Domingo, 21 de maio de 2023 - 08h10
Quem é professor sabe: não era incomum quando se pegava o trabalho dos
discentes, com o advento da internet, encontrar trabalhos totalmente copiados.
Uma realidade incomoda, o uso do Ctrl+C e Ctrl+V, que se tornou uma opção para
muitos que, por lacunas na educação, não conseguiam fazer um trabalho com seu
esforço pessoal. Se o uso das cópias de outros trabalhos já eram um problema, o
professor, agora, possui um novo e mais complicado, que é a questão de que, no
momento, a cópia está sendo superada pelo uso do chat GPT. Você olha para o trabalho do aluno, que
parece bem escrito, com bons argumentos, e percebe que há uma espécie de
roteiro que a inteligência artificial segue. E uns são tão criativos que usam
até o avatar do Marx, que tinha também uma maneira peculiar de alinhar
argumentos, reunir todos e, então, fazer uma espécie de resumo de tudo. Pois é.
Incrível, mas é a pura realidade: hoje estamos, de uma forma ou outra,
orientando os alunos para criar seus trabalhos via Chat GPT. Você nem pode
dizer que é cópia. A um deles que me mostrou seu TCC tive que ser sincero,
diante do fato de que, apesar de bem escrito e lógico, faltavam termos que são
essenciais no “economês”, a língua técnica própria dos economistas, bem como
havia citações claras que não transcreviam as palavras do autor usando outras
palavras para dizer a versão clássica, e sugeri que usasse o Chat Perplexity
AI que, pelo menos, daria oportunidade dele
inserir as citações de alguns autores. Este problema, porém ressalta um
problema muito maior: a distância entre a academia e a realidade. Hoje, os
alunos não vivem sem um computador ou um celular e sem consultar o Google para
tudo, enquanto as escolas e as universidades continuam a ser as mesmas, o que
significa que pararam no tempo. Enquanto os alunos vivem no mundo das imagens,
das fotos, da obtenção rápida de informações e resultados, a grande realidade é
que as academias estão mumificadas, com os mesmos cursos, as mesmas grades
curriculares e, pior ainda, com leis que obrigam o curso e o professor a ser
longo, chato, um cobrador (uma classe, aliás em extinção) de segunda classe dos
conteúdos que se revelam inúteis para os jovens que buscam na educação uma
forma de ganhar dinheiro. Vejo alguns professores reclamando dos alunos e não
posso deixar de ironicamente pensar que o que estão tentando ensinar não ajudam
em nada a seus pupilos. Uma escola, uma universidade que não se integra ao
mundo digital, que não tem internet na sua sala de aula, que ainda exige que o
aluno memorize longos textos, que não usa vídeo, não produz audiovisual, é um
ensino ultrapassado. E o que se vê, na prática, é o aumento do desinteresse dos
jovens pelo ensino na medida em que não encontra respostas para suas necessidades.
Por isto há até, em muitos dias, a ausência de grande parte dos alunos na sala
de aula e sobram vagas em diversos cursos que são preenchidas de qualquer modo.
É a defasagem entre a escola e o mercado. E, para o bem ou para o mal, o
mercado sempre vence.
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