Segunda-feira, 1 de setembro de 2008 - 06h10
No dia 28 de agosto passado, foi comemorado o dia do Feirante uma das categorias mais importantes do universo econômico financeiro da cidade. Apesar de nem mesmo os vendedores das feiras terem em sua maioria, conhecimento da data, a imprensa de Porto Velho em especial da RedeTV/Rondônia, colocou várias matérias no ar com a participação dos feirantes. Uma dessas reportagens nos chamou a atenção, porque o entrevistado Braz Costa Gomes lembrou do tempo que a feira livre era montada em frente ao palácio Presidente Vargas onde depois construíram a praça Getúlio Vargas o que fez com a feira fosse desativada naquele local, indo para a rua do Coqueiro hoje rua Euclides da Cunha. Na realidade somos freguês da banca do Braz que fica no Mercadinho do KM-1 na entrada pelo lado da rua Brasília. Só não sabíamos, que o Braz conhecia a história da feira do palácio, a primeira feira montada em Porto Velho que se tem conhecimento, ainda mais quando ele disse na reportagem da TV, que nasceu na localidade de Silveira que fica à margem esquerda do Rio Madeira. Fomos lá marcamos a entrevista e entre tantas lembranças, ficamos sabendo como ele fazia para colher pupunha e como o seu pai preparava o vinho do açaí.
Quer saber sobre, frutas, verduras ou qualquer coisa que se venda no Mercadinho do Km-1, procura o Braz que ele sabe. Sabe inclusive, qual a fruta que está na safra. "Agora era para a gente estar vendendo tucumã bom, acontece que com o desmatamento, as aves, principalmente as araras e papagaios, por falta de opção, estão comendo praticamente toda a produção de tucumã, hoje os frutos que vêm pro mercado estão secos, não tem mais aquela papinha gostosa porque a arara sugou tudo".
As bananas que antes eram conhecidas apenas como Banana Comprida; banana baié; banana branca, segundo nosso entrevistado, hoje são chamadas de "banana de fritar; banana da terra, a banana baié, no Sul é chamada de nanicão, no nordeste é banana nanica, na Bahia é banana chorona, em outro lugar banana d'água, é também banana peroá e banana cravo em Minas, aqui é baié mesmo. A banana branca agora é maçã. Às vezes, a gente vê que a pessoa é beradeira, mas, chega aqui e pergunta apontando para a banana branca, que banana é essa? Se a gente diz que é branca, ela diz que quer banana maçã".
A conversa com o Braz pode durar o dia inteiro se o assunto for sobre frutas e até sobre como se fazer para acabar com a praga da formiga "Tracoá", aquela pretinha que alguns chamam de formiga doida e até receita para curar malária. Mas, pode durar alguns minutos desde que você prefira saber das coisas do Braz através da entrevista que segue.
E N T R E V I S T A
Zk – Você nasceu aonde?
Braz – Nasci na localidade de Silveira que fica do lado esquerdo do Rio Madeira bem em frente ao Belmonte do Xavier, no dia 3 de fevereiro de 1935.
Zk – Conta como foi a sua infância?
Braz – Na realidade, nasci em Silveira, mas, com 10 anos de idade vim estudar aqui em Porto Velho. Estudei no colégio Dom Bosco; no Barão do Solimões e estudei na Escola Frederico Trota que funcionava na Joaquim Nabuco entre a Afonso Pena e a Sete de Setembro. Em 1947 meu pai faleceu. Eu morava com meus tios, Marciano Costa que está com 94 anos; Domingos Costa que você já entrevistou e Zeca Costa. Eu estudava e nas horas de folga, ajudava meus tios Marciano e Zeca que eram carpinteiro.
Zk – Naquele tempo as casas eram de madeira, isso quer dizer que seus tios e é claro você, tinham muito trabalho?
Braz – Eu ajudei a construir o primeiro Clube Guaporé que era do Canduri (hoje é a TV Boas Novas na José Bonifácio); Ajudei a montar as primeiras casas que vinham de Belém pré fabricadas, na Vila de Candeias (hoje município de Candeias do Jamari),
Zk – Sobre essas casas pré-fabricadas?
Braz – Nós montamos as primeiras casas da Vila. Naquele tempo o motorista era o Deroche Pequeno Franco; a gente ia daqui, eu, tio Zeka, tio Marciano e o Genésio um cidadão que naquela época carregava gelo em bloco subindo a Sete de Setembro.
Zk – E o Clube Guaporé?
Braz – Foi o seguinte, nós terminamos a construção véspera de carnaval, tinha que entregar naquele dia. Quando nós terminamos saiu um "Quinado" (Naquele tempo Quinado era o termo usado para bebidas do tipo Cinzano, Martini etc.). Bom, eu morava com o tio Zeka. O Canduri vai coloca um pouco de Cinzano com Guaraná pra mim, eu nunca havia bebido, entornei aquela misturada, quando cheguei em casa, meu tio me deu o maior carão da vida, tudo porque eu havia bebido na frente dele, para você vê como era a educação naquele tempo.
Zk – Agora vamos falar do feirante. Aonde era a feira livre no tempo que você vivia em Silveira?
Braz – Morávamos em Silveira, eu e meu pai. Quando era quarta feira, passava a lancha do beradão. A Lancha saia de Itacoã uma localidade perto de Aliança. A primeira lancha a fazer essa viagem era chamada de Sagica. Naquele tempo o superintendente do Serviço de Navegação do Madeira – SNM era o seu Feitosa. A chegada em Porto Velho acontecia na quinta feira a tarde ou sexta pela manhã. A reboque da lancha vinham muitas canoas.
Zk – Qual era a produção que vinha nessa lancha do beradão?
Braz – O beradão produzia tudo. Farinha, abacate, melancia, tangerina, laranja, cupuaçu, abacaba, açaí, graviola, biribá, pupunha.
Zk – Vinha carne de caça?
Braz – A carne de caça era liberada. Tudo que você trouxesse vendia na feira.
Zk – E onde funcionava essa feira?
Braz – A feira era em frente ao palácio do governo onde depois fizeram a Praça Getulio Vargas em frente ao mercado público municipal. A feira terminava domingo ao meio dia e então a gente voltava para Silveira.
Zk – No tempo que a feira era em frente ao palácio, além da lancha do beradão, tinha o trem da feira?
Braz – Não! Depois foi que criaram o trem da produção que vinha do Iata. Quando voltei de Humaitá pra cá em 1958, já tinha o trem da feira.
Zk – Quais os produtos que vinham nesse trem?
Braz – O pessoal que vinha do Iata trazia arroz, feijão, rapadura, farinha, tudo eles traziam.
Zk – Vamos voltar à feira em frente ao palácio. Como funcionava?
Braz - A feira em frente ao palácio funcionava de quarta feira a domingo. Meu pai fazia açaí na hora!
Zk – Como era feito o açaí?
Braz – A gente fazia o paneiro e colocava o açaí sequinho "empaiolado" com a palha de sororoca e trazia para a feira.
Zk – Como era que seu pai tirava o suco do açaí ou o vinho como diz o "caboco"?
Braz - Você pega os caroços do açaí, lava bem lavado, põe água pra esquentar no fogão a lenha. Olha. Carvão aqui em Porto Velho veio depois de muito tempo, o que tinha, era lenha pra vender. Os guardas territoriais no dia da folga faziam os feches de lenha ali nos Tanques (Parque Circuito hoje), traziam e vendiam pro Canduri e pro Eça que eram os dois comerciantes mais fortes que tinha aqui.
Zk – Voltando a receita do açaí?
Braz – Pois então! Não existia esse negócio de carvão, era na lenha mesmo e as panelas eram de ferro. Deixava a água aquecer, depois amornava colocando um pouco de água fria, quando chegava numa temperatura boa, colocava os caroços de açaí dentro até que eles ficassem molinhos, quando a gente esfregava com os dedos e a polpa saísse estava bom para amassar.
Zk – Amassava aonde?
Braz – Meu pai tinha umas gamelas próprias para amassar açaí. Depois de amassado era passado em peneiras bem feitinhas e vendido na hora. Tudo na cara do freguês. Meu pai tinha um pote bastante grande e colocava o vinho do açaí ali, o freguês chegava e metia uma concha com o cabo bem longo naquele pote e servia o tanto de açaí que queria tomar ou levar pra casa.
Zk – No tempo que a feira era em frente ao palácio do governo a gente sabe que carne de boi, a carne verde como era chamada, era difícil em Porto Velho. Fale sobre como vocês conseguiam comprar carne de boi?
Braz – Era o seguinte, naquele tempo não se usava sacola, era cesta feita com aquele cipó titica ou ambé. Meu avô chegava ao mercado de madrugada, colocava a cesta na fila e ia se escorar na beira do mercado porque nos meses de maio e junho fazia muito frio aqui, era o tempo da friagem. Depois de passar a madrugada no frio precisava ter sorte para conseguir um quilo de carne verde, às vezes, quando se chegava na beira da "banca" a carne tinha acabado. O miúdo do boi era vendido a tarde e o sacrifício para se conseguir um quilo de misturada eram o mesmo.
Zk – Que misturada?
Braz – Era chamado de arrastado ou misturado. O açougueiro não vendia, vamos dizer só o fígado, tinha que ter um pedaço de bobó que hoje chamam de pulmão; um pedaço de rin, um pedaço de coração, um pedaço de carne morta que hoje chamam de fraldinha, tinha o sangue coalhado se você quisesse era assim.
Zk – E peixe?
Braz – Tinha muita fartura de peixe. Quando era no tempo da piracema, nós íamos buscar cardume de tambaqui lá em Aliança, a gente vinha tarrafeando até a praia do Tamanduá, aí se pegava 20, 25, 30 tambaquis.
Zk – Quando tiraram a feira de frente do palácio ela foi para onde?
Braz – Quando saí daqui para estudar em Humaitá a feira já estava acontecendo por detrás do prédio do relógio que era a sede da Madeira Mamoré hoje é a Rua Euclides da Cunha, ficava entre o Saalft (hoje Ceron) e o Clube Internacional (hoje Ferroviário). Quando voltei de Humaitá já em 1958, a feira já estava onde hoje é o Mercado Central, ali eu passei a vender pupunha.
Zk – Se o pé de pupunha é cheio de espinho. Como é o processo para se colher pupunha?
Braz – Aquela pupunheira que não tinha muito espinho eu subia nela, do contrário, para subir nas que tinham bastante espinho eu fazia o seguinte: Enterrava um açaizeiro ao lado da pupunheira. Pegava aquele pessoal lá no beradão cavava uma cova bem funda, pegava um açaizeiro daqueles maiores e enterrava perto do pé de pupunha. Colocava uma peconha de três cordas e subia no açaizeiro, antes eu já tinha amarrado umas cordas na pupunheira e quando chegava na altura certa eu puxava essa corda e o açaizeiro envergava até bem perto da pupunheira e eu debulhava as pupunhas do cacho, lá embaixo estava a mamãe com um lençol aparando as pupunhas. Quando dava meia noite eu me levantava e ia cozinhar as pupunhas, por volta das três, quatro horas da madrugada eu pegava a canoa e vinha para Porto Velho, eram seis horas remando nesse madeirão. Eu fiz isso por diversos anos.
Zk – Não era perigoso viajar em canoa no rio Madeira?
Braz – Claro que é! Nós íamos pegar tartaruga ali na Praia do Tamanduá de linha, nós éramos três, meu pai João Costa, Eu e o Feliciano que era irmão do meu pai, a gente apoitava as canoas e via aquele vultozinho, era o Manoel Vicente pescando. Sabe como é que pega bicho de casco?
Zk – Como é?
Braz – A gente pegava uma tora de bananeira, tirava aquela casca que se chama de canoinha, dava um golpe prendia a linha e soltava no rio, a correnteza vai levando, tem uma chumbada grande que a gente chama de poita e quando a canoinha chegava na distância que a gente queria, dava um puxão e a linha saia da canoinha e sentava. A tartaruga dá uma beliscada bem fraca, então vocês fisga, quando sentir o peso é só puxar, não pode perder uma braçada que ela vem nadando até a beira e então você pega e vira a bicha de peito pra cima. O anzol tem que ser sem barbela e a isca mandioca puba.
Zk – É verdade que existia muita tartaruga na Praia do Tamanduá?
Braz – Vou só falar uma coisa pra você. Meu avô chamava-se Antônio Gomes de Oliveira era um maranhense, ele media um metro e noventa, era uma lapa de nego que vou te falar. Foi o homem da atualidade que mais pegou tartaruga na Praia do Tamanduá. Eu tinha entre 8/9 anos de idade e cheguei a ver virada de 600 tartarugas.
Zk – Vocês vendiam essas tartarugas aonde?
Braz – Minha avó por parte de pai contava que no tempo do comendador Francisco Monteiro o fundador de Humaitá, eles vinham buscar naquelas igarités. Essa canoas chamadas de igarité era feitas em Belém e tinham a proa e a popa alta e o meio era baixo. Naquele tempo tinha muito peruano vivendo por aqui e eles juntavam muito ovo de tartaruga e ficavam pisando, botavam pra filtrar no sol para tirar o óleo do ovo da tartaruga. Não era frito no fogo, era no sol. O óleo servia para fazer comida, para passar no cabelo essas coisas.
Zk – Voltando a vida do feirante?
Braz – Quando voltei em 58 passei a vender as frutas em atacado. Menos a pupunha.
Zk – E no mercadinho do KM-1?
Braz – Cheguei no mercadinho do KM-1 no dia 26 de janeiro de 1980. Foi o seguinte, em 1979 apareceu uma hepatite na minha família que resultou na morte da minha amada mulher. Ela teve cirrose hepática e quando viemos saber que ela tinha hepatite "B" já era tarde. Ela faleceu no dia 22 de junho de 1994 quando estava entrando o Plano Real. Nós nos casamos no dia 27 de agosto de 1967 o Padre Humberto foi quem nos casou. Dona Raimunda Gomes Bezerra (nesse momento Braz ficou emocionadíssimo) com quem tive quatro filhos, todos vivos, três homens e uma mulher. Meu amor é tanto pela minha mulher que não me casei mais.
Zk – Você gosta de festa?
Braz – Não fui muito chegado a festa não, era mais do futebol. Lá no beradão eu jogava futebol. Quando ia ter jogo o Antônio Xavier soltava um foguete no Belmonte e a gente escutava em Silveira e atravessava o rio para jogar.
Zk – Tem alguma história do Xavier do Belmonte?
Braz – Ele tinha um sobrinho que mentia mais do que ele era o Raimundinho que chamavam pra ele de "Bota". No dia que ele falou a verdade pro Antônio Xavier deu prejuízo.
Zk – Conta essa história?
Braz – Na casa do Xavier tinha um banco. Uma tábua grande com um bocado de pau nas laterais e o Xavier toda tarde se deitava naquele banco e nesse dia o de Bota passou no Belmonte II e viu a vaca do Xavier atolada na beira do igarapé. Quando ele chegou na casa do Antônio foi dizendo: Ei! A tua vaca ta atolada lá na boca do igarapé e o Antônio – Que nada, ele ta falando isso porque eu estou deitado. Mais tarde ele foi lá no igarapé e encontrou a vaca morta. E ele disse no dia que o Raimundinho falou a verdade eu não acreditei e perdi minha vaca.
Zk – Vamos começar a encerrar essa conversa. Como era o Mercadinho KM-1 quando você veio botar banca?
Braz – Tinha o mercado principal e mais dois galpões. Os feirantes, meu compadre Argemiro, essa japonesa que vende verdura. A prefeitura cedeu para eles construírem os galpões empreitados com o Zeca Gordo, um para o lado da rua Brasília e o outro pro lado do açougue do Gordo; Esse Argemiro que é meu compadre melhorou de situação. Eu era o fornecedor de fruta pra ele. Ele cresceu e me vendeu a banca dele, naquele tempo a banca era de madeira e era da pessoa, a prefeitura era apenas a dona da terra, chamava-se ocupação de solo.
Zk – E quando foi que todo mundo passou para dentro do mercado?
Braz – O Mercado que foi demolido recentemente para construir esse aqui, quem fez foi o Tião Valladares, não foi o Chiquilito, nem Camurça e nem o Zé Guedes não, foi o Valladares. Eu trabalhava no meio do mercado. Tinha uma passagem principal para o galpão, eu tinha maior vontade de um dia ter uma banca na frente de todas. Quando o Valladares tava construindo o mercado, eu subia pela parede e ficava olhando e dizendo, quem sabe se essa banca não vai ser minha. De fato, ganhei o local e coloquei a minha banca. Passou algum tempo tive que fazer uma operação e deixei o Mercado. Quando voltei não consegui vaga. Criaram uma feira aqui ao lado do Mercado na gestão do Chiquilito, quando foi um dia o Chiquilito resolveu acabar com a feira, por isso tenho raiva daquele Ramiro Negreiros porque ele nos prejudicou. Ele encheu um ônibus de marreteiros e foi lá com o Chiquilito dizer que eles eram produtores, para eles ficarem no local, em detrimentos da gente. Depois disso, para manter a minha família fiz um carro de mão bem grande, coloquei as frutas e fui vender la na rua Rio de Janeiro.
Zk – E essa banca de hoje aqui no Mercado do Um?
Braz – Esse mercado novo quem fez foi o Carlinhos Camurça. Depois de muita luta consegui essa banca onde estou até hoje vendendo frutas. Vender fruta sempre foi a minha praia.
Fonte: Sílvio Santos
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