Domingo, 10 de dezembro de 2006 - 06h12
Para falarmos de como surgiu o bairro das Pedrinhas, é preciso contar primeiro a história do bairro do Rosário. Aliás, não existe o bairro do Rosário, o que existe é a igreja da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, o que muitos conhecem como bairro do Rosário na verdade, é bairro Olaria. A história que os amigos vão acompanhar abaixo, me foi passada pelo cantor, compositor, instrumentista e poeta Bado que nasceu, se criou e ainda mora no bairro Olaria nas proximidades da igreja do Rosário. "Podemos dizer que aqui é área nobre pela proximidade do Rio Madeira, do centro da cidade e por contar com órgãos públicos importantes como o MP e TC e porque fica perto da Esplanada das Secretarias".
O Heráclito Rodrigues Filho conhecido como Tito conta que chegou no local que ficou conhecido como bairro Pedrinhas em 1968 "Quando isso aqui era tudo mato e as lavadeira entravam pra lavar roupa pelo beco da Farquar".
O principal entrevistado é o empresário Flodoaldo Pontes Pinto Filho o Flodoaldinho. Acontece que seu pai pode ser considerado o verdadeiro criador do bairro, já, que quando o governo federal fechou os garimpos (manual) de cassiterita na Província Estanífera de Rondônia, ele que era dono de um dos maiores garimpos, o Massangana onde trabalhavam mais de 3 mil garimpeiros. Em conseqüência do fechamento dos garimpos ele trouxe alguns garimpeiros para morar em suas terras, que ficavam onde hoje é o bairro Pedrinhas. Isso foi em entre os anos de 1963/64.
Zk – O que você lembra sobre o local onde você mora. Quando sua família veio morar aqui onde alguns chamam de bairro do Rosário, mas, que na realidade é Olaria?
Bado - Meus pais chegaram aqui por volta de 1954. Na verdade, aqui onde moro hoje, é a rua José Camacho antiga Ariquemes, lembro que isso aqui era um matagal só. Quando eu era menino, estudei aqui nessas imediações, Castelo Branco, Samaritana inclusive, a Samaritana que é ligada a Maçonaria chegou a ser uma escola Rural.
Zk – Isso quer dizer que praticamente você nasceu e se criou aqui?
Bado - Lembro que aqui onde fica nossa casa não tinha rua, era um matagal só.
Zk – Existe o bairro do Rosário?
Bado - Na verdade aqui faz parte do bairro Olaria, mas a igreja do Rosário passou a ser o ponto de referencia, e inclusive muita gente até hoje, diz que mora no bairro do Rosário. Na realidade nunca existiu um bairro do Rosário e sim a Igreja do Rosário.
Zk – E o bairro das Pedrinhas, não tudo a mesma coisa, Rosário e Pedrinhas?
Bado – Não, o bairro das Pedrinhas veio muito depois só que é colado com o Olaria. Tem até uma certa confusão, de onde é Pedrinhas, de onde é Olaria.
Zk – E de onde é Pedrinhas?
Bado – Da Tabajara pra lá é Pedrinhas e pra cá pro rumo da Calama é Olaria.
Zk – A música de sua autoria "Lavadeiras" tem a ver com a histórias dessa região de Porto Velho, digo, Pedrinhas, Olaria, Rosário?
Bado – Tem tudo a ver porque a gente quando era menino aqui, tinha o igarapé dos Milagres depois virou bairro dos Milagres e hoje é São Sebastião. Ali onde hoje é o São Sebastião UM era o bairro Milagres e a gente que era aqui do Olaria ia tomar banho no Igapó dos Milagres, aquilo ali é um Igapó, até hoje quando o Rio Madeira enche afeta aquela região todinha que faz divisa com o Nacional. Nos Milagres era uma espécie de fazenda do governo territorial onde eles faziam experimentos, tanto, que trouxeram os Búfalos da Ilha do Marajó (esses Búfalos depois foram levados para o Alto Guaporé – Fazenda Pau D´óleo). Bem, o bairro aqui do Rosário hoje mais legitimamente, porque oficialmente, isso aqui é Olaria. A confusão é por causa da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário cuja igreja fica por trás do prédio do Ministério Público.
Zk – Pelo bairro abrigar uma série de órgãos públicos como Tribunal de Contas, Ministério Público etc... Pode ser considerado área nobre?
Bado – Sem dúvida! Eu diria que antes disso tudo, ou através disso, começou a se gerar uma especulação imobiliária muito grande o que fez e hoje é muito observado. De dois mil pra cá, você nota muitas famílias que moravam aqui vendendo seus terrenos, principalmente as pessoa que tinha terreno grande, os que vão de um lado da quadra ao outro. Aqui em frente de casa que era uma área que era da igreja e que acabou sendo fatiada, hoje existe condomínio fechado assim como existe ali na Tabajara que é na outra rua, além do prédio do Ministério Público cujo terreno também era da igreja. Hoje o que se vê aqui, é crescendo espigões, porque é uma área plana. Eu considero uma área nobre, porque é próxima ao Rio Madeira, próxima ao centro etc...
Zk – Você chegou a freqüentar, tomar banho no Igarapé das Pedrinhas?
Bado – Bom, casei com a Bené que é de lá, ali da baixada mesmo. Depois da Policlínica Ana Adelaide tem uma baixada e até hoje a família da Bené mora lá. Quando a gente era menino tinha isso, de através da igreja a gente conhecer as meninas do outro bairro daqui da região. Tinha Os Tanques, a gente ia pra barragem Dos Tanques, o Ipase Novo a gente viu nascer. Agora, eu conheci as Pedrinhas meio, da forma que conheci a minha região, era mais mato, era mais varadouro do que rua.
Zk – Você era considerado menino peralta?
Bado – Fui moleque como qualquer outro, dava salto mortal lá nos Milagres, empinava papagaio, jogava bola mais nunca consegui esse brilhantismo todo, em virtude da deficiência visual. Agora, é superimportante fazer essa ligação com esse eixo, com as Pedrinhas, porque tem uma ligação muito forte com as famílias que moravam aqui. A Pedrinhas também é um bairro que se esfacelou muito.
Heráclito Rodrigues Filho - Tito – Filho do pioneiro da Madeira Mamoré Heráclito Rodrigues, Tito foi um dos primeiros a construir uma casa no bairro das Pedrinhas, ele conta que quando chegou ao local onde mora até hoje, na rua Jamari logo após a Policlínica Ana Adelaide atravessava o córrego das Pedrinhas escorado numa cerca que existia, "Era a única passagem para o centro de Porto Velho".
Zk – Quando você veio morar aqui?
Tito – Em 1968 eu vim morar pra cá, aqui na frente, nessa rua que hoje é a Jamari tudo era matagal.
Zk – E como era que as lavadeiras chegavam ao igarapé da Pedrinhas?
Tito – O pessoal entrava pela Farquar. Beco da Farquar
Zk – Você tem idéia a quem pertenciam essas terras que hoje formam o bairro das Pedrinhas?
Tito – Pra esse lado que moro nunca vi nenhum documento dizendo que era dessa ou daquela pessoa, pro lado de lá, muita gente falava que era do Flodoaldo, eu não tenho como provar porque nunca vi e não tenho documento nenhum.
Zk – Quando foi que realmente o bairro começou a crescer?
Tito - Realmente o bairro começou a crescer com a chegada do Teixeirão, ele começou a abrir as ruas, enlarguecer as que existiam, asfaltar.
Zk – A Pedrinhas pode ser considerado um bairro que nasceu às custas de invasão?
Tito - Pra mim nasceu sobre as ordens do Teixeirão. Certa vez vi o Teixeirão descendo essa rua em companhia do Chiquilito e do Flodoaldo e até o padre que se não me engano era o padre Pascoal vigário da nossa igrejinha veio com ele.
Flodoaldinho – Seu pai Flodoaldo Pontes Pinto foi um dos donos da área onde foi criado o bairro das Pedrinhas.
Zk – É verdade que as terras onde estão as casas do bairro das Pedrinhas eram da sua família?
Flodoaldinho – Vou te explicar como é que foi! Aquilo ali era um sítio do seu Walter Bártolo, dele junto com seu Cosmo Monteiro dos Santos, topógrafo antigo aqui de Porto Velho, pai do professor Isaias que hoje mora em Ariquemes e o Walter Bártolo junto com seu Cosmo venderam pro papai aquele sítio.
Zk – Você lembra a data dessa transação?
Flodoaldinho – Isso foi mais ou menos, entre os anos de 1963/1964, ou seja, ha 43 anos. Quando fechou o garimpo de cassiterita em 1971.
Zk – Garimpo?
Flodoaldinho – O papai era dono de garimpo e o garimpo de Massangana era uma dos mais densos, na época abrigava uns 3 mil garimpeiros. Quando o governo federal fechou os garimpos, esses garimpeiros não tinham pra onde ir porque o negócio foi na marra, o Exército chegou e já foi tirando todo mundo, foi aquele êxodo, botava no caminhão, trazia, botava no avião e jogava pra Santarém, pra Roraima por diabo que o parta.
Zk – E as Pedrinhas?
Flodoaldinho – Acontece que muitos garimpeiros já tinham vínculo com Porto Velho e como não tinham pra onde ir, o papai armou uns barracos ali no sítio. Naquele tempo não tinham essas barracas de lona, era tapiri mesmo, rabo de jacu. Acontece que se tinha esperança, porque tinha uma corrente tentando manter o garimpo manual em funcionamento. Era uma corrente de poder, porque naquele tempo não tinha política, em 71 o Congresso era amordaçado, era o tempo da ditadura braba.
Zk – E essa corrente que você fala, contava com quem?
Flodoaldinho – O Coronel Aluízio Ferreira ajudava, o Coronel Enio. Paulo Leal que na época chegou a ser até Secretário de Transportes, era aquela esperança, foi ficando, abre num abre e o pessoal foi ficando no sítio.
Zk – Você lembra de alguns nomes?
Flodoaldinho – O Anastácio, Antônio do Carmo, o Salazar e muitos outros. A coisa acabou que se transformou em morada deles, o papai deixou.
Zk – Essa área do sítio ocupava o que?
Flodoaldinho – Era uma área de 5 hectares. Ela começa ali na Padre Ângelo e ia até Os Milagres, o fundo do sítio era a cerca Dos Milagres, que hoje é o bairro São Sebastião, um pouco mais pra cá da Costa e Silva começava os Milagres. Naquele tempo não tinha arruamento, tinha o sítio do Dr, Fuad que pega toda aquela parte da rua Jamari pra lá. Do lado esquerdo onde hoje é o Ana Adelaide, a Igreja era o sítio do Emil Goaraybe. Tinha no sítio do papai e depois o sítio do seu Benedito que é ali onde hoje fica a Esplanada. O sítio do seu Benedito à parte que o governo tomou, até hoje ele briga na Justiça com o Governo e a parte que o povo invadiu ficou por isso mesmo.
Zk – O povo invadiu?
Flodoaldinho – O povo chegou mesmo. Eram quantas pessoas que vieram, só do Massangana 3 mil, agora conta, Alto Candeias, Jucá. Na nós tínhamos aqui em Porto Velho uns 15 mil sem teto.
Zk – Vem cá, a área já era conhecida como Pedrinhas?
Flodoaldinho – Era, por causa do Banho das Pedrinhas. O banho das Pedrinhas ficava depois do nosso sítio, já pegando o sítio do seu Benedito já chegando Nos Milagres.
Zk – Descreve como era o banho das Pedrinhas?
Flodoaldinho – Era uma cratera de laterita que chamavam de pedrinhas porque era só de cascalho e ali se tomava banho, as lavadeiras lavavam roupa, aquela coisa toda. Eu aprendi a nadar, lá, me jogaram dentro do buraco e eu tive que me virar e quando vi tava nadando. Então, a coisa passou por esse processo.
Zk – Processo provocado pelo estado?
Flodoaldinho – Sim, foi uma intervenção do estado. O governo foi quem colocou essas famílias todas aqui na rua. Essas famílias viviam nos garimpos, bem ou mal, tendo seu sustento garantido, produzindo e de repente se viram sem alternativa e o papai deixou que as pessoas ficassem morando lá.
Zk – Para a pessoa dona de imóvel nas Pedrinhas, para conseguir o título definitivo tem que conversar com você?
Flodoaldinho – Olha, eu fiz um acordo com a prefeitura quando o prefeito era o Sebastião Valadares. Era o seguinte, eu doava a área para o município dede que o município me dessa outra área, na época o Dr. Amadeu Machado era o procurador da prefeitura. Na época fizemos uma vistoria na área, porque inclusive havia o interesse do governador Jorge Teixeira, acontece que a prefeitura não tinha nenhuma área disponível, meu pai havia falecido e eu não queria entrar em confronto com os ocupantes.
Zk – E hoje o morador tem pagar para obter o documento definitivo?
Flodoaldinho – Não colocamos nenhum obstáculo. O morador interessado em regularizar sua situação tem que pagar as despesas, como IPTU, Transferência da Prefeitura o IPVI, Registro de Imóveis, essas coisas.
Zk – Para encerrar! E os búfalos?
Flodoaldinho – Uma vez eu tava no sítio e levei uma carreira dos búfalos. Os bichos arrombaram a cerca Dos Milagres e quando sai da casa, dei de cara com um pai d'égua de um búfalo olhando pra mim assim, eu só sei que, só deu tempo deu dar uma marcha ré, sai correndo, entrei em casa e o bicho ficou cercando a casa.
Zk – Quem trouxe os búfalos para Porto Velho?
Flodoaldinho – Foi o Walter Bártolo com o Dr. Edgar Cordeiro. Eles trouxeram os bichos lá da Ilha do Marajó pra fazer uma estação experimental, só que os búfalos fugiam Dos Milagres por causa do pasto do aeroporto do Caiari e acabavam oferecendo problema pra aviação, atacavam as pessoas e a solução foi pegar os bichos, sedar e levar pro Pau D'óleo.
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