Terça-feira, 21 de julho de 2020 - 19h22
Há uma série de pensamentos sobre a vida depois da pandemia
do novo coronavírus que me parecem irreais. As pessoas pensam, ou desejam
acreditar, que o isolamento pode provocar uma mudança profunda na forma de
pensar das pessoas, o que está longe de ser realidade. É verdade sim que altera
a forma de vida, porém, me parece que, em que pese algumas atitudes de maior
relevância em termos de solidariedade, que a crise leva mais longe ainda as
diferenciações que já existiam e eleva o grau de egoísmo das pessoas. Basta ver
que, por exemplo, muitas das pessoas que podem ficar em casa veem quase como um
crime que outras pessoas, que não podem ficar em casa, procurem meio de
sobreviver ou até mesmo façam críticas exacerbadas contra as festas de algumas
pessoas (há os que não sabem viver sem festas, em geral jovens). Mas, a crise
teve, em termos econômicos, um papel extremamente perverso: concentrou ainda
muito mais a renda. Só o sistema financeiro e as grandes empresas lucraram com
ela. E impulsionaram uma tendência profundamente anti-social que é a que,
inclusive domina a mente de muitas pessoas que se consideram defensores dos
pobres, que é a de que pensam na população mais vulnerável com os seus padrões,
ou seja, de que essas vivem (e devem) migrar para o digital. Mas, quem vive no mundo
digital? É quem pode. São os que tem mais dinheiro, os que tem acesso a
aparelhos e conexões melhores, os que podem se dar ao luxo de ficar comentando
a vida, postando nos Facebooks, no Instagram ou comentando em grupos no
WhatsApp. Mas, esta é a realidade do interior do Brasil? É a realidade das
periferias de Porto Velho? Não. Num país em que cerca de 70 milhões de adultos
não completaram o ensino médio o mundo digital é uma irrealidade. Uma sondagem
feita pela consultoria Usina de Ideias mostra, por exemplo, que 83% das pessoas
perderam renda em Rondônia e que, em Porto Velho, mais de 58% das pessoas
dependem do auxílio emergencial para viver. Não é a loucura, portanto, que fez
as filas que observamos nas agências da Caixa Econômica Federal durante a
pandemia, e sim a necessidade. Há muitos analistas, políticos e sociólogos, que
se dizem socialistas em mesa de bar, que não sabem nada de povo, que não
conhecem ninguém na Zona Sul ou Zona Leste, não conversam nem estão em contato
com essa população desassistida. Basta ver
que na Fundação Universidade de Rondônia-UNIR, em relatório do CONSUN, o
conselho universitário, sobre inclusão digital mostra que somente 12,3% possuem uma conexão
excelente e 44,4% uma boa e só 78% possuem conexão, assim mesmo grande parte
por celular. E 30% possuem computador em casa, mas, de forma compartilhada. Ou
seja, mesmo a nossa maior universidade não é digital tanto que se procura meios
de ter aulas virtuais, embora, por diversas formas, se tenha atividades
virtuais, na maioria, por plataformas externas. Então, não se espere
muito do “novo normal”. Com certeza, as coisas levam muito tempo para mudar. E
a razão está na cabeça das pessoas. Principalmente, das que pensam que sabem o
que é melhor para os outros.
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