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Gente de Opinião

Silvio Santos

Abnael Machado de Lima - O Velho Pimentel existiu sim


Abnael Machado de Lima - O Velho Pimentel existiu sim - Gente de OpiniãoEntre os dias 23 e 25 deste mês de outubro, a prefeitura municipal de Porto Velho através da Fundação Cultural Iaripuna, promove Seminário sobre o centenário da cidade de Porto Velho, onde o grande debate deve acontecer durante a palestra do Professor Abnael Machado de Lima que vai discorrer sobre a "Origem de Porto Velho e sua evolução". Independente do Seminário há algum tempo estávamos querendo entrevistar Abnael justamente para saber sua opinião sobre a existência ou não, do "Velho Pimentel", isto porque, entre os historiadores que sabe sobre Porto Velho, ele é um dos mais abalizados, juntamente com Esron Menezes e Emanuel Pontes Pinto entre outros menos votados, porque seus pais e avós vivenciaram o surgimento de Porto Velho já que todos tinham negócios (seringais), ou na área onde a cidade foi implantada ou em suas proximidades. Abnael na realidade, não vivenciou nem mesmo a criação do município de Porto Velho em 2 de outubro de 1914, porque só nasceu em 1932, portanto, está com 75 anos de idade. Não vivenciou o momento, mas, podemos classificá-lo como um dos mais preparados para falar sobre o assunto, porque sua vida foi e é pautada no estudo sobre a origem de Porto Velho e do estado de Rondônia como um todo. Convidado para proferir a palestra sobre a Origem de Porto Velho, nosso professor foi fundo na pesquisa e se tornou um dos defensores da existência do Velho Pimentel, figura que é contestada por um bocado de gente que se diz conhecedor da história da nossa cidade capital. "Tem uma porção de gente que se arvora a escrever a história de Porto Velho sem ter cabedal para isso". Vamos acompanhar a entrevista do filho de um contratista da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que na infância, gostava de cabular a aula, para ficar no araçazal que existia no quadrilátero das ruas, Presidente Dutra, Rogério Weber, D. Pedro II e Carlos Gomes. Professor Abnael Machado de Lima

E N T R E V I S T A

Zk – Professor, fale um pouco sobre sua vida?

Abnael Machado – Como em Porto Velho não existia maternidade, meu pai mandou minha mãe a Manaus quando chegou o tempo deu nascer, porém, logo ela voltou para Porto Velho, só fui conhecer Manaus quando já era adulto. Sou amazonense de Porto Velho. Vi a cidade nascer e crescer. Quando eu era menino, a igreja de São Francisco que fica na esquina da Rua Campos Sales com a Pinheiro Machado, ficava no subúrbio; onde é o prédio da UNIR Centro e seguindo até onde foi o prédio da Teleron entre a D. Pedro II e a Carlos Gomes era uma capoeira cheia de pés de Araça. A gente vinha do Centro, eu morava na Barão do Rio Branco, e quando ia para a aula atravessava dentro do araçazal, muitas vezes a gente não chegava na escola da professora Leonilce Mota de Carvalho que ficava no bairro Caiari. Não existia o bairro do Areal, a gente atravessava ali para ir tomar banho no Igarapé Grande ou então, ir lá para onde hoje está o 5º BEC que era o campo do Mário Monteiro.

Zk – Esse campo do Mário Monteiro era usado pra que?

Abnael Machado – O Mário Monteiro trazia gado da Bolívia e colocava ali para engordar. A gente tomava banho no Igarapé Grande (Na Prudente de Moraes com a Rio Janeiro) e depois ia pra lá juntar tucumã. Era uma curriola lá da Barão do Rio Branco que tinha o Cláudio e Emídio Feitosa, Jacob Atalah e seus dois irmão, Amilcar que foi médico, o Zé Panadeira que era filho de um comerciante dono de uma Padaria.

Zk – Qual realmente era o grande evento daquela Porto Velho?

Abnael Machado - A grande diversão era ver o trem horário da Madeira-Mamoré chegar e os navios atracarem no porto.

Zk – E aos domingos?

Abnael Machado – Aos domingos a gente se concentrava na Praça Rondon para apreciar as garotas rondando, enquanto o Cine Reski ficava tocando as músicas do momento, aguardando começar a matinê.

Zk – No seu tempo de adolescente a Avenida Sete de Setembro já existia?

Abnael Machado – A Sete de Setembro partia do Porto e ia até passando um pouquinho da Praça Jonathas Pedrosa onde começava um grande chavascal e tinha uma cachoeira que era do Igarapé Favela que atravessava o Horto Florestal. Ali onde está o Hotel Iara caía uma cachoeira de mais ou menos, 10 metros e saia correndo até chegar ao Rio Madeira.

Zk – O Rio Madeira não fica muito longe do Hotel Iara?

Abnael Machado – Acontece que naquele tempo, quando era no inverno, o Rio Madeira passava por onde hoje estão aqueles Tribunais na Baixa da União, passava pela Prudente de Moraes e chegava nesse chavascal e nós moradores dali, eu Antônio Reis, Amilca, Frederico Monteiro que é irmão do Almino Afonso tínhamos uma canoa cujo nome era "Xodó", a gente saia na canoa fazendo excussão por dentro do Igarapé Favela e íamos sair no Rio Madeira onde hoje é o Cai N´água.

Zk – E quando foi que começaram a aterrar aquela área?

Abnael Machado – Acontece que desde a época do primeiro prefeito Major Guapindáia que na época era Superindentente, começaram a fazer aterramento do Igarapé Favela. Ele colocou boieiras, canalizou o Igarapé e mandou aterrar pra ligar a Rua Gonçalves Dias à Rua General Osório que passa por trás do Maria Auxiliadora pra facilitar a passagem pro cemitério.

Zk – E a Sete de Setembro?

Abnael Machado – A Sete de Setembro foi aberta no segundo governo do Coronel Ênio Pinheiro. Na primeira vez que ele foi governador iniciou o aterramento e teve a oportunidade de retornar como governador e então concluiu o aterramento da Sete. A Barão do Rio Branco era a grande via de Porto Velho, já que a Sete de Setembro parava num grande buraco que era chamado de "Buraco do Aníbal", que ia da praça Jonathas Pedrosa até Gonçalves Dias. A Sete terminava onde fica o Supermercado Maru na Joaquim Nabuco, ali era o fim de Porto Velho. Dali em diante era chamado o km –1.

Zk – E o Chico do Buraco e dona Dada?

Abnael Machado – Eles ficavam logo depois da Praça Jonathas Pedrosa pela Barão do Rio Branco e no terreno deles existiam dois olhos d´água onde se ia apanhar água que a gente achava que era potável, pra beber.

Zk – É verdade que ali onde hoje é o Hotel Iara também existia uma fonte de água mineral?

Abnael Machado – Ali era um casarão de madeira do holandês Herculano e tinha uma fonte e um poço de grande profundidade esse poço ainda deve existir por lá.

Zk – E a trajetória escolar do professor?

Abnael Machado – Comecei estudando nessa escola particular da professora Leonilce Mota de Carvalho. Quando foi criado o Território em 1943, o Coronel Aluizio conseguiu encampar a escola da professora e colocou o nome de Getúlio Vargas, ela funcionava ali na Duque de Caxias com a Santos Dumont. Terminei o primário, fiz o exame de admissão que era o vestibular da época e entrei no Colégio Dom Bosco. O governador Frederico Trota criou a Escola Nornal do Guaporé Carmela Dutra em 1947 que começou a funcionar em 1948 e em 1949 me transferi pra lá. O Carmela Dutra era um curso ginasial com terminação profissional, formava Regente de Ensino. Comecei a lecionar muito cedo e então fui pro Rio de Janeiro, entrei no colégio Marcílio Dias pra fazer o científico, fiz o 1º e o 2º científico e a saudade dos Igarapés de Porto Velho me fez retornar, justamente no tempo que foi criado o curso pedagógico no Carmela Dutra, só, que para ingressar no curso pedagógico pra formar professor, você passava por um teste de conhecimento e um teste vocacional pra ver se você tinha tendência pra ser professor, ainda estudante casei com uma menina a Nazaré da família Ortiz Chaves ela ia fazer 17 anos e eu estava com 22 anos e depois que conclui o pedagógico fomos pro Rio de Janeiro, fiz o vestibular. Naquele tempo o vestibular era muito rigoroso porque era eliminatório, por exemplo, você fazia a prova de português, no dia seguinte você ia olhar no quadro mural se o seu nome constava, se constava da lista era porque você havia sido reprovado. Daqui fomos eu, Maria Inês Pereira Leite, Olavo de Castro, João Chaquiam, Aluizio Mendes e o Osmar Maués. Eu a Maria Inês e o Maués fizemos o vestibular na PUC eu a Maria Inês fomos aprovados o Maués só passou no ano seguinte.

Zk – O senhor fez o que?

Abnael Machado – Eu queria fazer história e acabei fazendo geografia, mesmo assim, não deu, fui pro Rio de Janeiro já casado e começaram a surgir problemas financeiros e então retornei pra cá e passei a trabalhar como professor, fui diretor de várias escolas, inclusive do Carmela Dutra; Estudo e Trabalho, fundamos o Colégio João XXIII, foi quando veio pra cá, o campus avançado da Universidade do Rio Grande do Sul, topei o vestibular e fui aprovado, me formei em Estudos Sociais. Depois veio o campus avançado da Universidade do Para e então me formei em Geografia, depois fiz duas pós graduação. "Pesquisa e Metodologia do Ensino Superior", pela Universidade do Pará e depois o governo me permitiu e fui ao Rio de Janeiro e fiz pós graduação em "Sociologia". De volta, fui Coordenador do MOBRAL onde conseguimos ser um dos núcleos do MOBRAL mais produtivos do Brasil, também fui o coordenador do núcleo de educação da Universidade do Para onde tive a oportunidade de interiorizar o ensino superior no Território de Rondônia; Ariquemes, Cacoal, Ji-Paraná, Vilhena e Guajará Mirim. Realizei o primeiro curso Intensivo de Especialização de Professores para Lecionar no Ensino Superior isso me gratificou bastante.

Zk – Estamos em plena comemoração do centenário de Porto Velho, inclusive a Fundação Iaripuna vai realizar um Seminário com o objetivo de dirimir as dúvidas sobre a data do surgimento da cidade e da origem do nome Porto Velho. Em sua opinião qual a origem do nome Porto Velho? Existiu o Velho Pimentel? E o Porto dos Militares?

Abnael Machado – A origem do nome de Porto Velho, vai se prender a três versões:

Zk - A primeira?

Abnael Machado – Durante a guerra do Paraguai o governo imperial deslocou um grupo de soldados do Regimento do Jamari que era localizado em São Carlos para cá. Aqui acamparam, primeiro do lado esquerdo do Rio Madeira em frente a Santo Antônio, mas, as doenças e porque notaram que não era um ponto estratégico, se mudaram para a margem direita, abaixo de Santo Antônio próximo a foz do Igarapé Bate-estacas que na época era chamado de Igarapé Grande, daí uma série de confusões com isso. Ali também não se adaptaram e então vieram pra cá onde hoje está Porto Velho. Aqui abriram uma clareira na floresta, improvisaram um porto e colocaram o acampamento na parte do barranco que hoje corresponde ao Hospital da Guarnição e ficaram até 1870. Quando eles se retiraram em 1870, três padres Franciscanos que chegaram a São Carlos com a intenção de vir pra cá contando com a ajuda dos militares, por verem que estes (militares) estavam muito debilitados só não desistiram porque apareceu um comerciante boliviano que vinha numas canoas levando seus produtos para Manaus e ao saber da intenção dos padres, doou pra eles, uma canoa e a guarnição da canoa, 11 bolivianos que vieram para o Porto Velho dos Militares. Enquanto os militares estavam aqui, era apenas Porto dos Militares, depois que eles saíram, ficou sendo chamado de Porto Velho dos Militares. Isso você encontra como referencia histórica no livro "O Último Titã", que foi escrito por um engenheiro e é a biografia do Farquar. Ele cita que o nome de Porto Velho se originou do Porto Velho dos Militares.

Zk – O que esses padres queriam implantar?

Abnael Machado – Eles queriam fundar uma missão para catequizar os índios Caripunas, acontece que, primeiro, começaram a adoecer depois, a aldeia dos índios ficava em Jacy, também ficaram sabendo que Santo Antônio havia sido escolhida como local de partida de uma Estrada de Ferro, tudo isso inviabilizou o trabalho deles com os índios, eles retornaram para São Carlos e a partir de 1872 essa área foi ocupada por lenhadores que tiravam lenha para abastecer os navios que eram movidos a vapor d´água. Essa história também consta do livro "O Último Titã" que registra, "Quando saíram os militares, o local foi ocupado por pequenos sitiantes e fornecedores de lenha para os navios". Você vai me perguntar, por que entre esses agricultores fornecedores de lenha não estaria o tal Pimentel?

Zk – Quer dizer que o senhor concorda que o Velho Pimentel realmente morava justamente no local escolhido para a implantação da cidade de Porto Velho?

Abnael Machado – O pai do Esron de Menezes que era seringalista no médio Madeira, contava pro filho, que aqui onde está Porto Velho tinha o sítio do Velho Pimentel aonde ele, o Tio do Almino Afonso dono do seringal Aliança e outros, paravam pra tomar café, às vezes mudar a roupa ou apenas para conversar com o velho pra chegar a Santo Antônio. Aí o povo começou a chamar a localidade de Ponto Velho.

Zk – Por que Ponto Velho?

Abnael Machado – Porque eles se reuniam aqui para fazer caçada e também chamavam Porto do Velho se referindo a Pimentel. Aí vem a pergunta, qual é a prova histórica da existência do Velho Pimentel.

Zk – Sim, qual é a prova histórica?

Abnael Machado – Você vai encontrar essa prova histórica no Projeto de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré pela Comissão Morsing. Morsing no Projeto apresentado ao governo imperial, sugere que a Estrada de Ferro inicie do Ponto Velho dos Lenhadores. Se ele colocou Ponto Velho no seu Projeto, é porque existia o tal Ponto Velho, esse Ponto Velho vai realmente corresponder na tradição oral, que teria dado origem ao nome Porto Velho quando os americanos resolveram em 1907 se instalarem aqui e começaram a grafar em seus documentos, "Porto Velho". Então, eu sou um dos que defendem a existência do Velho Pimentel. Há dias atrás, a senhora Auxiliadora em entrevista publicada por você, diz categoricamente, "Os meus pais adotivos conheceram o Velho Pimentel".

Zk – E a polêmica?

Abnael Machado – É o seguinte, tem uma porção de gente que se arvora a escrever a história de Porto Velho sem ter cabedal para isso. Tem uns que escrevem, "Porto Velho Distrito de Humaitá", isso jamais aconteceu, Porto Velho nunca passou pela condição política de Distrito. De povoado, passou a Município. Outro erro. "A Vila de Porto Velho". Porto Velho nunca foi Vila, porque Vila é sede de Distrito. Quando foi criado o município Art.; 1° que diz que o município será instalado no Povoado de Porto Velho. É preciso ter cuidado no que se escreve.

Zk – O senhor sabe nominar um fundador da cidade de Porto Velho?

Abnael Machado – Querem inventar impingir, um fundador de Porto Velho. Aí escrevem, o fundador de Porto Velho foi Percival Farquar que mandou, inclusive, fazer a planta da cidade em seus escritórios no Rio de Janeiro ou Estados Unidos. Farquar nunca mandou fazer planta de Porto Velho.

Zk – E quem projetou Porto Velho?

Abnael Machado – A planta de Porto Velho foi feita em 1915 e quem mandou fazer foi o Guapindáia.

Zk – No Seminário sobre o Centenário de Porto Velho que será promovido pela prefeitura através da Fundação Iaripuna entre os dias 23 e 25 próximos. Qual vai ser sua palestra?

Abnael Machado – Vou falar sobre a "Origem de Porto Velho e Sua Evolução".

Zk – Se alguém ou alguma entidade quiser lhe convidar para uma palestra ou até uma aula, deve ligar para onde?

Abnael Machado – Meu telefone fixo é 3221-3454 ou 9981-7674

Fonte: zekatraca@diariodaamazonia.com.br

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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