Segunda-feira, 11 de maio de 2009 - 06h25
Dona Maria Serrati é nossa conhecida de longas datas. Para ser mais exato, desde quando fazíamos o curso ginasial (hoje ensino fundamental), no colégio Presidente Vargas que funcionava no prédio do hoje Instituto de Educação Carmela Dutra. Dona Maria Serrati completou 85 anos de vida no último dia 4 e seus filhos, netos, genros e noras, festejaram com uma grande festa. Ontem com certeza, pela passagem do dia das mães, mais uma vez recebeu os carinhos de seus familiares. Acontece que há algum tempo estávamos decididos a entrevistar dona Maria para que ela nos falasse sobre o cargo de Mestra de Disciplina, função que exerceu durante muitos anos na Escola Normal Carmela Dutra e no Colégio Presidente Vargas. A Chefa de Disciplina era responsável por manter a ordem dentro da sala de aula na ausência do professor. “Nunca fui de dar muita trela para aluno”. Mesmo sendo considerada uma das mais “ranzinzas” Chefas de Disciplina os alunos, todos, tinham verdadeiro respeito e adoravam dona Maria Serrati. As vezes, a turma fazia algazarra só para enfezar dona Maria, que também não aliviava. “Nós estávamos ali apenas para complementar à educação. A verdadeira educação deve ser dada em casa pelos pais”. Assim sendo, escreveu não leu dona Maria mandava o indisciplinado para casa. O interessante, era que ela não entregava ninguém para a diretoria, apenas mandava o indisciplinado sair da sala de aula. “Não quer estudar vai pra casa”.
Na entrevista que segue, vamos ficar sabendo sobre a Porto Velho antiga, porque é preciso dizer, que dona Maria Serrati é porto-velhense de nascimento. “Fui criada pela minha madrinha, pois quando meus pais morreram, eu tinha cinco anos de idade”. Dona Maria ao ser adotada por sua madrinha passou a ajudá-la na banca de venda de mingau no Mercado Municipal. “Chegávamos ao mercado por volta das cinco horas da madrugada”. Em vista desse trabalho conheceu a feira livre que funcionava onde hoje é a praça Getúlio Vargas que com a inauguração do palácio do governo, foi para a rua do Coqueiro (hoje Euclides da Cunha), entre o Clube Internacional (hoje Ferroviário) e o Serviço de Abastecimento Luz e Força do Território – Salft (hoje Ceron) e depois foi para onde funciona o Mercado Central entre a Farquar e a Euclides da Cunha.
Essas e outras histórias da Porto Velho antiga, você fica sabendo na entrevista que segue.
Em nome dessa senhora, que juntamente com seu esposo Afonso Serrati criou sete filhos, e hoje desfruta do carinho de todos os seus familiares, queremos homenagear todas as Mães de Porto Velho.
E N T R E V I S T A
Zk – Seu nome completo?
Maria Serrati – Maria do Carmo Zelada Serrati. Nasci em Porto Velho que na época pertencia ao estado do amazonas, por isso, sou amazonense, no dia 04 de maio de 1924, portanto, acabo de completar 85 anos de idade.
Zk – A senhora cresceu morando aonde?
Maria Serrati – Ali onde hoje tem aquelas casas dos militares, nas imediações da rua José Bonifácio, onde morava minha mãe de criação, minha madrinha Clarinda.
Zk – E os seus pais?
Maria Serrati – Perdi meus pais muito cedo. Um morreu quando eu tinha quatro anos (pai) e ou outro quando tinha cinco anos de idade (mãe).
Zk – Como foi sua infância?
Maria Serrati – Não tenho do que reclamar, minha infância foi boa porque graças a Deus, encontrei uma senhora que me acolheu quando minha mãe morreu.
Zk – Quantos irmãos a senhora tinha quando ficou órfã?
Maria Serrati - Éramos quatro irmãos. Essa senhora dona Clarinda que era minha madrinha me acolheu. Acho que as pessoas que moram em Porto Velho há muito tempo, vão lembrar da dona Clarinda.
Zk – Por que a senhora acha que a dona Clarinda vai ser lembrada por nossos leitores que vivem em Porto Velho desde a década de 1940/1950?
Maria Serrati - Porque ela era bastante conhecida em virtude de vender mingau no mercado municipal, aquele que pegou fogo e agora vão inaugurar reformado.
Zk – A senhora também fazia parte da equipe da dona Clarinda na venda de mingau no mercado. De que maneira?
Maria Serrati – É claro que a gente ajudava. Ai se não ajudasse! O mingau era feito em casa. Mingau de milho que era mais conhecido como mungunzá e chá de burro, de arroz, tapioca, banana e outros. Naquele tempo a gente tinha que fazer tudo.
Zk – Como fazer tudo?
Maria Serrati – Acontece que não existia a facilidade de hoje. Hoje você vai ao supermercado e encontra praticamente tudo pronto. Naquele tempo a gente tinha que ralar a castanha, tinha que ralar o milho. Tinha que ficar na espera do leiteiro que passava de madrugada, tinha que catar o arroz e descascar as bananas.
Zk – Vamos falar mais um pouco sobre o trabalho que dava, fazer mingau naquele tempo?
Maria Serrati - Por exemplo, não existia ralo para vender nas tabernas, então dona Clarinda encomendava um ralo de ferro que era feito nas oficinas da Madeira Mamoré. Se a gente quisesse ter um ralo normal digo de flande, tinha que fazer.
Zk – Como se fazia um ralo de flande para ralar castanha?
Maria Serrati - Agente aproveitava a lata seca de óleo de cozinha e fazia vários furos com um prego, dependendo o que se queria ralar, podia ser prego fino ou grosso. Além da lata de óleo a gente usava, dependendo do tamanho do ralo, até lata de banha que naquele tempo era muito usada para fazer fritura. Outra, o milho para o mingau tinha que ficar de molho por algumas horas para poder amolecer direito para receber o tempero do mingau. Até porque, naquele tempo, só existia fogão a lenha ou fogareiro de carvão.
Zk – Vocês chegavam a que horas no mercado?
Maria Serrati - A gente chegava ao mercado por volta das cinco horas da madruga. Acontece que só trabalhávamos com mingau e café, nem tapioca a gente fazia, era só o mingau e o café com pão. Pão que a gente comprava na padaria do Raposo que ficava ali pertinho.
Zk – Onde a senhora estudou?
Maria Serrati – No Grupo Escolar Barão do Solimões. Meu primeiro professor foi o Carlos Costa. Foi assim, primeiro estudei no Colégio Maria Auxiliadora e depois no Barão com o Carlos Costa.
Zk – Antes de morar na José Bonifácio vocês moram em outro local?
Maria Serrati – Minha madrinha tinha uma casa perto do Maria Auxiliadora e do Hospital São José. Essa casa minha madrinha vendeu para o governo, justamente para o terreno fazer parte do terreno do hospital São José.
Zk – Até que idade a senhora morou com sua madrinha e mãe de criação?
Maria Serrati – Até me casar, com 17 anos de idade.
Zk – Com quem?
Maria Serrati – Com o enfermeiro do hospital São José Afonso Serrati. Vivemos 42 anos juntos, aliás, até ele morrer.
Zk – Como foi o namoro?
Maria Serrati – Naquele tempo a gente não namorava não. Não era como hoje, a gente se encontrava, conversava um pouquinho, ia embora pra casa, a velha era muito severa, abria o olho. Pegar na mão era difícil, beijar nem pensar. Naquele tempo não tinha homem saliente não, hoje é que tem. Até os menininhos hoje em dia são salientes.
Zk – Naquele tempo a senhora freqüentou as festas nos clubes sociais que existiam?
Maria Serrati – A gente ia pro Ypiranga quando era moça, hummm! Que tempo bom, o Ypiranga era de madeira e ficava de frente para a rua Farquar em frente à casa que a gente chamava de “Paraíso”. Tinha também o clube Internacional, mas, lá eu não ia não.
Zk – Vamos falar com a dona Maria Serrati a Chefa de Disciplina. Como foi que a senhora conseguiu ser contratada pelo governo do território?
Maria Serrati – Foi dona Marize Castiel quem conseguiu. Ela se dava muito com meu irmão Fernando Zelada aí ele pediu emprego pra mim, logo quando inaugurou a Escola Normal Carmela Dutra e ela foi me chamou. Graças a Deus trabalhei na educação até me aposentar.
Zk – Qual a atribuição de uma chefa de disciplina?
Maria Serrati – Quando o professor estava em sala de aula nenhuma. Agora, quando ele saia, a gente assumia. Nossa missão era não deixar que os alunos fizessem muita bagunça, botava todo mundo para estudar o que o professor havia passado. Quando o aluno não obedecia, pelo menos no meu caso, eu dizia: Você não quer nada com o estudo, pode ir pra casa meu filho.
Zk – A senhora lembra algum aluno que passou pela sua fiscalização?
Maria Serrati – Os irmãos Sadek, Vitor, Chico, Fred e Fernando, Manelão essa da Banda do Vai Quem Quer; Rogério Weber, Haroldo Dunda, você. Foi tanta gente.
Zk – Manelão?
Maria Serrati – Aquele era um capeta!
Zk – A senhora chegou a brincar carnaval em algum bloco?
Maria Serrati – Não, nunca brinquei carnaval em bloco, cheguei a brincar carnaval no clube, minha madrinha levava a gente. Aliás, a Vitória esposa do Capitão Esron fez um bloco e me convidou e eu fui. Naquele tempo as orquestras eram muito boas e a gente brincava um carnaval sadio.
Zk – O seu marido Afonso Serrati, era Ypiranguista e foi até diretor do clube se não me engano. A senhora costumava ir ao estádio de futebol, assistir o time do Ypiranga jogar?
Maria Serrati - Realmente o Afonso era muito ligado ao Ypiranga eu não. Nunca fui assistir jogo do Ypiranga, afinal de contas alguém tinha que cuidar dos meninos.
Zk – Quantos filhos vocês tiveram?
Maria Serrati – São sete filhos: Marlene, Raimundo que trabalha nos Correios, Pedro, Marli, Marilene, Paulo, Mafalda. Quatro mulheres e três homens.
Zk – Como era a Porto Velho no tempo da sua juventude?
Maria Serrati - Era uma cidadezinha muito pequena, de um povo aconchegante, onde todo mundo conhecia todo mundo. Não passava da rua Joaquim Nabuco e o mais longe no sentido sul, era o bairro do Mocambo onde tinha o cemitério dos Inocentes, o Colégio Maria auxiliadora e o hospital São José. A feira livre era onde hoje está a Praça Getúlio Vargas.
Zk – Quando a feira funcionava ali, já tinha o palácio do governo?
Maria Serrati – Não, foi justamente quando foram inaugurar o palácio que tiraram a feira da frente do Mercado Municipal e ela foi para uma rua que depois ficou conhecida como rua do Coqueiro e hoje é a Euclides da Cunha, entre o Internacional (hoje Ferroviário) e a Usina de Luz (Ceron) e depois, foi para onde hoje é o Mercado Central entre a Farquar e a Euclides da Cunha.
Zk – E os comerciantes?
Maria Serrati - Os grandes do comércio eram: O seu Tufy Matny que vendia fiado para os funcionários do Território Federal do Guaporé, tinha o comercio da família Chaquiam, seu Abdon, Padaria do Raposo, Miguel Arcanjo, a Casa Saudade de T.T. Dias & Cia e os Resky do cinema e da padaria.
Zk – E carro, ônibus, quais eram os meios de transportes?
Zk – Só existia Jipe e algum caminhão. O transporte de carga mesmo era feito em carroças puxadas a boi ou burro. Tinha os carregadores de carrinho de mão como o Chico Ceará e os que carregavam na cabeça mesmo. Os carros de Praça (táxi) eram jipes e depois rurais. Tinha um detalhe, até meados da década de 1950 a avenida Sete de Setembro terminava na praça Jonathas Pedrosa e recomeça a partir da Gonçalves Dias, é por isso que existe a Barão do Rio Branco, porque entre a praça Jonathas Pedrosa e a Gonçalves Dias era um buraco só, aliás era um igarapé.
Zk – Como vocês as moças se divertiam naquele tempo, quando os clubes não tinham programação?
Maria Serrati – A gente ia para a igreja aos domingos. No mês de maio tinha arraial em frente à catedral assim como no mês de outubro, a gente não tinha muita opção. Aos domingos tinha o cinema no cine Brasil ou no Resky isso para quem gostava e depois era ficar passeando na praça Rondon.
Zk – Voltando ao tempo de Chefa de Disciplina. A senhora tinha fama de durona, não era?
Maria Serrati – Eu não dava muita confiança a aluno não. Não quer uma coisa meu filho, vai, vai, vai embora pra tua casa. Tem pai, tem mãe, vai aborrecer pra lá. O que nós dávamos ali era apenas o complemento, a educação deve ser dada em casa. Tinha que exigir respeito. Graças a Deus não tive problema com aluno.
Zk – A turma gostava de ver a senhora com raiva. Quando a senhora se aproximava a gente dizia, lá vem dona Maria?
Maria Serrati - (Sorrindo muito) – Aí corria tudo, só faltava quebrar as canelas. Eita meninos! Eu não tava nem aí.
Zk – Qual outra função de uma chefa de disciplina?
Maria Serrati - Quando da parada de Sete de Setembro a gente tinha que acompanhar o pelotão da nossa classe. Aliás, naquele tempo os desfiles de Sete de Setembro eram muito bonitos, era uma verdadeira disputa entre o colégio Maria Auxiliadora e a Escola Normal Carmela Dutra e Colégio Dom Bosco. As diretoras colocavam até alegorias. Era bonito ver os meninos e meninas em suas fardas de gala.
Zk – A senhora mora na rua Brasília desde quando?
Maria Serrati – Moro aqui na rua Brasília desde o final da década de 1960. Na copa do mundo de 1970 já morava aqui. Quando viemos pra cá, não passava nem carroça, era um lamaçal só. Ao lado ficava a estação de rádio da Cruzeiro do Sul (hoje é o hotel Vila Rica)
Zk – Como foi criar sete filhos e permanecer aos 85 anos em plena forma?
Maria Serrati – Com a graça de Deus da. Era uma correria porque tinha que trabalhar e cuidar dos meninos. Tinha que lavar roupa a noite, naquele tempo era dois expedientes.
Zk – O que a senhora tem a criticar na educação colegial de hoje?
Maria Serrati – naquele tempo para os alunos entrarem em sala de aula, formavam fila e cantavam hinos, enquanto estiava a bandeira brasileira. No Sete de Setembro os meninos enfeitavam suas bicicletas. Os alunos respeitavam mesmo os símbolos nacionais e territoriais. Hoje é tudo de qualquer maneira, não se respeita mais nada, ninguém tem civismo. Mudou pra pior. Naquele tempo tinha dona Marize Castiel.
Zk – No começo da nossa conversa a senhora disse que não era muito chegada a programação religiosa. Não pertencia a nenhuma irmandade. E agora?
Maria Serrati - Quando eu era jovem não me ligava muito nesses assuntos e movimentos da igreja, hoje não. Hoje sou da irmandade Legião de Maria e do Coração de Jesus na paróquia da Catedral.
Zk – Agora a senhora vive mais em sua chácara do Candeias do Jamari. Como é a vida nessa chácara?
Maria Serrati – Não é bem assim, às vezes vou aos finais de semana. Gosto muito de dormir lá, porém, de uns tempos para cá, em virtude da violência, esse pessoal que invade as casas, já quase não durmo lá. Minha chácara é pequena, 70 X 70 inclusive to querendo vendê-la, já estou com a idade avançada.
Zk – Então vamos vender sua chácara. O que tem lá?
Maria Serrati – Tem muita fruteira. Cheguei a criar até gado, porco, carneiro, mas, com esse negócio da violência parei. Ainda crio galinha caipira. Quem se interessar é nos procurar aqui na rua Brasília sub esquina da Carlos Gomes. É perguntar pela dona Maria Serrati que todo mundo conhece.
Zk – Para encerrar. Como é que está a saúde dessa mãe de 85 anos?
Maria Serrati – Graças a Deus. Minhas doenças são corriqueiras, gripe, reumatismo que hoje até os meninos tem. Aliás, tomei a vacina da gripe e arriei. Em suma, sou uma mulher sadia. To vendendo também essa casa. To pedindo R$ 300 mil.
Zk – Feliz dias das Mães?
Maria Serrati – Coloca aí que estou vendendo minha casa da rua Brasília por R$ 300 mil. O terreno tem 9,5 X 40m. São três quartos, sala de visita, sala de jantar, cozinha, e área coberta com churrasqueira e lavabo. É nessa área que a família se reúne para festejar as datas importantes.
Fonte: Sílvio Santos / www.gentedeopiniao.com.br / www.opiniaotv.com.br
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