Terça-feira, 5 de maio de 2009 - 06h50
Antônio Ocampo – Sem dúvida nenhuma, Rondon teve uma etapa que se prolongou por três anos para chegar ao rio Madeira e essa sua passagem se iniciou em 1907, quando ele vai de Cuiabá ao Juruena, que era uma terra pouco conhecida em virtude dos índios Nhambiquaras que comandavam toda aquela região. Em 1908 ele faz a passagem entre o Juruena e a Serra do Norte, que hoje é ali o chapadão de Vilhena. Ele alcançou então, esse chapadão da Serra do Norte em 1908 e vem então o ano seguinte quando se registra a sua passagem mais dramática de todas, pela dificuldade do terreno, das intempéries do meio ambiente e claro, da nossa flora amazônica.
Antônio Ocampo – No dia 4 de maio de 1909. Portanto o centenário da chegada de Rondon em terras rondonienses começa neste dia 4 de maio de 2009.
Antônio Ocampo - Foi uma das passagens mais dramáticas que o Mal. Rondon percorreu, ele e seus comandados. Ele andava com uma tropa de pessoas, uma tropa de animais e no mínimo, nessa viagem, ele carregou 13 cachorros, que eram os animais que colocavam os índios pra correr, era os animais que ajudavam nas caçadas. Só que...
Antônio Ocampo - Vou adiantar um pouquinho essa história. Quando ele chegou ao rio Pardo já no mês de novembro, não tinha mais nenhum cachorro, todos foram mortos por queixada, onça, por doença ou de fome.
Antônio Ocampo - Levou muitos burros, muito cavalo, muitos bois. Inclusive a tropa que ele imaginava que chegaria até o Jaci Paraná ponto aonde ele achava que ia alcançar o rio Abunã mais facilmente, ele se perdeu, por conta dos mapas que não diziam verdadeiramente a localização do rio Jaci Paraná. Quando ele chega ao rio Machado imagina ser o Jamari que poderia estar próximo do Jaci e ele se engana mais uma vez, quando chega ao rio Jaru, mais uma vez imagina ser o Jamari que ficaria próximo das cabeceiras do Jaci, outro engano.
Antônio Ocampo – Sua equipe encontra o seringueiro chamado Miguel Sanka perdido na floresta e o Miguel Sanka passa as orientações para ele que até duvida, por causa da sanidade mental daquela pessoa, que estava há quatro meses perdido na floresta, vivendo só da pesca, de gongo do coco babaçu, castanha e muito debilitado. Quando Rondon percebeu que Sanka estava falando a verdade, já estava próximo ao rio Jamari.
Antônio Ocampo – Foi no Rio Pardo. Ele sai margeando esse rio e alcança o rio Jamari já cheio de seringueiros, foi aí que ele ficou sabendo que o rio Jaci Paraná ficava muito distante do rio Jamari e que seria uma viagem perdida se ele, Rondon, quisesse fazer novamente essa empreitada.
Antônio Ocampo – Quando eles chegaram ao rio Pardo e se deparam com um casal de seringueiros, estavam completamente nus e altamente debilitados. Todos eles doentes, só no osso e na pele.
Antônio Ocampo – Não! Historicamente existiam seringueiros sim, mas não no ponto onde hoje é a cidade de Ji-Paraná. Existiam seringueiros próximos ao rio Madeira, mas, não tão dentro assim a ponto de estarem aonde é hoje a cidade de Ji-Paraná.
Antônio Ocampo – Encontrou uma ótima localização, por isso, ele então instalou uma estação telegráfica naquela margem do rio Ji-Paraná e colocou o nome de Presidente Pena.
Antônio Ocampo – Foi uma homenagem ao presidente da república Afonso Pena que criou a Comissão Rondon e que morreu no inicio de 1909, daí Rondon quis homenageá-lo dando seu nome aquela estação “Presidente Pena”.
Antônio Ocampo – Foi em setembro de 1909. O dia certo nós não podemos dizer, até porque, quando ele alcançou o rio Machado, ele então percebeu que era um rio de grande porte e margeou esse rio por muito tempo, por vários dias, até conseguir atravessar num estreito.
Antônio Ocampo – Eu acredito que, como a estação só foi inaugurada em 1911 temos ainda dois anos para festejar realmente o centenário da cidade de Ji Paraná.
Antônio Ocampo – A primeira estação foi a de Vilhena numa das áreas mais bonitas do nosso estado. Ali ele encontrou tantos rios que disse, “nunca viu tanta água, num pedaço de terreno tão pequeno”. Ele então privilegia aquela região, como uma de suas bases. Ele gostava muito daquela região, tanto é, que quando ele vinha pra cá ficava dias e dias em Vilhena.
Antônio Ocampo – Em seguida inaugura a Ji-Paraná, Jaru, Karitiana que fica entre Jaru e Ariquemes e só em 1914 que ele inaugura quatro estações de grande porte, que são: a de Presidente Médice; Ariquemes, Karitiana e a de Santo Antônio em 1º de janeiro de 1915.
Antônio Ocampo – Em 1907, quando ele encontrou o Juruena passou dois dias lá descansando, porque sabia que a volta ia ser muito difícil. Ele já tinha encontrado vestígios dos Nhambiquaras que eram índios altamente arredios. Rondon e seus companheiros tinham muito medo de um ataque a qualquer momento. Uma hora depois que eles saíram do Juruena os índios atacaram e Rondon foi o principal alvo, tanto que ele recebeu uma flechada no peito e só escapou por causa da bandoleira da sua espingarda.
Antônio Ocampo – Na verdade ele quis reagir, mas pensou imediatamente e deu dois tiros pra cima e seus companheiros também deram tiros pra cima e quiseram revidar e Rondon não deixou. Foi daí que nasceu a paixão de Rondon pelos índios verdadeiramente.
Antônio Ocampo – Os atuais antropólogos dizem que Rondon foi o maior matador de índio.
Antônio Ocampo – Na verdade, o Brasil não teria mais indígena. Não teríamos terras indígenas hoje demarcadas. Foi o Rondon que lutou junto ao governo brasileiro e ao exército para que as terras indígenas fossem demarcadas. O contato com os Nhambiquaras propriamente dito, só veio ocorrer com a inauguração da estação de Vilhena e José Bonifácio em 1911.
Antônio Ocampo – Já escrevi a esse respeito em outros artigos onde digo o seguinte: Rondônia tem três grandes obras que não serviram na sua totalidade para aquilo que foram construídas. A primeira foi o Forte Príncipe da Beira; que antes dele ser inaugurado é selada a paz entre as duas maiores potências da época Portugal e Espanha então o Forte nunca deu um tiro. A segunda grande obra que também não serviu pra muita coisa, foi a própria Madeira Mamoré, porque o potencial da borracha até 1912 era da Amazônia, quando a exportação asiática começa a entrar no mercado europeu e americano enfraquece a borracha da Amazônia e a nossa Madeira Mamoré já nasce morta. A terceira grande obra: Infelizmente as linhas telegráficas passaram por esse mesmo drama. Quando ela é inaugurada em 1915 a Madeira Mamoré já tinha o serviço de rádio. Isso realmente deixou Rondon decepcionado, tanto que o governo brasileiro deixou de estender as linhas telegráficas até aonde elas tinhas que chegar que era a região do Acre do Purus e de Manaus e ficou aqui em Guajará- Mirim. O lugar mais longínquo que a linha telegráfica chegou foi Guajará-Mirim.
Antônio Ocampo – Como já disse, a idéia dele era chegar ao Madeira via rio Jaci - Paraná e como vimos não foi possível porque as cartas geográficas que ele tinha estavam erradas. Então, ele sai no Madeira via rio Jamari justamente no dia 25 de dezembro de 1909. Em São Carlos ele passa três dias descansando e então sai rumo a Santo Antônio e dá ordem para que aquela equipe que estava em Jaci esperando-o com todos os mantimentos regressasse para Santo Antônio.
Antônio Ocampo – Há um ano eu propus à Secel que se montasse um grande evento já que o Mato Grosso fez em 2007/2008 e nós de Rondônia por sermos o único estado brasileiro que leva o nome de um homem brasileiro, temos por respeito a esse fato histórico e a esse homem que comandou pessoas de bem, deveríamos fazer um festejo em comemoração ao centenário de sua passagem por nossa região.
Antônio Ocampo – O secretário Jucélis acatou e levou a idéia adiante, então o governo de Rondônia está sim fazendo um evento que a meu ver, merecia muito mais, do que o que está se propondo. Acho que deveríamos ter um evento que envolvesse a população de Rondônia para que ela tomasse pé de o porquê Rondon é tão esquecido. Nós de Rondônia não damos crédito a esses heróis. O Acre dá o maior valor a Chico Mendes cuja história não cabe em quatro páginas de um livro. A história de Rondon é incompleta até hoje. Acho que esse centenário que começa agora dia quatro de maio e se estende até dezembro, tem muito tempo para que os governos, as prefeituras dessas cidades que devem a Rondon sua existência, organizem alguma coisa para lembrar a chegada de Rondon em terras de Rondônia.
Antônio Ocampo – Existe através da Casa Civil do Gabinete do Governador o agraciamento com a Medalha do Mérito Rondon a várias personalidades nacionais e estaduais. Vamos ter exposições que vão andar o estado todo, um musical que também vai acompanhar essa exposição e nessas localidades o governador fará entrega dessas medalhas.
Antônio Ocampo – Apenas os historiadores de Rondônia, colocam Aluízio Ferreira até como o homem que salvou Rondon do ostracismo no governo do Getúlio Vargas. Não é tanto assim. Rondon em 1930 quando foi preso pelo governo Vargas porque não aceitou fazer parte do governo e para Vargas era muito importante sua adesão, uma vez que Rondon já era famoso ou respeitado no mundo todo.
Antônio Ocampo – Em 1929, Aluízio Ferreira se encontra com Rondon no Rio de Janeiro. Acontece que Aluízio havia fugido do exército na época do tenentismo e foi se esconder nos seringais do Vale do Guaporé e então conheceu alguma realidade daquela região principalmente de alguns grupos indígenas e ele então leva esse relatório a Rondon. Rondon passou a admirar um homem que também gostava da causa indígena. Rondon então abrigou Aluízio Ferreira em sua Comissão, lhe dando todo amparo possível. Quando veio o golpe de trinta o Aluízio ao invés de acompanhar Rondon não, passa a acompanhar Getúlio Vargas. Rondon com certeza não gostou dessa atitude de Aluízio Ferreira, tanto, que nunca citou o nome de Aluízio Ferreira em nenhuma de suas declarações. Acho que ele considerava o Aluízio Ferreira um traidor.
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