Sexta-feira, 7 de junho de 2019 - 07h10
No
começo do ano o novo ministro da Economia, Paulo Guedes, andou apontando
caminhos que poderiam mudar muito o País. Em primeiro lugar, disse que a carga
tributária atual de 36% representa um fardo muito pesado e estava muito acima
da existente em outros países similares em tamanho ao nosso. E disse que a
carga tributária ideal para o Brasil seria de 20%, porém, que para chegar a
isto a velocidade dependeria dos gastos. E apontou o excesso de gastos na
publicidade e na compra de influência parlamentar como formas que deveriam
ajudar a diminuir as despesas. Uma parte, de fato, está aí, no entanto, o
enxugamento do governo exige mais. Exige, principalmente, que se atente aos
custos das compras, ao controle das despesas também. Fazer este dever de casa é
essencial sim para sanear as contas públicas. Ocorre que isto somente não será
capaz de mudar o Brasil. Para mudar será preciso que se faça um trabalho
profundo de desburocratização e de criar segurança jurídica para a economia.
A
segurança jurídica é uma categoria de direito que indica estabilidade nas
relações judiciais, seja na questão da não alteração arbitrária das normas
legais, seja na previsibilidade do
resultado de uma ação judicial. Este princípio serve como um dos pilares
fundamentais do estado de direito, pois,
a organização social depende da confiança que os cidadãos têm no Estado, ou seja, na confiança
de que, quando tiver um direito violado, esse estado o protegerá. Trata-se de
um princípio que, embora não inscrito na Constituição, está implícito em muitos
dos seus artigos, mas, que é continuamente desrespeitado a todo e qualquer
instante. Basta verificar que pouco países dispõem de um cipoal de leis tão
complexo quanto o Brasil. Mas, o
problema não é somente a quantidade. É o fato de que as regras do jogo mudam a
cada dia, o que deteriora o ambiente de negócios, afasta investidores e emperra
o crescimento econômico. Principalmente, os estrangeiros, de vez que nós já nos
acostumamos com a insegurança cotidiana, não conseguem entender como até mesmo
um agente público estadual ou municipal, por exemplo, com um simples parecer
afeta toda uma pratica de anos de tramitação comercial. E o que é pior: quando
se recorre ao judiciário custam a decidir contra o governo ou até mesmo
coonestam mudanças que, a rigor, careceriam de uma nova legislação. Isto é,
particularmente sensível, quando se trata do setor tributário onde a
complexidade por si só já é um problema que torna difícil, para qualquer um, entender
como as coisas funcionam por aqui, como as decisões são tomadas, como se dá o
ordenamento jurídico. O que se conclui é que o excesso de leis, de
regulamentos, de normatizações e suas mudanças constantes, aliadas ao fato de
que as diversas interpretações da Justiça no Brasil, criam incertezas que
impedem a previsibilidade e desencorajam investimentos, novos negócios. Um
exemplo recente é a discussão sobre uma nova lei dos dividendos. A isenção dos
tributos sobre os dividendos é um incentivo para pessoas físicas e fundos
investirem mais, porém, até parece que o país não necessita de investimentos.
Necessita sim. E necessita muito mais ainda de simplicidade e permanência no
seu ambiente de negócios. Somos extremamente prejudicados como nação pelo
permanente estado de insegurança jurídica que faz dos planos de negócios e
projetos econômicos tabula rasa. Efetivamente, há uma ignorância econômica
muito grande sobre a necessidade de estabilidade no ambiente de negócios para
que o país possa ter crescimento econômico e se criam leis, decretos,
regulamentos e normas que aumentam as despesas das pessoas jurídicas e físicas
como se os recursos de que dispõem estivessem à disposição dos agentes
públicos. Diariamente se criam despesas inesperadas para o contribuinte sem
que, muitas vezes, quem usa a caneta tenha a menor noção do que é uma empresa e
de seus custos. É indispensável que as leis sejam simplificadas e haja
segurança jurídica dos negócios ou estaremos condenados a ser sempre o país do
futuro.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo
NAEA/UFPª e Professor de Economia
Internacional da UNIR.
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