Segunda-feira, 1 de abril de 2019 - 18h19
Sinceramente os tempos
não são propriamente bons para os que, igual a mim, gostam de refletir, antes
de discutir, e procurar ter uma visão construtiva, diria mesmo que, de futuro,
das coisas. E, como estamos numa época onde tudo que é sólido se desmancha no
ar, estou quase virando um monge, um eremita. De fato, sair de casa só se for
por uma boa conversa, uma boa música, um jantar ou um vinho com os poucos (e
bons) amigos que tenho. Estou mais para uma tartaruga ou como a avestruz que,
todos pensam que, nas situações difíceis, enterram a cabeça na areia. Pura
lenda: se parecem comigo, pois, correm mesmo (e muito). A diferença é que tanto
corro, quanto durmo. O sono é meu antidoto contra muitos males. Durmo muito. A preguiça
deve ser minha companheira de alma. Vou devagar, devagarinho... Bem, isto tudo
foi somente para dizer que, como não desejo me ocupar de assuntos traumáticos,
vou me ocupar de arte. De paixão para arte. Nada melhor, portanto, que lembrar
os versos de Jorge de Lima:
“PAIXÃO E ARTE
Jorge de Lima
Ter
Arte é ter Paixão. Não há Paixão sem Verso…
O
verso é a Arte do Verbo – o ritmo do som…
Existe
em toda a parte, ao léu da Vida, asperso
E
a Música o modula em gradações de tom…
Blasfemador,
ardente, amoroso ou perverso
Quando
a Paixão que o gera é Marília ou Manon…
Mas
é sempre a Paixão que o faz vibrar diverso;
Se
o inspira o Ódio é mau, se o gera o amor é bom…
Diz
a História Sagrada e a Tradição nos fala
dum
amor inocente (o mais alto destino):
A
Paixão de Jesus, o perdão a Madalena.
Homem,
faze do Verso o teu culto pagão
E
canta a tua Dor e talha o alexandrino
A
quem te acostumou a ter Arte e Paixão”.
É,
meus amigos, recorrer à poesia é sempre um modo de cantar a vida. Pode-se até
mesmo deixar de lado a forma alexandrina, mas, não, jamais, de buscar na arte,
na poesia, um bom motivo para viver. Como escreveu Friedrich Nietzsche "A
arte e nada mais que a arte! Ela é a grande possibilitadora da vida, a grande
aliciadora da vida, o grande estimulante da vida". Em suma, a arte é, de
fato, uma ode à vida, de modo que vida e poesia se confundem. Assim dar uma
viva à poesia é dar um viva à arte e à vida!
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo
NAEA/UFPª e Professor de Economia Internacional da UNIR.
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