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Silvio Santos

Bainha – O Mestre dos sambistas de Rondônia – II


Eis a segunda parte da entrevista com o Waldemir Pinheiro da Silva – Bainha que está completando neste domingo (11), 75 anos de vida. Nesta parte Bainha fala da sua participação na criação de grupos musicais e entidades carnavalescas, além de fazer questão de registrar seu repúdio por não ter sido convidado a participar das comemorações do centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré no ano passado. “Trouxeram até artista de fora, mas, me deixaram de fora, isso dói”.

A história do Bainha é muito bonita e não dá para ser contada em apenas duas edições da nossa coluna. O que vocês estão acompanhando é a compactação da compactação de uma história, que merece ser contada em um livro de muitas páginas. “Eu sou da Sete de Setembro, lá do quilometro um, terra de gente bamba, de muita mulher, futebol e samba...”. Parabéns ao grande compositor Bainha.
 

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E N T R E V I S T A
 

Zk – Continuando nossa conversa, agora vamos falar sobre o Conjunto Bossa Nova?

Bainha – O Bossa Nova foi o seguinte: Existia o conjunto Guará integrado pelo Paulo Santos, Manga Rosa, Joaquim Carola, Paraguaçu e Pedro Otino, era uma turma das melhores e eles começaram a se destacar através do programa de rádio do Fracasso e seu irmão Cláudio Cunha apresentado na Rádio Difusora do Guaporé, mas, o Paulo Santos resolveu dissolver o grupo porque a turma não era muito chegada a frequentar ensaios.

 

Zk – Aí surge o Conjunto Bossa Nova?

Bainha – O Paulo Santos gostava de tocar “Bossa Nova” que era o grande lance do momento, cheguei com ele e o convidei a formar um grupo e ele respondeu, “tem que ser coisa séria, se for pra fazer bandalheira igual o Guará não vou” e perguntou: “Quem é que vai?” respondi: O Nego Leônidas e ele, “O Leônidas não vale nada é bagunceiro”. O certo foi que o grupo foi criado com: Bainha, Cabeleira, Manga Rosa e Ricardo. Com o passar do tempo eu disse, Paulo tá faltando mais instrumento e ele então autorizou a entrada o Leônidas tocando afoxé. Presta atenção o conjunto tocava Bossa Nova, mas, os instrumentos de percussão eram cubanos. Conga que hoje a turma chama de atabaque, Afoxé e Bongô.

Zk – O Bossa Nova tocava aonde?

Bainha – Principalmente em aniversários dos categas e de instituições como o Banco da Borracha e nos grande bailes do Bancrévea. Só depois é que fomos para a Varanda Tropical do Porto Velho Hotel, aí foi o auge. A gente também tocava no Programa de auditório da Rádio Caiari que era apresentado pelo Bianor Santos, aliás, foi nesse programa que nos conhecemos, você era o sonoplasta, lembra disso? O Conjunto parou porque o Paulo Santos e o Manga Rosa foram embora daqui, então criei o “Samba 7”.

 

Zk – Aí já era um grupo de samba?

Bainha – Do qual você fazia parte. Depois criamos o “Samba Dez” para tocar no “Caiari Cobra Show”. A gente também se apresentava no Programa do Osmar Vilhena primeiro na rádio Caiari e depois na TV Rondônia. Antes disso a gente sempre estava no programa da TVE cujo estúdio era numa sala do palácio do governo e tinha o Dílson Machado como diretor.

Zk – Já como Samba Dez o que você destacaria?Gente de Opinião

Bainha – A estréia do Samba Dez não poderia ser melhor, fomos contratado para acompanhar o cantor Ciro Aguiar nos shows de Porto Velho e Guajará Mirim. Fazia parte do Grupo além de você no surdo, Careca no pandeiro, Jorge Andrade no violão, Osires Lobo no tamborim, aliás, o Ozires junto com seu irmão João Lobo também foi grande baluartes da Diplomatas do Samba assim como o grande Mário Jorge Alfaiate. No grupo tinha também o Camarão, Júnior Johnson, Babá, Serginho e o Pedro Silva.

Zk – De quantas agremiações carnavalescas você participou da fundação?

Bainha – Devo lembrar que naquele tempo as escolas de samba e os blocos carnavalescos, desfilavam Domingo e Terça Feira de carnaval, era um compromisso com a prefeitura. Respondendo a sua pergunta: Além da Diplomatas, participamos da fundação das seguintes agremiações: Bloco “Só Vai Quem Bebe’”.

Zk – Como funcionava o bloco só vai quem bebe?

Bainha – Era os homens vestido de mulher e as mulheres de homem. O detalhe era que as mulheres eram todas prostitutas, afinal de contas, elas bancavam toda a bebida e a panelada do bloco. Na realidade, a maioria dos sambistas que faziam parte da linha de frente nas escolas de samba, em particular na Diplomatas, eram todos gigolôs, viviam por conta das putas.  O Bar Plaza da Dejoca acontecia uma parada estratégica. Só que tinha que levar os instrumentos para a minha casa e na maioria das vezes era um problema, porque noventa e nove por cento dos brincantes estavam totalmente embriagados e só subia comigo uns três a quatro folião. Você era o único da Caiari que fazia parte desse bloco que só desfilava na segunda feira de carnaval.

Zk – Outra agremiações?

Bainha – Bloco do Bode, Mistura Fina, Zé Atraca (que originou a coluna do Zekatraca). Aí vieram as escolas de samba do Km-1, Unidos da Nova Porto Velho e Castanheira.

Zk – Tem uma historinha sobre o bloco do Bode?

Bainha – De todos esses blocos um dos cabeça era o Manelão e a gente se reunia no bar do Cassimiro, de onde todo domingo quando chegava o carnaval, a gente colocava um bloco de sujo na avenida. Num desses domingos alguém roubou a calcinha de uma jovem da vizinhança, melou de mercúrio para dizer que a jovem estava de “bode” (menstruada) e colocaram como “Estandarte”. Um empregado do Bar Antônio Chulé se prontificou a ser o Porta Estandarte, acontece que a mãe da jovem descobriu que aquela calcinha era da filha dela e junto com a jovem baixou o “cacete” no rapaz que estava com o estandarte, foi muita peia, mas o bloco saiu.

Zk – Como foi que surgiu a escola de samba Mocidade Independente do KM-1?

Bainha – Você em meados de 1973 me levou para a escola de samba Pobres do Caiari onde fizemos em parceria o samba “Odoiá Bahia”, enredo do carnaval de 1974 que é sucesso até hoje. Não sei por que, a Dona Marize após o desfile daquele ano, anunciou que a Caiari iria parar, me chamou e me deu todos os instrumentos da bateria. O carnaval de 1975 ia chegando e certo dia, no Bar do Cassimiro encontrei você e o convidei para criar uma escola de samba, pois já tinha o principal que era os instrumentos da bateria, você aceitou e convidamos o Deusdete Careca para fazer parte da escola e então surgiu a “Mocidade Independente do KM-1".

Zk – Que foi representar Rondônia em Brasília. Como foi essa história?

Bainha – Naquele tempo todo mês, um estado ou território era convidado para participar da troca da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes em Brasília e em fevereiro de 1975, Rondônia foi convidado. O governador Marques Henrique então chamou a dona Marize para coordenar o show que seria das escolas de samba Pobres do Caiari e Diplomatas, como a Caiari já não existia, Dona Marize convocou a nossa escola KM-1 que estava ensaiando, só que teríamos que nos apresentar em Brasília com o nome de Pobres do Caiari e assim foi feito. Foi um show elogiado por tudo quanto era jornal e televisão de Brasília. O samba cantado em ritmo de samba enredo pelo Jorge Andrade foi a composição do saudoso Walter Bártolo “Brasil Desconhecido”. Como o retorno de Brasília aconteceu uma semana antes dos desfiles das escolas de samba em Porto Velho, nossa escola em seu primeiro desfile, se apresentou de azul e branco em consequência da apresentação com o nome da Pobres do Caiari em Brasília.

Zk – Quanto tempo durou a KM-1?

Bainha – Foram seis anos. Todos os sambas enredos da Mocidade do KM- 1 são de autoria de Bainha e Silvio Santos: O Último São João de Castro Alves (75), Mocidade no Reino dos Orixás (76), Saudade Eterna – Praça Jonathas Pedrosa (77), Réquiem ao Compositor – Homenagem ao Neguinho Menezes (78) a escola foi campeã. Depois vieram, Mundo Encantado da Criança (79) e Nossa História (1980).

Zk – Vamos começar a encerrar nosso bate papo. Você já foi enredo de escola de samba?

Bainha – Em 2004 a Diplomatas me homenageou, o interessante foi que o pessoal do Asfaltão que é da minha família, fiz a ala “Amigos da Portela” e deu mais de 50 integrantes de azul na Diplomatas.

Zk – Hoje você faz parte da ala de compositores do Asfaltão. Quantos sambas você e seus parceiros já colocaram na avenida pela escola do Tigre?

Bainha – O primeiro foi o samba que levou a escola de volta para o Grupo Especial, é nosso também o samba sobre o bairro Santa Bárbara e o do enredo sobre as Mascaras com o qual a escola foi campeã em 2012.

 

Zk – Agora para encerrar. Onde vai ser a festa dos 75 anos de idade?

Bainha – Meus filhos optaram por fazer no dia 17. Deixa eu desabafar: Temos um trabalho aqui, que poucas cidades do Brasil e do mundo têm, trabalho cultural, carnavalesco eu digo isso pra muita gente, graças a você o povo de hoje sabe que nós existimos. Em Porto Velho e no estado não existe um órgão oficial, uma autoridade que se interesse pela nossa cultura. Vem um cara que a gente não sabe de onde é se candidata e o povo de Porto Velho vota nele. Como é que vamos ser lembrado se o cara não sabe se existimos. Digo uma coisa, teve o centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, o Bubu se não me engano, foi o coordenador da programação musical, trouxeram gente de outros estados e juntaram com os artistas daqui e não tiveram a coragem de me convidar para a festa, eu que tenho um bocado de músicas que fala da Estrade de Ferro, isso dói e o Bubu é filho daqui.

Zk – E ficou por isso mesmo?

Bainha – Depois da festa do centenário fui cantar na Fina Flor do Samba do Ernesto Melo e desabafei sobre a minha não convocação para cantar na programação do centenário. Fiquei muito feliz ao cantar a música que é da parceira Bainha e Silvio Santos ”Nossa História” e todo mundo cantou junto o refrão que diz: “Olha a Maria fumaça, Maria fumaça pra lá e pra cá. Olha a Maria fumaça de Porto Velho a Guajará”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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