deste mercado. Não há dúvida de que a beleza e a saúde serão setores que ganharão imenso impulso. Graças ao Instagram, Facebook e da vontade de aparecer continuamente, os negócios da beleza e cirurgia estética, focados na melhoria da imagem, tendem a ter um forte crescimento, bem como a procura de bem-estar fará crescer os serviços de "wellness" e as lojas de alimentação .
Nos combustíveis, os a previsão é do surgimento de mini hubs logísticos. Os serviços serão centrados nos veículos elétricos, porém, incorporarão mais oferta de comércio e de lazer devido aos tempos de espera dos carregamentos. Devido à sua localização, converter-se-ão também em locais de mini distribuição e incluirão diferentes opções de ponto de retiradas de mercadorias (os "click & collect"). O que parece ser uma tendência consolidada é a de que os consumidores serão mais sensíveis às experiências do que para a aquisição de bens, o que aumentará o nível de competitividade. Na prática desparecerão as grandes diferenças de preços entre os artigos de luxo e os comuns e o consumidor tenderá a compras no curto prazo, com os produtos baratos, ou no longo prazo, com os produtos de maior qualidade.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª e Professor de Economia Internacional da UNIR.
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