Sexta-feira, 4 de outubro de 2019 - 15h02
O
Brasil anda de pernas para o ar. Decididamente as pessoas perderam a noção das
coisas. Assisto estarrecido algumas pessoas próximas se comportarem de uma
forma que está longe de ser crível que tenha algo de racionalidade. Nem vou
citar qualquer coisa de posições políticas porque, algum tempo atrás, prometi a
mim mesmo que, dado a falta de noção (e conhecimento, inclusive histórico, que
as pessoas demonstram), não é muito sensato, nem conduz a nada, discutir
posições políticas. Vou escrever mesmo é sobre o que acontece nos campos de
futebol que, como dizem, não é só futebol. É também um retrato de nossa
sociedade. A loucura que invade nossos campos, por exemplo, se demonstra nas
agressões entre torcidas. E, faz algum tempo, se transporta para as agressões
gratuitas. A grande realidade é que futebol é um esporte. Um esporte que
apaixona e que gera muito dinheiro, mas, ganhar e perder depende de muitas
condições. Não é só o querer de dirigentes, de técnicos, de jogadores ou de
torcidas.
Neste
mundo, no Brasil, em especial, a posição mais frágil é a do técnico, mas, o
jogador também está extremamente exposto. Não importa como esteja. Se exige
dele é o resultado. E os julgamentos são implacáveis. Neymar, que é um
indiscutível craque, tem sua vida esquadrinhada, cada ato seu examinado,
pesquisado, analisado como se tivesse a obrigação de ser um ser perfeito. Cito
um jogador de grande sucesso. Porém, se exige do jogador que, além de jogar
muita bola, em toda e qualquer situação, se comporte como uma primeira dama.
Garrincha, o maior gênio, que este esporte já teve, se vivo, seria execrado por
mau comportamento e, no campo, já teria sido agredido por “desmoralizar” o
adversário. Empurraram para o campo o politicamente correto, apesar de toda a
tecnologia do VAR, não se conseguir nem correção nas arbitragens, de só servir
para impedir gols e tornar o jogo mais chato. Em suma, o que se espera, hoje, é
que, num campeonato brasileiro, como o atual, em que os times são extremamente
parecidos, todos sejam feitos de super-homens e de gentlemen. E, levada a
lógica vigente, como temos, no mínimo, doze grandes clubes, todos teriam que
ser campeões! O que é certo: ter um campeão com onze torcidas conformadas com o
fracasso de seus times ou um campeão com onze torcidas invadindo centros de
treinamentos e agredindo dirigentes, técnicos e jogadores? O que diz o seu bom
senso?
Lembro,
agora, que, ultimamente o técnico do Santos, Jorge Sampaoli, parece até um
analista do Brasil. Não que diga nada
errado. Muito pelo contrário. Tem acertado com uma frequência muito maior do
que seu time joga bola. Ele afirmou: “Vitória
gera satisfação para nós. A pressão que se gera em uma derrota chega a ser
ridícula. São críticas que chegam ao ponto de se invadir um CT. É assim que
funciona e o que temos que viver nesta profissão”. É um diagnóstico do absurdo
nosso de cada dia. O futebol, que deveria ser uma fonte de prazer e de
diversão, se transformou também numa demonstração de que a ignorância é ousada.
Não respeita a ordem, nem a civilização. Até nos tempos mais bárbaros sempre se
preservou o circo. A luta sempre foi pelo pão. No Brasil conseguiram subverter
tanto a ordem que nada é sagrado. Nem o pão, nem a igreja, nem o circo. Aí do
nosso futebol!
(*)
É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª e Professor de Economia
Internacional da UNIR.
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