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Silvio Santos

César Cordovil - O Surgimento de Porto Velho – Final


Recebemos em nossa redação há alguns dias, a visita do cartunista César Cordovil, autor das ilustrações da revista em quadrinhos "O Surgimento de Porto Velho", produção que gerou uma série de polêmicas entre os autores e os historiadores, por erros existentes no texto e, principalmente na página 13 sobre a data da criação do estado de Rondônia e a festa de sua instalação. Se não bastasse isso, os autores e produtores entraram numa disputa pela autoria dos personagens que fazem parte da historia contada na revista em quadrinhas. A Léia Leandro, em entrevista publicada neste jornal, afirma que o César Cordovil não poderia se intitular autor dos personagens porque eles já faziam parte do texto da peça de teatro que foi escrita muito antes da publicação da revista. Diante disso, o cartunista nos procurou exigindo direito de resposta, já que também foi acusado pela Léia de se apossar da idéia da publicação da revista "O Surgimento de Rondônia". "Ninguém pode se dizer autor de uma obra porque teve apenas a idéia. Para ser autor é preciso produzir o trabalho. As idéias estão no ar". Na realidade, antes de começarmos a gravar a entrevista com César, ele nos solicitou que deixássemos de lado a polêmica com a "Dona Léia", e que focássemos apenas à questão das correções e da distribuição e comercialização das revistas que em breve estarão à disposição do público. "Inclusive, estamos na Feira do Livro que está acontecendo no Bingool Clube, vendendo a revista para colorir e distribuindo de graça, a revista em quadrinhos com a correção da famosa página 13". César aproveita para falar dos projetos que está desenvolvendo, inclusive sobre o lançamento da revista em quadrinhos "O Surgimento de Rondônia", que deve estar pronta até o mês de novembro deste ano. Esperamos com essa entrevista com o César Cordovil, encerrar a polêmica sobre os erros e as brigas em torno da revista em quadrinhos com a história do surgimento de Porto Velho.
 

E N T R E V I S T A


Zk – Como você justifica a inclusão no texto da revista em quadrinhos que conta a história de Porto Velho, de datas incorretas?

César Cordovil – De fato os erros foram comprovados. Como se trata de fatos históricos, tivemos que providenciar a correção. A partir das observações que foram feitas pelo Lúcio Albuquerque providenciamos a correção da famosa página 13.


Zk – Você me falou de algumas dificuldades enfrentadas por vocês em relação ao projeto. Quais as dificuldades?

César Cordovil – Como se trata de uma produção que se propõe a contar a historia da cidade em quadrinhos, creio que para a maioria dos letrados, dos que conhecem a história de Porto Velho, os historiadores ou pessoas que tenham cabedal sobre o assunto, a meu ver eles criaram certo embaraço, porque devem considerar que quadrinhos, talvez não seja uma forma adequada de levar esse conhecimento principalmente às crianças. Na minha concepção a forma mais prática para você ensinar uma criança é através de quadrinhos do que simplesmente em livros onde prevalecem as letras. Desde o tempo das cavernas o homem conta a história da sua comunidade através de desenhos de suas aventuras de caça de pesca e de suas bravuras. A cultura só é formada na mente da sociedade através das imagens dos desenhos.


Zk – Você tá querendo me dizer que os historiadores têm preconceito contra as revistas em quadrinhos?

César Cordovil – Creio que sim. Talvez tenha acontecido isso com relação à nossa produção, porque não foi uma forma acadêmica que adotamos, foi uma forma mais popular.


Zk – Quanto à professora Yedda, que declarou que não tinha nada a ver com a revisão da revista. Por que vocês colocaram o nome dela no expediente da revista?

César Cordovil – É o seguinte, vi nos manuscritos anotados no roteiro da peça teatral, as correções e algumas observações e lá estava a assinatura Yedda e a dona Léia Leandro me disse que se tratava da professora Yedda Borzacov. Foi uma forma de homenagearmos a professora pela correção que ela fez no texto da peça de teatro, não vejo nenhum demérito nessa questão. Se ela acha que os erros detectados na revista poderiam denegrir sua imagem, essa não foi nossa intenção.


Zk – Essa polêmica causou o quê de prejuízo para vocês. A revista foi ou não recolhida?

César Cordovil – Na verdade não houve recolhimento porque não houve distribuição da revista. Depois da denúncia sobre os erros, nós providenciamos a correção, fato que está acontecendo até agora. Entramos com um pedido junto ao departamento de história da Unir que acreditamos vai aceitar fazer a correção das questões históricas. A questão gramatical já está totalmente corrigidas, erros de digitação também estão sendo sanados assim como a página 134 que já foi toda modificada e corrigida.


Zk – Qual o próximo passo?

César Cordovil – Nosso objetivo é fazer uma nova impressão. Só que não vamos mais fazer da forma como foi feita, vai ser uma impressão mais comercial.


Zk – Outra polêmica entre você e a Léia Leandro é sobre a publicação da revista em quadrinhos, O Surgimento de Rondônia. Ela diz que a idéia é dela e que você está dizendo que é sua e aí?

César Cordovil – O que existe e como ela deixou bem claro, é a idéia de fazer O Surgimento de Rondônia, acontece que essa idéia está aberta a qualquer um. Ninguém tem o monopólio das idéias. Você só é autor de alguma coisa se você produzir aquele material.


Zk – Já existe uma data para o lançamento da revista com a história do surgimento de Rondônia?

César Cordovil – Na verdade estamos em fase de produção, quero ver se até novembro desse ano a gente já possa ter algum material pronto pra começar a fazer a prospecção de parceiros. É um trabalho que já está em andamento.

Zk – A Léia também diz que você foi contratado para fazer os desenhos e que só depois entrou na sociedade e mais, na polêmica da página 13, ela afirma que foi você quem colocou aquelas crianças e o texto "errado" sobre a Lei que criou o Estado e o nome das pessoas presentes na solenidade de instalação. Diz também que as personagens já existiam na peça teatral e você diz são criação sua. Ela está falando a verdade?

César Cordovil – De fato ela havia me proposto para que eu fizesse o trabalho, como não chegamos a um acordo financeiro, até porque eu não a conhecia e nem conhecia a história da peça. Só depois que ela me passou o texto da peça foi que fizemos um contrato de parceria, até porque achei que seria bom fazer um trabalho desse nível. Nunca tinha feito nada regional, pensava em Brasil e Estados Unidos e tal e quando vi o texto da peça considerei um achado. Em relação aos personagens, a todo o enredo que envolve. Na verdade a história do Surgimento de Porto Velho em quadrinhos é uma adaptação da peça teatral que começa com o chamado Velho Pimentel sentado num canto e as figuras vão aparecendo. Numa revista em quadrinhos eu não poderia jamais começar dessa forma porque não teria nem pé nem cabeça, a forma de linguagem é outra, então tive que criar um clima, toda uma situação, até chegar o momento em que os personagens começam a contar a história de Porto Velho, então partimos de uma sala de aula. A peça teatral é destinada ao público em geral e a revista em quadrinhos é exclusiva para crianças e adolescentes. Se você fizer uma análise sobre os personagens, vai ver que os da revista são diferentes dos da peça teatral. Os nomes são os mesmos, dormentes, o polêmico Velho Pimentel etc...

Zk – Como você analisa o posicionamento de alguns historiadores que são contra a figura do Velho Pimentel?

César Cordovil - Acho que isso é totalmente irrelevante, não tem importância nenhuma pro contexto. Se a gente for fazer uma comparação. Se você pegar a história que foi contada sobre o Acre através da minissérie Amazônia e sobre a história da Madeira-Mamoré através da minissérie Mad Maria, você vai verificar que os autores dessas obras criaram personagens fictícios pra poder contar a história, como se trata de literatura é uma ficção. É claro que se você estiver baseando essa ficção em fatos reais, você vai ter que mesclar uma coisa com a outra, mas, isso não vai denegrir a imagem de ninguém. Os historiadores é que têm a obrigação de dizer se existiu ou não o Velho Pimentel. Acho que essa bola tem que ser passada pra eles. O que nós fizemos, foi retratar uma cultura que já existe, as pessoas dizem, o nome de Porto Velho surgiu através disso e disso, o Velho Pimentel, o Velho do Porto e tal.

Zk – Você nasceu aonde?

César Cordovil – Nasci na maternidade Darci Vargas em Porto Velho. Meu avô era o ferroviário Martins Domingos Cordeiro, trabalhou por muitos anos como marceneiro, foi chefe da carpintaria da Madeira-Mamoré.

Zk – E esse Cordovil?

César Cordovil – O Cordovil é por parte do meu pai. Pelo que sei é uma família de região de Manaus. Não tenho muito contato com eles porque só vi meu pai uma vez, fui criado pelos meus avós. O nome do meu pai é Agenor Cordovil. Nós moramos ao lado da serraria Santo Antônio que também era conhecida como serraria do Território e dizem que o administrador da serraria era um senhor chamado Cordovil, vai ver era nosso parente.


Zk – A revista Justine?

César Cordovil – Infelizmente a Justine não é uma revista para o público de Porto Velho é mais para os leitores do Rio de Janeiro e São Paulo, inclusive a história se passa nesses Estados. Estou com três números prontos, mas ainda não acho o momento de promover o lançamento.


Zk – Diante da polêmica sobre os erros detectados na revista o Surgimento de Porto Velho como está o relacionamento de vocês com os patrocinadores?

César Cordovil – Nós não enfrentamos nenhum tipo de crítica por parte dos patrocinadores. Na verdade, esse trabalho é um trabalho autoral e se resumiu apenas a uma pessoa que fui eu. Eu não tive uma equipe de apoio que fizesse uma revisão gramatical, uma revisão sobre a historia. Quando a Eletronorte nos pediu a "boneca" e o material pra ser impresso nós entregamos do jeito que estava. É claro que foi cogitado, "E se tiver erros?", eu disse se tiver erros nós vamos corrigir de acordo com as edições que vamos lançar.


Zk – Onde é que entram a Léia Leandro e o Cido, marido dela na história?

César Cordovil – Olha, a peça teatral foi escrita pelo Cido Pereira, está cadastrada, A dona Léia é uma produtora cultural, diga-se de passagem, uma produtora de mão-cheia, ela sabe trabalhar muito bem nessa área. Eu imagino que algumas idéias foram dela e ela repassou para o marido por isso, ela considera o trabalho como sendo dela, só acho estranho e não sei o porque, ela não se registrou como co-autora da peça teatral.


Zk – Depois daquela polêmica no dia do lançamento, como está o relacionamento entre vocês?

César Cordovil – Meu contato de fato é com a dona Léia que acredita no projeto. Semana passada estivemos na escola Maria Isaura onde fizemos um pequeno evento e distribuímos algumas revistas. Começamos a fazer esse trabalho naquela escola, porque foi uma escola que no ano passado sofreu problemas estruturais e achamos que poderia ser por ali, talvez as crianças que estivessem traumatizadas com o ocorrido através da revistinha pudessem se animar mais com o colégio. Agora estamos aguardando novos convites, estamos abertos a isso. Acredito que por mais uns trinta dias a gente já tenha a produção da revista em série pra poder fazer a venda.


Zk – Essa revista pode ser vendida?

César Cordovil – São duas situações. O livro ilustrado que foi patrocinado pela Eletronorte não pode ser vendido, porque foi feito com recursos voltados para a área social da empresa patrocinadora. Já, o livrinho pra colorir, esse pode ser vendido, porque é patrocínio do Ministério da Cultura e os Projetos aprovados pelo MinC, os recursos que são angariados são para que você possa produzir e vender o material. Estamos na Feira do Livro no Bingool Clube vendendo a revista para colorir e quem comprar leva de graça a revista em quadrinhos O Surgimento de Porto Velho.


Zk – Já corrigida?

César Cordovil – Não, essa correção só vai ficar pronta na segunda fase que já vai ser uma produção mais em série. O que vamos distribuir são apenas 5000 exemplares que foram patrocinados pela Eletronorte.


Zk – Quer dizer que vocês estão distribuindo as revistas com os erros históricos constatados pelos historiadores. Vocês não acham que isso é irresponsabilidade?

César Cordovil – Fizemos apenas a ERRATA da página 13 que é sobre a Lei de Criação do Estado. As demais correções, só na próxima edição que deve sair em breve.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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