Terça-feira, 27 de novembro de 2007 - 07h04
Todas as vezes que o ego está inflado se torna um péssimo conselheiro. Lembro-me de uma notável consultora pernambucana que, reiteradas vezes, afirmou que de nada vale a auto-referência. Não adianta ser o maior, o melhor, o mais notável para si próprio. Na verdade é preciso, inescapável que exista o reconhecimento público. Ou seja, o melhor jogador do mundo pode não ser Pelé. Pode ser que exista escondido nos confins da China ou na Conchichina um jogador mais excepcional do que ele. Pobre de quem for, pois, conhecido e reconhecido mesmo é Pelé. De nada vai adiantar ficar gritando, esperneando lá nos ventos frios ou nas noites quentes que o bom é ele. Será tido somente como uma comprovação de desespero e, quando muito, falta de juízo, puro destempero.
O comentário vem a propósito do comportamento e dos ataques feitos ao governo e ao presidente Lula da Silva pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Só pode ser desespero, excesso de ego, falta de capacidade de criar uma estratégia capaz de virar o jogo ou, em último caso, como afirmam alguns, sinal de senilidade. Vá lá que Fernando Henrique Cardoso se julge o maior e mais competente de todos os presidentes da República. Neste aspecto, o do ego extremamente inflado, aliás, não ganha também de Lula, mas a grande diferença é que o atual presidente está ativo e muito ativo no jogo até ao ponto de querer mudar suas regras enquanto FHC é, por mais que rumine e grite, passado. É, reconhecidamente ex e não há como influir mais do que já influi até mesmo porque seu partido, a rigor, aceitou ser mero coadjuvante por não ter feito o que se esperava que fizesse: ser uma verdadeira oposição.
E fazer oposição não é atingir pessoalmente a pessoa de Lula da Silva. Não é querer desmerecer seus inegáveis créditos, mas cobrar dele as promessas que não fez, a lama em que se atolou, o caminho sem volta e sem futuro em que se encontra. E isto não se faz querendo apequenar sua estatura e caminhando, mas, efetivamente, mostrando que se, no passado, parecia saber o caminho, agora, se encontra em pleno o mar à deriva. Não combater o bom combate; não ser duro nas horas em que precisava ser duro é o grande pecado do PSDB e, infelizmente, FHC é seu símbolo-mór. Tivesse, como seria de se esperar, por ocasião do Mensalão feito todos os esforços para apear Lula do poder e, hoje, a situação seria outra. Nem FHC nem o PSDB o fizeram. Fizeram o diagnóstico errado de que Lula sangraria até o fim do mandato subestimando o poder de fogo de quem sabe fazer política (e populismo) e estava com o poder nas mãos. Deu no que deu e está dando. Lula continua a ser uma peça central na vida do país e, contra todas as expectativas, continua sendo um líder. FHC é uma sombra do passado. Suas catilinárias soam mais como um eco ou um grito de inveja vindo do passado.
Fonte: silvio.persivo@gmail.com
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