Terça-feira, 14 de julho de 2009 - 18h11
A história dos grandes projetos tem sido de, certa forma, a história do infortúnio das populações locais. Afinal, como é o caso das usinas do Madeira, a intervenção e a implantação das usinas está muito além do poder local e suas conseqüências, todo mundo sabe, acontecem localmente. É claro que o mundo mudou. Hoje, as questões ambientais e a responsabilidade social das empresas obrigam a que, mesmo nos grandes projetos, haja uma atenção fundamental para os seus impactos, porém, a grande verdade é que empresa, ou qualquer projeto está limitado ao seu orçamento, ou seja, por mais responsabilidade social e cuidados que existam há um limite de recursos que podem ser despendidos para atenuar os impactos.
Na construção das usinas do Madeira, por mais que haja problemas, houve desde cedo a preocupação básica em minimizar os efeitos sejam ambientais, sejam sociais. Há em todo o seu desenrolar uma real preocupação com aspectos que, no passado, não foram levados em consideração, mas, mesmo assim não se pode deixar de reconhecer que se trata do 2º maior investimento do mundo e, portanto, ambos, correspondem ao tamanho de uma Itaipu, daí que os impactos são muito mais elevados do que os consórcios podem resolver. Em especial no que tange à infraestrutura de uma cidade como Porto Velho que é carente de todas elas. Assim a esperança de desenvolvimento que o Complexo do Madeira traz também implicou, de imediato, numa mudança fundamental na cidade que, a rigor, deveria anteceder o projeto e não houve. Está acontecendo ao mesmo tempo e, como se observa, os antigos moradores de Porto Velho são os que mais sofrem seus efeitos e sentem que não estão sendo beneficiados pelos novos investimentos o que resulta em que qualquer coisa que aconteça comecem a culpar as usinas. Encontrar um culpado é sempre mais fácil e prejudicar um grande projeto, como aconteceu agora com as queixas contra o Ibama, a forma mais fácil de pressionar e chamar à atenção.
No entanto, num momento de crise como a atual, os investimentos do Complexo do Madeira são uma benção. Tanto que segundo os dados do CAGED, em maio de 2009 foram gerados 5.361 empregos celetistas, equivalente à expansão de 3,09% em relação aos assalariados com carteira assinada do mês anterior sendo este resultado o melhor da Região Norte. Tal desempenho deveu-se ao crescimento principalmente no setor da Construção Civil (+4.367 postos). Para se ter uma ideia no período de janeiro a maio do corrente ano, houve acréscimo de 11.392 postos (+6,81) e, nos últimos 12 meses, o Estado de Rondônia foi responsável pela maior geração de empregos da Região, ao apresentar crescimento de 8,71% no nível de emprego, a maior taxa de crescimento entre todas as Unidades da Federação, equivalente à geração de +14.316 postos de trabalho. A venda de veículos novos em junho cresceu 15%, os hotéis estão lotados, mas, o comércio se queixa de problemas invadido por uma concorrência mais moderna e com margens de preços mais baixas. Enfim, o efeito inesperado parece, no fundo, ser o efeito antigo: quem não está ganhando nada com as usinas é a população mais antiga que somente sente o projeto pelo lado negativo. A vida, pelo menos por enquanto, com um trânsito maluco, os serviços mais ruins, as ruas e os locais mais lotados parece que ficou pior. O efeito inesperado das usinas é que seus maiores beneficiários estão sendo os novos migrantes que enriquecem a olhos vistos e, muitas vezes, não vistos. O mundo não é justo, é certo, mas, ninguém vê sua aldeia ser destruída sem lutar.
Fonte: Sílvio Persivo / www.gentedeopiniao.com.br / www.opiniaotv.com.br
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