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Silvio Persivo

O jornalismo tradicional continua em xeque


O jornalismo tradicional continua em xeque  - Gente de Opinião

É comum que mudanças tragam consigo oportunidades. A questão é: para quem? Esta reflexão provém do fato de que o relatório de previsões do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo, da Universidade de Oxford, que divulgou previsões sobre o jornalismo em 2024, não é nada otimista sobre este ano para a imprensa, em especial os tradicionais e a mídia impressa, tendo em vista os impactos da inteligência artificial na atividade.  Um dos insights mais interessantes é o de que as redes sociais, demonizadas sobre a questão da desinformação e pela receita publicitária abocanhada do jornalismo tradicional, influi muito na sustentabilidade financeira da imprensa. Principalmente editores se queixam de que com o declínio acentuado do tráfego de referência advindo de sites de mídia social, a receita deles cai! Parece até uma forma de castigo, no entanto, por mais incrível que possa parecer, causa preocupação aos editores o fato de que houve uma queda de 48% do trafego proveniente do Facebook em 2023, enquanto o que veio do X/Twitter recuou 27%, ou seja, com as restrições que foram feitas as mídias sociais, o jornalismo também perde, o que acaba levando à constatação do “ruim com eles, pior sem eles”.  Nic Newman, autor do relatório, prevê que mais jornais interromperão a impressão diária este ano, por conta de aumento dos custos e o enfraquecimento da rede de distribuição. Aqui o papel da inteligência artificial é muito forte, de vez que não somente o conteúdo, mas também a distribuição será turbinado por ela. A introdução das Search Generative Experiences (SGE) na internet, juntamente com chatbots baseados em IA, devem oferecer uma forma mais rápida e intuitiva de acessar informação. A previsão para o jornalismo não é positiva em relação a vários aspectos. Newman sinaliza que as mudanças tendem a reduzir ainda mais o acesso a veículos estabelecidos e tradicionais, afetando sua receita. E as formas que tem sido usadas para tentar reverter a situação, como as das empresas jornalísticas criarem paywalls e serviços pagos para compensar o esvaziamento de tráfego gerado por plataformas digitais, tem criado dificuldades ainda maiores, de vez que, em geral, não se pode cobrar muito por esses meios, bem como existe uma grande quantidade de público que se recusa a pagar para acessar informações, de modo que isto pode dificultar ainda mais a possibilidade de  atingir audiências, em especial dos jovens e com menor nível de instrução, que ficam confortáveis com as notícias geradas por algoritmos e para os quais a mídia tradicional não possui muito apelo. A realidade do jornalismo tradicional, e do impresso notadamente, é que se faz indispensável modificar suas formas de atuação. Os casos de sucesso existentes são os de um jornalismo inovador, que busca criar um conteúdo diferente ou segmentado, com a interseção de tecnologia e soluções criativas para melhorar a maneira como informa e presta serviço ao público, porém não é um caminho fácil nem se conseguiu ainda uma formula que possa servir de exemplo de sucesso. De forma que o jornalismo tradicional continua sofrendo as dores de não conseguir se renovar e obter novas formas de financiamento. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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