Quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 - 11h00
Começo por trazer à baila a palavra “cultura” que provém da língua latina, mais precisamente do radical da palavra que é o verbo colo, no sentido original “cultivar”. Daí o cultus (particípio de colo) que tem o sentido de cultura da terra de onde derivou “cuidar de”, “tratar de”, “querer bem”, “ocupar-se de”, “adornar”, “enfeitar” e, por fim, o sentido moderno de “civilização”, “educação”; e também de “adorno”, “moda”, “decoração”. É dos alemães, porém, a derivação mais rica, a palavra “cultura” num sentido mais amplo, para referir-se ao cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação. Creio que, na língua portuguesa, não exista nenhuma outra palavra com sentido mais abrangente do que a palavra “cultura”. Por cultura se entende muita coisa, mas, essencialmente a idéia de totalidade humana. O que faz a diferença entre os homens e os animais, uma nação e um bando.
A ampla concepção de cultura me fez saudar como uma magnífica idéia a construção, no lugar do antigo mercado, bem no centro da cidade, de um “Mercado Cultural”. Nem mesmo me abalou o fato, na época lamentado por muitos, de fechar o Bar do Zizi. Raciocinava que para fazer do que restava ali um local de cultura bem que o Zizi poderia fechar pelos 180 dias previstos para, depois, ele e a cidade receberem um lugar muito melhor. Como a velhinha de Taubaté eu acreditei. Acenaram com a isca da cultura e nos prenderam na armadilha da burocracia, da falta de cumprimento de prazos, em suma, da falta de compromisso com o que foi divulgado e acertado.
Como sempre irão nos vender a idéia de que se trata de mais um “transtorno” que tudo, depois, ficará melhor. Pode ser. Mas é preciso lembrar a angústia, o sofrimento, o custo pessoal do Zizi. Ele, como muitos de nós, acreditaram que a obra seria feita em seis meses, porém, já se arrasta por mais de um ano. Era para ser inaugurada em setembro. Setembro passou e marcaram para dezembro. Dezembro se foi. Quem conhece o Zizi sabe que o bar sempre foi a vida dele, por 45 anos. Não se trata apenas de um trabalho, mas, de um comportamento, de uma cultura que se encontra interrompida, parada no tempo. Zizi, por incrível que pareça, vai todos os dias, nos mesmos horários de quando abria e fechava o bar, até lá à obra na esperança de que possa voltar ao seu cotidiano, à sua vida normal. Alguns freqüentadores também e até esticam até o Manelão para se queixar da falta que o bar faz. O Zizi anda meio cabisbaixo, cansado de esperar. Pode daqui a pouco ter um troço de desespero, magoado com a indiferença que se tem em relação ao problema. Desesperado para que devolvam sua vida, sua razão de ser, sua cultura, enfim. É um homem sem raízes sem seu trabalho e sem seu bar. É tempo de inaugurar a obra paralisada. Antes que seja tarde demais e o Zizi desabe sob o peso imenso da burocracia que o tornou um deserdado cultural.
Fonte: Sílvio Persivo / www.gentedeopiniao.com
silvio.persivo@gmail.com
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