Quinta-feira, 16 de outubro de 2008 - 10h08
A reunião pública marcada pelo Ibama para explicar a mudança de lugar da Hidrelétrica de Jirau para a Ilha do Padre, segundo se diz a 9,5 km abaixo do Rio Madeira, pelo Consórcio Energia Sustentável, que venceu o leilão, esteve muito longe de cumprir seus objetivos. É complicado tratar de coisas técnicas com um grande público e, para ser claro, na maioria, desinformado, porém, também não ajudou muito o formato adotado pela reunião. Este, definido pelo presidente do Ibama, Roberto Messias, que a presidiu, consistiu numa apresentação pelos representantes do consórcio das mudanças do projeto e sua comparação com a opção anterior feita por técnicos que falaram, por volta de uma hora, sobre seus diversos aspectos. Em seguida foram feitas perguntas por escrito e no microfone (limitadas a 3 minutos).
A apresentação, com vídeos foi bem feita, porém, como tem sido marcado todo este processo, não são oferecidos dados que possam embasar as afirmações feitas. Não basta, como tem sido feito, oferecer releases, que respondem de forma padronizada a questões complexas. Uma lacuna enorme, além da completa falta de material técnico que possa dissipar dúvidas, parece ser a ausência de pessoas que possam explicar melhor ou tornar inteligível aspectos polêmicos, o que passa a impressão de que não existem dados ou quem está cuidando do processo são as pessoas erradas. Em algumas respostas dadas, e no próprio impedimento de tréplicas aos contestadores da versão apresentada, se reforçou o sentimento de que é a pressa que dita o ritmo do processo e não o esclarecimento de questões que saíram da reunião ainda mais confusas do que entraram.
Há certos pontos que, por mais que se seja a favor da construção e da partilha entre dois consórcios das usinas, não se pode negar sob pena de afrontar o bem-senso e a consciência. É evidente que o Consórcio ganhou por ter mudado o local, logo também em desacordo com o edital do leilão. Até aí nada demais, se o governo lhe deu ganho e ninguém protestou na justiça. A questão real-e quem o disse foi o subprocurador do Ministério Público, Ivo Benitez, é a de que a mudança implica na necessidade de mais estudos para verificar os impactos ambientais. Isto é cristalino.
A mudança fica ainda mais complicada quando, na própria reunião, se levanta dúvidas sobre os impactos ambientais, sobre a otimização, sobre níveis de água, necessidades de aterros, aumento do lago de até 40 km2, a falta de soluções para os grandes bagres migratórios e até se contesta o fato de que o deslocamento é de 12,5km e não apenas de 9,5 km. Contra estas alegações, infelizmente, os representantes da Energia Sustentável não apresentam estudos apenas dizem que temos que acreditar nas empresas que o compõem. Não desacredito. Apenas há o fato de que a lei exige que estudos sejam feitos e todo um processo de licenciamento que, na pressa, estão querendo ignorar, na verdade, passar por cima em nome da janela hidrográfica, ou seja, o fato de que se não começar agora só no próximo ano do fluxo do rio Madeira. Confesso que saí da reunião com mais dúvidas do que entrei na medida em que conseguiram me convencer que a nova solução é mais criativa, porém, não que hajam estudos suficientes para conceder a licença.
Fonte: Sílvio Persivo/Gentedeopinião - silvio.persivo@gmail.com
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