Sexta-feira, 26 de janeiro de 2024 - 12h31
É comum que mudanças tragam
consigo oportunidades. A questão é: para quem? Esta reflexão provém do fato de
que o relatório de previsões do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo,
da Universidade de Oxford, que divulgou previsões sobre o jornalismo em 2024, não
é nada otimista sobre este ano para a imprensa, em especial os tradicionais e a
mídia impressa, tendo em vista os impactos da inteligência artificial na
atividade. Um dos insights mais
interessantes é o de que as redes sociais, demonizadas sobre a questão da desinformação
e pela receita publicitária abocanhada do jornalismo tradicional, influi muito
na sustentabilidade financeira da imprensa. Principalmente editores se queixam
de que com o declínio acentuado do tráfego de referência advindo de sites de
mídia social, a receita deles cai! Parece até uma forma de castigo, no entanto,
por mais incrível que possa parecer, causa preocupação aos editores o fato de
que houve uma queda de 48% do trafego proveniente do Facebook em 2023, enquanto
o que veio do X/Twitter recuou 27%, ou seja, com as restrições que foram feitas
as mídias sociais, o jornalismo também perde, o que acaba levando à constatação
do “ruim com eles, pior sem eles”. Nic
Newman, autor do relatório, prevê que mais jornais interromperão a impressão
diária este ano, por conta de aumento dos custos e o enfraquecimento da rede de
distribuição. Aqui o papel da inteligência artificial é muito forte, de vez que
não somente o conteúdo, mas também a distribuição será turbinado por ela. A
introdução das Search Generative Experiences (SGE) na internet, juntamente com
chatbots baseados em IA, devem oferecer uma forma mais rápida e intuitiva de
acessar informação. A previsão para o jornalismo não é positiva em relação a
vários aspectos. Newman sinaliza que as mudanças tendem a reduzir ainda mais o
acesso a veículos estabelecidos e tradicionais, afetando sua receita. E as
formas que tem sido usadas para tentar reverter a situação, como as das
empresas jornalísticas criarem paywalls e serviços pagos para compensar o
esvaziamento de tráfego gerado por plataformas digitais, tem criado
dificuldades ainda maiores, de vez que, em geral, não se pode cobrar muito por
esses meios, bem como existe uma grande quantidade de público que se recusa a
pagar para acessar informações, de modo que isto pode dificultar ainda mais a
possibilidade de atingir audiências, em
especial dos jovens e com menor nível de instrução, que ficam confortáveis com
as notícias geradas por algoritmos e para os quais a mídia tradicional não
possui muito apelo. A realidade do jornalismo tradicional, e do impresso
notadamente, é que se faz indispensável modificar suas formas de atuação. Os
casos de sucesso existentes são os de um jornalismo inovador, que busca criar
um conteúdo diferente ou segmentado, com a interseção de tecnologia e soluções
criativas para melhorar a maneira como informa e presta serviço ao público, porém
não é um caminho fácil nem se conseguiu ainda uma formula que possa servir de
exemplo de sucesso. De forma que o jornalismo tradicional continua sofrendo as
dores de não conseguir se renovar e obter novas formas de financiamento.
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