Terça-feira, 24 de março de 2020 - 09h47
O
presidente Bolsonaro não é um homem que se possa dizer que seja refinado, nem
culto, nem que se destaque por manejar as palavras, enfim, por ser um sofista.
Muito ao contrário, o seu estilo seco e grosso é, por assim dizer, um traço de
sua personalidade. Seu traquejo na arte da diplomacia deve ser comparado a
fineza de um elefante numa casa de louças. Para se eleger, não há como negar, o
presidente foi extremamente competente, pois, só dependia dele e de quem estava
sob suas ordens. Governar é outra coisa. Exige sim, buscar formas de
cooperação, de consenso, até mesmo ceder, o que se considera razoável, em
certas horas. Bolsonaro é intransigente, age como se todos tivessem o seu sendo
de dever, seus ideais, seus objetivos. Isto, é cristalino, não funciona muito
bem numa sociedade, como a brasileira, acostumada aos jeitinhos, aos
compadrios, aos acordos de gabinete. Isto não quer dizer que, em muitos
aspectos, ele acerte até mesmo quando contraria seus próprios seguidores e
grande parte do povo brasileiro.
Agora
mesmo o presidente Jair Bolsonaro está
sendo duramente atacado quando tem razão. Ele disse em entrevista à TV Record,
na noite de domingo, que a população
descobrirá em breve que foi enganada pelos governadores de Estados e pela
imprensa na crise causada pela pandemia do novo coronavírus e voltou a afirmar
que existe um exagero nas medidas de combate à Covid-19, doença causada pelo
vírus. Bolsonaro está coberto de razão. A forma açodada, com o fechamento
apressado dos estabelecimentos, com o esvaziamento das cidades, com restrições
ao direito de ir e vir das pessoas, com o extermínio em massa de empresas e
empregos é completamente irracional. A explicação é simples: até, agora, quando
escrevo, na noite do dia 23, a Itália, que foi o país mais atingido, teve com
uma população de 60 milhões de pessoas, e 6.077 mortos, ou seja, 0,01% da
população! No mundo todo, para 260.319 casos ativos, um total de 16.491 mortos.
São muitas pessoas? São. Mas, como ficará o mundo com uma recessão que ameaça
ser muito pior que a de 2008? Quantas pessoas, hoje, apenas no Brasil estão sem
condições de ganhar o pão de cada dia? Na verdade o desemprego, a falta de
renda, a pobreza está se alastrando mais rápido do que o vírus!!! É racional
para uma taxa de letalidade de 1% parar toda a atividade econômica? Quanto não
irá se gastar com os problemas mentais, o estresse, a desordem que virá de uma
paralisação tão brusca (e quase completa) de nossa economia? Thomas Friedman,
um dos colunistas mais influentes do mundo, afirma com razão que “Se essa for a
taxa verdadeira, paralisar o mundo todo com implicações financal. É como
um elefante sendo atacado por um gato doméstico. Frustrado e tentando fugir do
gato, o elefante acidentalmente pula do penhasco e morre”. São os pobres, os
sem emprego, os sem renda e os que ficarão desempregados que pagarão a conta.
Fechar os negócios, parar a economia pode ser a forma mais fácil de conter a
transmissão do vírus, mas, é o melhor caminho? Pode prejudicar muito mais a
sobrevivência, o sustento e a saúde das pessoas, com um custo muito maior de
vidas do que se pensa. O objetivo de salvar vidas e evitar o colapso do sistema
de saúde é nobre, mas, vale o custo de destruir nossa economia? E, para os que
não me conhecem, esclareço que estou no topo do grupo de risco: tenho mais de
70 anos e problemas de respiração, mas, penso, que os neurônios ainda funcionam
razoavelmente...
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