Segunda-feira, 18 de outubro de 2010 - 05h50
No inicio dos anos 1960, Porto Velho fervilhava. Eram os garimpeiros de cassiterita que inundavam a cidade de dinheiro e em conseqüência, o comércio florescia a passos sem precedentes. “No tempo do garimpo de cassiterita dinheiro em Porto Velho era que nem folha caiando no outono”. Foi justamente nessa época, que o jovem Benedito Ribeiro das Neves - Ribeirinho cearense de Frecheirinha desembarcou do navio Leopoldo Peres que atracou no “Pontão” Aripuanã no porto do Plano Inclinado em Porto Velho. Ao subir o barranco deu uma olhada para trás apreciou a beleza do Rio Madeira e disse: “A partir de hoje essa será minha terra”. Na bagagem muita correia de sandália japonesa e outras bugingangas de fácil comercialização. “Sandália Japonesa era como o povo chamava essas sandálias que hoje são do tipo Havaianas”. Decidido a se transformar num grande empresário, Ribeirinho saiu vendendo seus produtos aonde tinha oportunidade, estendeu o pano embaixo das mangueiras que existiam em frente a Feira Modelo (hoje Mercado Central) na rua Farquar, montou Box na famosa rua do Coqueiro, mas inquieto, saia vendendo de porta em porta sem esquecer dos arraiais promovidos pelos padres em homenagem ao santo padroeiro principalmente nas localidades do baixo Madeira. “Ia vender na festa de Humaitá”.
Em pouco espaço de tempo, o jovem empreendedor já contando com a parceria de todos da sua família, irmão, primos, pai, mãe tios, sogro, sogra enfim um verdadeiro clã, abriu a loja Fortaleza na rua Prudente de Moraes nas proximidades da famosa ponte Guapindaia. A Loja Fortaleza vendia de tudo, desde as correias para sandália japonesa até motocicleta, sem esquecer as bijuterias e as roupas. “A gente lançava moda em Porto Velho”. Hoje atuando no Ramo de hotelaria ribeirinho se confessa feliz e se orgulha de ter participado ativamente do desenvolvimento do estado de Rondônia em especial do de Porto Velho.
E N T R E V I S T A
Zk – O senhor veio para Porto Velho quando e de onde?
Ribeirinho – Sou cearense de Frecheirinha e desembarquei aqui em 1962, trouxe pai, tio, irmão, depois que casei, sogro, enfim, não ficou ninguém da nossa família lá.
Zk – É verdade que ao chegar em Porto Velho o senhor colocou uma banca na rua do Coqueiro (hoje Euclides da Cunha)?
Ribeirinho – Quando chegamos aqui, ali onde é Mercado Central era a Feira Modelo e pela rua Farquar tinha umas mangueiras e nós ficamos ali embaixo. Mas, nossa banca mesmo era na rua do Coqueiro.
Zk – Como era essa rua do Coqueiro?
Ribeirinho – A rua do Coqueiro se fosse hoje, seria o trecho da Euclides da Cunha que vai da Sete de Setembro até a Baixa da União passando pelo Shopping Popular que a gente chama de Camelódromo. Acontece que no meio da rua existia um pé de coco, daí a origem do nome.
Zk – O que vocês vendiam?
Ribeirinho – Sempre tivemos uma lojinha, uma bodega, uma taberna ou coisa parecida, isso lá em Frecheirinha, quando viemos pra cá abrimos a banca vendendo bijuterias, plásticos essas coisas.
Zk – E quando foi que resolveram abrir a Loja Fortaleza?
Ribeirinho – Abrimos a Fortaleza que até hoje tem gente que lembra com saudades, entre os anos de 1966/67 na rua Prudente de Moraes logo depois da ponte Guapindaia sub esquina com a rua Almirante Barroso aí já estava com meus irmãos, Luiz, Antônio, Joanora a turma todinha, nosso negócio era trabalhar.
Zk – O que se comprava na Loja Fortaleza?
Ribeirinho – Tinha praticamente de tudo, até correia de sandália japonesa.
Zk – Como era essa sandália japonesa?
Ribeirinho - Japonesa era o nome que o povo dava para as sandálias, que hoje são conhecidas como Havaianas. Nas Fortalezas um dos produtos que mais se vendia era justamente a correia da sandália. Pararam de fabricar porque a venda de sandália caiu. Acontece que a sandália de borracha só quebra a correia a sola fica e então o que se vendia era a correia.
Zk – Vamos falar mais sobre a Loja Fortaleza?
Ribeirinho – Começamos como armarinho, foi a primeira loja a colocar vitrine em Porto Velho. A loja cresceu e já nos anos 1970 entramos para a linha de móveis também. Na realidade, tínhamos um nicho muito grande. Calçado e confecção, móveis e eletro domésticos. Chegamos inclusive a vender motocicleta Honda que naquele tempo era novidade em Porto Velho.
Zk - Voltando no tempo. De qual navio o senhor desembarcou no porto de Porto Velho?
Ribeirinho – Naquele tempo o porto era bem mais arrumado. Nossa viagem de Belém pra cá foi no navio Leopoldo Peres. Depois fiquei freguês e sempre estava embarcando nos navios da SENAP, Lobo D’almada e Leopoldo Peres, mas tinha também o Augusto Montenegro. A viagem daqui até Belém passando por Manaus demorava entre 10 a 12 dias, isso porque o navio parava em todo porto do baixo amazonas, carregando borracha, descarregando alimento e pegando e deixando passageiros.
Zk - No começo aqui em Porto Velho vocês chegaram a vender de porta em porta?
Ribeirinho – Sim! Trabalhei na feste de Humaitá. Vedemos nas portas do Mercado Municipal onde é o edifício Rio Madeira e o Mercado Cultural hoje. A gente ficava vendendo correia para sandália que era a nossa salvação, afinal de contas, éramos uma família de 14 pessoas.
Zk – Vendendo couro?
Ribeirinho – Primeiro borracha era o tempo dos calçados Durabel.
Zk – E a fila da carne é do seu tempo?
Ribeirinho – Claro! Inclusive tenho uma história muito interessante a respeito da fila da carne.
Zk - Qual é?
Ribeirinho – No Ceará meu pai era marchante, em nossa região quem matava boi era ele. Bom! Era comum faltar carne em Porto Velho, vale salientar que a carne vinha de trem da Bolívia ou então nos aviões da Paraense de Cuiabá. A gente morava numa estância que ficava na rua Floriano Peixoto em frente a loja Mourão & Irmãos pertinho do Mercado. Meu pai entrou na fila que de manhã cedo estava dando volta no mercado, quando chegou a vez dele o açougueiro anunciou que a carne tinha terminado, o velho ficou uma fera. Quando cheguei em casa por volta de uma hora da tarde, estava ele sentado de um lado minha mãe do outro e ele se levantou dizendo: “Vou embora! Vou embora porque isso aqui não é lugar, não se tem uma carne pra comprar, tô na fila desde as sete da manhã e coisa e tal. E eu disse: Peraí papai, não é assim não, vamos estudar esse negócio direito.
Zk – Qual a solução para o impasse?
Ribeirinho – Fui até o mercado falei com o açougueiro: Cara não sobrou nada aí não? Rapaz, disse o açougueiro, tem um pedaço de carne que um cara encomendou e até agora não veio buscar. O certo foi que o convenci a me vender. Ele quis embrulhar e eu disse não, deixa que levo assim mesmo, cheguei em casa com a carne na palma da mão, joguei pra cima e a carne caiu em cima da mesa paaaaaá! Então falei: Por falta de carne vocês não vão mais embora daqui.
Zk – E a Loja Fortaleza foi de vento em popa?
Ribeirinho – Foi, acho até que se a gente abrisse a Fortaleza hoje ela faria sucesso, apesar das coisas estarem mais difíceis nos dias de hoje em virtude da concorrência, é tudo muito fácil.
Zk – Por falar em facilidade, como era que vocês faziam para manter a Fortaleza sempre em destaque em se falando de moda?
Ribeirinho – Era difícil, não tinha estrada o negócio era tudo via aérea, a gente mantinha o Luiz lá em São Paulo justamente para comprar as novidades e mandar pra cá. Nós ditávamos a moda aqui. Lançava lá no Rio de Janeiro ou em São Paulo e com uma semana a gente estava vendendo aqui.
Zk – Em sua opinião. Em qual dos ciclos correu mais dinheiro aqui em Porto Velho. O da borracha, garimpo de cassiterita, garimpo de ouro ou agora com as usinas?
Ribeirinho - Sem dúvida nenhuma, foi durante o ciclo da cassiterita. No tempo da cassiterita dinheiro aqui era que nem folha caindo no outono, você não vê nenhum garimpeiro rico, isso porque ele gasta tudo que ganha acreditando que amanhã vai ganhar mais e mais. O garimpo do ouro do madeira, foi bom mas, não chegou nem perto da cassiterita. As usinas falaram, falaram! Não deixa de não ser um nicho de jogar dinheiro aqui dentro, mas, não é tão significante, principalmente no comercio lojista. Aí vem o shopping com mais 180 lojas, hoje o comercio está muito dividido.
Zk – Como o senhor classifica essa divisão?
Ribeirinho – Porto Velho tem cinco centros comerciais hoje, Jatuarana na Zona Sul, Amador dos Reis na Zona Leste, Carlos Gomes, Sete de Setembro no centro e o Porto Velho Shopping.
Zk – Depois da Fortaleza vocês abriram outras lojas com outros nomes?
Ribeirinho – A sociedade foi se desfazendo, saiu o Luiz o Chico saiu o meu pai que disse: Eu não quero mais, é muito movimentado e eu não to mais pra isso. A loja Fortaleza ficou só com três sócios: Eu o Antônio e o Lauri. Depois cada um tomou seu destino, não sei se isso foi correto, mas, cada um foi pro seu lado. Hoje ta todo mundo bem, o Antônio tem a loja dele o Lauri tem a dele e a Joanora a dela.
Zk – Por falar em loja, ainda tem um parente de vocês que mantém um comercio (boxe) na antiga rua do Coqueiro?
Ribeirinho - Tem, é a nossa irmã Lindalva. Nossa família tem uma desvantagem, só acreditamos no trabalho. Nenhum de nós tem boa vida é só no cacete. O Baú é do Lauri, o Antônio tem o Formigão e a Joanora tem a Dikas, o Bonzão e uma loja no Shopping também e eu parti para o ramo de hotelaria e motel. Tenho o hotel Guaporé e mais dois Motéis o Savana e o Nigth And Day
Zk – Vamos falar da sua família. O senhor é casado com quem e tem quantos filhos?
Ribeirinho – Sou casado com a dona Francisca Almeida Neves que chamam de Francimar nós somos primos, nossos pais são irmãos legitimos. São quatro filhos biológicos e uma menina que criamos. O Neto é advogado, a Rejane está comigo no Hotel o Rogério toma conta do Motel, o Ziel trabalha no estado, o Maike é sargento do exército e eu por aqui.
Zk – Deu pra ganhar dinheiro?
Ribeirinho – Tá todo mundo bem. Não tem nenhum rico, é tudo trabalhador.
Zk – Vamos fazer uma analise da Porto Velho dos anos 1960 até a Porto Velho de hoje?
Ribeirinho - Pra você ver como as coisas são interessantes, Porto Velho crescia na horizontal. Quando cheguei aqui o último poste de luz estava na esquina da Carlos Gomes com a Brasília hoje ta chegando no Candeias. O crescimento na horizontal, parece, não é muito bom para o prefeito administrar. Agora ta crescendo na vertical. Discordo de quem diz que a cidade cresceu desordenada, nada disso, temos ruas e avenidas largas e muitas asfaltadas.
Zk – Há algum tempo o senhor foi candidato a um cargo político partidário. Vamos falar sobre essa experiência?
Ribeirinho – Aliás, nunca te agradeci meia página de jornal que você a meu respeito na época. Vou lhe contar, foi o pior negócio que já fiz na minha vida. Você arranja inimigos, você não é visto como uma pessoa digna. Comigo aconteceu um fato interessante, uma pessoa chegou comigo e disse: “Eu tinha o senhor como uma pessoa séria, como é que foi se meter com essas feras?”.
Zk – E na política classista?
Ribeirinho – Fui fundador do Sindloja, fundador e presidente do CDL, presidente da Associação Comercial, por força do sindicato fui diretor do Sesc/Senac e com isso vi a infância dos meus filhos passar e eu não tive tempo de brincar com eles. De dia era trabalho e a noite reunião nas associações.
Zk – O Ribeirinho foi festeiro no tempo dos clubes sociais?
Ribeirinho – Tenho carteirinha deles todinhos. Meu título do Ferroviário é o número quatro. Tem aquelas coisas que a gente gostaria de ser e não consegue, no meu caso são três coisas: A primeira é pilotar um avião, a segunda tocar violão e a terceira é dançar. Eu dançava mais saia pisando os pés das damas era um desastre no salão, mas estava lá. Bancrévea, Ypiranga, Moto Clube, Botafogo.
Zk – E o carnaval era melhor antes ou agora?
Ribeirinho – O carnaval de antigamente era muito melhor, hoje se não fosse a Banda do Vai Quem Quer pra quebrar o galho dos foliões não tinha mais nada. Carnaval de clube não tem mais.
Zk – Para encerrar. A concorrência era melhor no tempo da Casa Saudade ou agora?
Ribeirinho - A Casa Saudade era uma maravilha todo mundo acreditava nela, os diretores muito bons, não tinha como concorrer não, era mais uma família comercial do que a bendita concorrência. Hoje a cidade cresceu dez vezes, mas, o comercio aumentou umas quinze vezes mais.
Zk – Hoje o senhor está no ramo de hotelaria; Ainda tem vontade de voltar a abrir a Loja Fortaleza?
Ribeirinho – Não! Apesar de nunca afirmar, desse pão não como, dessa água não bebo. Uma coisa é certa, você nunca deve desistir. Se uma coisa não está dando certo parta para outra. Agradeço a Deus por tudo que consegui e não consegui na vida.
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
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