Segunda-feira, 3 de maio de 2010 - 07h34
Na última sexta feira dia 30, consagrado ao ferroviário, fomos até a estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho, onde a empresa Santo Antônio Energia ofereceu café da manhã, para mostrar que a parceria com a prefeitura de Porto Velho e a Cooperativa dos Trabalhadores da EFMM está dando certo. De inicio podemos apreciar a máquina 18 percorrendo um pequeno trecho entre a rotunda e a estação de passageiros, apreciamos também o veículo ferroviário conhecido como Calamazoo trafegando totalmente recuperado, inclusive podemos visualizar seu motor zerado e uma Litorinas em fase final de recuperação. Por parte da prefeitura, dois galpões estão revitalizados. “Falta apenas alguns detalhes para a empresa nos entregar a obra”, disse o presidente da Fundação Iaripuna Altair Lopes.
Aproveitamos a oportunidade para ouvir alguns antigos ferroviários, que estavam participando das solenidades. Primeiro o senhor Oscar Lima Ferreira que não está muito otimista quanto aos trabalhos de recuperação da ferrovia. “Com esse pessoal que está trabalhando não sei se vão chegar até o fim”. Outro ferroviário foi o senhor José Bispo que se disse totalmente confiante na parceria entre a Cooperativa dos Ferroviários e a empresa Santo Antônio Energia. “O trabalho está saindo a contento, esperamos que dentro em breve tudo volte a funcionar como o desejado”.
Vamos às entrevistas:
OSCAR LIMA FERREIRA
Zk – Por gentileza, fale sobre sua infância?
Oscar – Estudei no Colégio Dom Bosco até a 5ª série, depois saí de lá fiquei uns tempos com a minha mãe e aos 17 anos, fui contratado para trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Zk – Contratado para fazer o que?
Oscar – Pra trabalhar na linha.
Zk – Como cassaco?
Oscar – Naquele tempo chamavam cassaco. Nosso serviço era capinação, substituição de dormente, roço largo, roço estreito, limpeza de vala e muitos outros serviços.
Zk – O senhor sempre ficou como cassaco ou foi promovido?
Oscar – Cheguei a feitor de linha turma fixa nível 7. Feitor é a mesma coisa que capataz, depois fui Mestre Linha. O Mestre Linha toma conta de todo o serviço. É o seguinte no trecho da linha férrea de Porto Velho a Guajará-Mirim existiam várias turma de manutenção e em cada uma um Feitor. O Mestre Linha era diferente, ele ficalizava o trabalho das turmas e se alguma coisa não estava dentro dos conformes ele chamava a atenção do Feitor que era o responsável por aquele trecho.
Zk – Como era a movimentação da Estrada de Ferro?
Oscar – Era uma maravilha, o cara embarcava em Guajará e Vila Murtinho borracha, castanha e levava mercadoria de Porto Velho até Guajará Mirim. Quase todo dia tinha trem subindo, fora o trem horário que eram dois por semana.
Zk - Como funcionava o trem horário?
Oscar – Era o seguinte: Saía de Porto Velho às sete horas da manhã, por volta das 11h chegava a Jacy Paraná aonde os passageiros, maquinistas, foguistas, condutor e todos que iam trabalhando almoçavam. Logo depois do almoço o trem partia com destino a Mutum Paraná, Abunã. Em Abunã a gente pernoitava, dormia e quando dava 7h da manhã do outro dia saia rumo a Vila Murtinho, Colônia do Iata e finalmente Guajá-Mirim aonde chegava por volta das 17h. Esse era o trem horário.
Zk – É verdade que o trem parava para beber água. Que história é essa?
Oscar – Não tem esse negócio de trem beber água. O que acontecia era que botavam água na máquina.
Zk – O senhor sabe dizer de quantos em quantos quilômetros o trem parava para colocarem água na máquina?
Oscar – Depende. Tinha acampamento de 15, 20 km.
Zk – O senhor lembra o nome dos condutores eu faziam a viagem entre Porto Velho e Guajará?
Oscar – Rapaz tinha um bocado, lembro do Zé Sobrinho, Armanda Holanda conhecido como Periquito, seu Heráclito e o Valdemar Rodinha o que lembro são esses.
Zk – E os maquinistas?
Oscar – lembro do Chico Preto que era o primeiro, do Ângelo que era o irmão do Denny, do Jorge que é o pai do Nazareno, Sanin, Canastro, Aleluia.
Zk – Onde o senhor estava naquele dia 10 de julho de 1972 quando o trem deu o último apito?
Oscar – Estava trabalhando no 5º Batalhão de Engenharia s Construção.
Zk – O senhor acha que a madeira Mamoré tinha que parar de funcionar?
Oscar – Na minha concepção, acho que não devia, mas, eles quiseram ninguém podia impedir. Inclusive o 5º BEC não é culpado dessa paralisação como muita gente diz, eles apenas cumpriram ordem superior.
Zk – Descreva a reação de vocês ferroviários naquele dia fatídico, quando anunciaram a paralisação da Madeira Mamoré?
Oscar – Foi muito triste, nós crescemos ouvindo e vendo a máquinas, os trens trafegando pelos trilhos da Estrada da de Ferro o apito da chegada ou da partida e os apitos nos dizendo que estava na hora de sair de casa para o trabalho, o dia-a-dia com os companheiros, tudo aquilo de repente deixou de existir. Muito de nós chorou feito criança. Outros apenas lamentavam e todos estávamos tristes de verdade. Foi muito dolorido. As coisas acontecem e piores vão ficando.
Zk – Depois daquele dia o trem voltou a funcionar?
Oscar – No tempo que o governador era o Teixeirão o trem voltou a trafegar até o quilometro 25 que era o acampamento chamado de Teotônio, mas, foi por pouco tempo.
Zk – É verdade que as peças usadas na reposição das máquinas e dos vagões eram todas feitas na oficina da Madeira Mamoré?
Oscar – Não posso garantir que eram todas, porque você sabe, eu vivia na linha, mas, a maioria das peças era todas feitas pelos operários da Estrada de Ferro.
Zk – Para encerrar. O senhor acha que dessa vez o trem vai voltar a correr pelos trilhos da Estrada de Ferro madeira Mamoré?
Oscar – Estamos pedindo a Deus que vá pra frente. Nós os antigos temos vontade e torcemos que dê certo. Por enquanto é só o que tinha a dizer.
JOSÉ BISPO DE MORAIS
Zk – Como o senhor está vendo essa nova arrancada na reativação da Madeira Mamoré?
José Bispo – Há muito tempo que vem dinheiro parta reconstruir a Madeira Mamoré e esse dinheiro sempre sumiu, ou da parte da prefeitura ou da parte do governo do estado. Agora o atual prefeito procurou reativar a ferrovia e a Santo Antônio Energia tomou conta dos trabalhos e por isso acredito em sua recuperação.
Zk – O que já está recuperado?
José Bispo – Já recuperamos o serviço de roço, capina estreita do quilômetro 7 até o quilômetro 2. As máquinas que estão jogadas na sepultura delas em frente à Candelária também já estão limpas.
Zk – E o que vão fazer com a sucata dessas máquinas?
José Bispo – Vão passar óleo em todas as peças para servir de relíquia, para os turistas verem como ficaram as peças que ajudaram no progresso dessa região e para os estudantes fazerem seus trabalhos. Aquilo que estava morto ressuscitou novamente graças à força da Santo Antônio Energia.
Zk – Qual o seu nome completo. Desde quando está na Madeira Mamoré?
José Bispo – Meu nome é José Bispo de Morais. Entre na Madeira Mamoré no dia 12 de junho de 1953 estava com 18 anos.
Zk – Fale sobre sua trajetória como ferroviário da EFMM?
José Bispo – Fui trabalhador da manutenção da Linha, fui bagageiro, fui condutor, fui telefonista, fui telegrafista e terminei sendo agente da estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Zk – Quer dizer que o senhor conhece a ferrovia palmo a palmo?
José Bispo – Conheço quilôlemetro prol quilômetro, estação por estação e os acampamentos de turma.
Zk – Quantos eram os acampamentos de turma ao longo da ferrovia?
José Bispo – Eram 24 acampamentos de Porto Velho a Guajará. Em cada acampamento tinha 10 homens mais o feitor. De 20 em 29 quilômetros tinha uma turma que dava conta de conserva à linha.
Zk – E as caixas d’água ao longo da linha?
José Bispo – Era o seguinte: de 30 em 30 quilômetros tinha que ter uma caixa d’água.
Zk – Naquele dia 10 de julho de 1972 o senhor estava aonde?
José Bispo – Eu não quis assistir. Tinha certeza que ia dar um colapso e ia morrer na hora porque não iria suportar assistir aquela que era o coração de Rondônia parar. Fui embora pra Jaru e passei 2 meses na tentativa de esquecer a despedida triste da Madeira Mamoré.
Zk – Tem uma data para o trem voltar a percorrer o trecho entre Porto Velho e Santo Antônio?
José Bispo – Não tem! A limpeza está sendo concluída, faltam apenas 2 km, mas, a recuperação dos dormentes é difícil porque precisamos de 10 mil dormente para colocar daqui a Santo Antônio.
Fonte: Sílvio Santos
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