Domingo, 20 de setembro de 2009 - 16h36
SOU MAIS RONDÔNIA
Na noite da última terça-feira a Usina Hidrelétrica Jirau lançou a campanha "Sou mais Rondônia". De acordo com o diretor institucional da Energia Sustentável do Brasil, José Lúcio de Arruda Gomes, a campanha visa aumentar a auto-estima do povo de Rondônia. "Rondônia é a locomotiva do Brasil atualmente e será da América do Sul", disse Lúcio. O diretor revela ainda que a Usina Hidrelétrica de Jirau está propondo que toda a população local "sinta orgulho de fazer parte deste momento de pleno desenvolvimento que o Estado está vivenciando, tal feito projeta Rondônia positivamente não somente no cenário nacional, mas como uma artéria que vai colaborar com o fortalecimento econômico de vários países da América Latina", disse Lúcio.
Fui convidado a escrever um texto para a campanha que repasso para os amigos:
Rondônia, o futuro que já começou
Silvio Persivo
Todas as vezes que desejamos nos aventurar sobre o futuro nós erramos. Nós, economistas, temos uma brincadeira sobre as previsões que define bem a pouca confiança que temos nelas. Assim dizemos que quando se prevê um crescimento, digamos de 5%, não se fixa o tempo e quando se fixa o tempo não se dá números ao crescimento, ou seja, sem quantificação fica sempre mais fácil depois explicar porque não deu certo. Esta é, em primeiro lugar, uma forma de dizer que, com certeza, erramos prevendo o futuro de Rondônia. E, como economistas gostam de números, falamos num futuro não tão distante, quanto o de Rondônia em 2025. Como será Rondônia? É uma tarefa quase impossível, mas, assim mesmo, a partir do que sabemos, é possível traçar um cenário que, pelo menos, nos dará um retrato tão aproximado quanto possível.
Não se começa qualquer prognóstico, porém, sem explicar que na semente está o fruto. Mais de duzentos anos atrás o Marquês de Pombal, quando foi criar fortificações para a Amazônia, numa visão premonitária colocou o dedo sobre as margens do Madeira e afirmou que ali, por sua posição geográfica, ligações fluviais e caminhos, era o coração da América do Sul. Não poderia supor que, depois um empresário norte-americano, Farhquar, iria construir uma estrada que criaria, no alvorecer do século XX, a metrópole mais moderna da época que já começou cosmopolita por reunir pessoas do mundo inteiro. Esta vocação de acolher os forasteiros também se faria, na década de 70, quando o então Território começou a se transformar em Estado com os projetos de colonização, com uma migração desenfreada que colocou em seu território 150 mil famílias do país inteiro. Rondônia deu um salto de pouco mais de cem mil almas, em 1970, para mais de um milhão de pessoas em 1990. E continuamos crescendo, criando uma nova sociedade, uma nova cultura na medida em que até na letra de seu hino “Rondônia trabalha febrilmente”. Somos uma sociedade em gestação, mas, uma sociedade que já deu certo, que vai dar certo, pelo trabalho, pelo desejo de fazer, de criar, de ser que nos move. E, para coroar isto, além do céu sempre azul, Deus nos premiou com as águas barrentas do Madeira do qual há de brotar a energia do futuro. Já está brotando.
Os caminhos do desafio
O que faltava para Rondônia? Investimentos em infraestrutura e logística, especialmente transportes e energia, que são variáveis altamente definidoras do futuro. E eis que surgem as usinas do Madeira com mudanças que impactam diretamente a base produtiva do Estado, o ritmo dos fluxos de mercadorias e sua dinâmica espacial, além de interferir nos fluxos populacionais. É claro que isto implica em incertezas, cria problemas, gera conflitos. Mas, sem o aporte de infra-estrutura, a exploração econômica das potencialidades do Estado não poderiamos avançar. Assim, se o futuro de Rondônia depende dos níveis de investimentos feitos em infraestrutura que atendam as demandas de suas cadeias produtivas e da exploração econômica de suas potencialidades não há benção maior do que o que ora acontece, apesar da forma como acontece. Vislumbra-se a possibilidade de atender as principais demandas infraestruturais do Estado com transporte multimodal, com expansões dos eixos de integração regional, a saber, Transoceânica, BR-319, ponte RO/AC, conservação da BR-364 (duplicação); construção de novos terminais portuários, modernização de portos; balizamento de hidrovias, construção e pavimentação de rodovias estaduais e a construção do complexo do rio Madeira. Em suma possibilidades que se concretizam e acenam com um futuro melhor que se encontra aí na frente nos esperando.
È verdade que nenhum caminho é fácil. È preciso maior articulação das forças políticas para criar o desenvolvimento sustentável com uma maior capacidade de inserção econômica em novos mercados. Novamente paira sobre nós a incerteza da capacidade de atrair investimentos privados, a consolidação das cadeias produtivas prioritárias e a melhoria dos índices de competitividade. Fatores que colaborarão para uma maior integração econômica regional. Porém, olhando para Porto Velho, uma cidade universitária onde pululam mais de uma dezena de instituições de nível superior, com três cursos de Medicina e a multiplicação de pós-graduações, não há como não se ter otimismo na medida em que começa a se criar, hoje, a mão de obra especializada de amanhã, de 2025.
Nós, especialistas, não acreditamos que possa haver melhoria de qualidade de vida sem uma consolidação das atividades econômicas em bases sustentáveis e competitivas, mas, isto passa por potencializar as oportunidades não exploradas e expandir a abrangência de políticas públicas educacionais que visem a formação integral do indivíduo. Este processo só será eficiente se houver mecanismos de transferência de conhecimento com articulação entre a comunidade científica e a iniciativa privada, de forma que só com investimentos em Ciência e Tecnologia, o aumento da efetividade das políticas de educação básica e a melhoria do ensino superior. Ou seja, é preciso transformar a produção científica num processo que se derrame e se complete nas empresas e nas organizações sociais. Por outro lado, há a relação entre meio ambiente e desenvolvimento que tem exigido uma progressiva atenção de governos, setor privado e sociedade civil. Todos sabem dos impactos no meio-ambiente que são esperados com a conclusão das obras de infra-estrutura previstas para o Estado e a incerteza reside no dimensionamento e nas conseqüências que que terão para o ecossistema estadual, inclusive no que diz respeito as taxas de desmatamento. São desafios que tem que ser enfrentados que incluem a ordenação de atividade produtiva no território, o enfrentamento dos problemas ambientais urbanos e a gestão dos recursos naturais (florestas, recursos hídricos, etc) e a regularização fundiária. São grandes desafios, mas, Rondônia possui uma vocação de desenvolvimento e de grandeza que infunde a crença em que superaremos os obstáculos com o mesmo e incansável labor com que, no passado, Rondon, sua inspiração, atravessou as florestas para fazer a linha telegráfica.
A ponte para o futuro
Neste sentido, o que acontece hoje, as profundas transformações que sofremos, com a capital, Porto Velho, se transfigurando de uma cidade de porte médio em uma cidade grande, mostra que estamos atravessando os umbrais do futuro. Afinal estas transformações criam um ambiente favorável à maior articulação, como também ao surgimento de novos atores públicos e privados que vão construir instrumentos de planejamento e financiamento de atividades produtivas, o fortalecimento do capital humano e uma exploração mais racional dos recursos naturais por meio de uma negociação mais eficaz dos interesses políticos e econômicos regionais.
A expansão da infra-estrutura energética, representada especialmente pela conclusão das hidrelétricas e eclusas do Rio Madeira, a abertura para o Pacífico que se fortalece com a construção de novas hidroelétricas para a Bolívia, são forças que explicam o deslocamento crescente de capital para o Estado e impelem a uma modernização avassaladora que dinamiza a economia interna, atrai investimentos permanentes e potencializa o privilégio logístico do Estado, dada a sua localização estratégica dentro da nova rota comercial via portos do Pacífico e no âmbito do processo de integração da Amazônia Sul-Americana. Assim, a elevação dos níveis de competitividade da economia se impõe, como se impõe a formação e qualificação de recursos humanos, promovidos pelos setores públicos e privados, melhorando significativamente o estoque de capital humano e produtividade. O cenário requer ainda mais a expansão da oferta de curso de pós-graduação, a criação de fundações, de institutos de pesquisa, a elevação das demandas que aumentam os investimentos públicos e privados se refletindo no fortalecimento das principais cadeias produtivas do Estado e na consolidação de novas atividades, como a produção agrícola e a expansão comercial de produtos não-madeireiros. Sem dúvida, o Estado estará ampliando o valor agregado dos seus principais produtos e, certamente, o setor de comércio e de serviços crescerá puxado pela especialização do setor primário. Em parte seremos forçados e melhoraremos mais na medida em que o Brasil também melhorar, mas, é imprescindível que façamos uma gestão eficaz do meio ambiente que passa a ser condição estratégica à inserção econômica do Estado em mercados mundiais. Quanto mais formos capazes de melhorar a governança, ter uma gestão eficaz das finanças públicas que assegure receitas crescentes para investimentos melhor serão nossas perspectivas. Hoje o Estado já amplia suas operações de crédito, garante maior apoio a programas estratégicos, em especial, ao fortalecimento da agricultura familiar, além de ter um controle progressivo da grilagem e dos conflitos agrários, o que contribui para o efetivo desenvolvimento social do Estado, com melhoria de seus principais indicadores e das condições de domicílio (abastecimento de água, saneamento básico, coleta de lixo, energia elétrica e segurança pública). São ações que, com menor ou maior celeridade, se desenvolvem e minimizam os impactos econômicos e sociais decorrentes da expansão das obras de infraestrutura.
Enfim, o que nós vemos é que o Estado de Rondônia em 2025 deve ter sido capaz de diversificar sua base produtiva com uma ampliação da distribuição de renda como conseqüência de um processo de melhor educação e de inserção econômica melhor coordenada. O Estado, com a consolidação de sua infraestrutura energética e a integração física com outras regiões, com a melhoria de sua ciência e tecnologia começará a construir os fatores que exercerão uma contínua atratividade de capital, ao mesmo tempo, que sua influência econômica se estende a regiões mais distantes. Embora ainda continue a existir uma forte presença do Estado neste, principalmente em relação ao ordenamento das atividades no território como forma de reduzir os impactos ambientais, teremos uma economia com uma dinâmica muito mais acelerada, com maior independência do setor privado e uma melhor distribuição dos resultados econômicos, com avanços significativos no campo social. Rondônia continuará tendo problemas. Não será o céu na terra, mas, estará caminhando para ser, na Amazônia, o exemplo de que é possível construir desenvolvimento com sustentabilidade. Enfim, em 2025, se hoje, temos uma boa qualidade de vida, esta será muito melhor. Pode não ser um futuro como se desejaria, mas, será o futuro que estamos construindo e conseguiremos construir com trabalho e energia e com o céu azul, que nosso céu é sempre azul, como o futuro que nos aguarda ali adiante, no que, hoje, parece o distante 2025.
Fonte: Diz Persivo
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